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Channel: Ciência Low Carb
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Reflexões sobre a postagem anterior

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Quando escrevi a postagem anterior, denominada Flora intestinal - muito além dos carboidratos, pensei por um momento que seria uma postagem pouco popular. Afinal, é acima de tudo uma exposição de minhas dúvidas, de hipóteses novas e não testadas e temas complexos.

Me enganei. Nunca, em toda a história do blog, houve tantos acessos em um único dia. O que é mais relevante ainda por se tratar de um feriadão (quando tipicamente os acessos caem pelo menos 30%).

Minha interpretação é 1) meus leitores são, em sua maioria, pessoas sofisticadas, que apreciam um texto mais complexo; 2) as mesmas dúvidas que me inquietam, parecem inquietar muitas pessoas.

No entanto, fiquei preocupado com o contingente diário de novos leitores do blog que, ao lerem aquela postagem, podem sentir-se perdidos.

Então, como complemento da postagem precedente, ofereço aqui minhas reflexões e meu atual pensamento; se a portagem prévia teve um viés de análise, esta pretende ser uma síntese.

1) A insulina segue sendo um hormônio fundamental no particionamento das calorias em direção ao armazenamento. Estratégias para reduzi-la são, portanto, de grande utilidade (restrição de carboidratos), especialmente nas pessoas em que a causa do ganho de peso foi justamente o excesso de doces e farináceos;
2) Uma dieta bastante restrita em carboidratos - cetogênica em alguns casos - continua sendo uma intervenção terapêutica extremamente útil e eficaz para obesidade, síndrome metabólica e diabetes;
3) Levar em conta a evolução da espécie como uma base sobre a qual devemos estruturar a dieta (o que não significa tentar "comer como um homem das cavernas") e como uma forma de avaliar a plausibilidade das hipóteses dietéticas continua sendo essencial;
4) O esquema básico da dieta continua sendo, como consta nesta postagem, o seguinte:
"Não há necessidade de complicar com fases, regras detalhadas, etc. aquilo que, no fundo, é simples:
1) Cortar açúcar;
2) Eliminar grãos (especialmente trigo e soja);
3) Evitar raízes ("tubérculos", em especial batatas) se você precisa perder muito peso (caso contrário, não);
4) Optar por comida de verdade;
5) Não consumir azeites extraídos de sementes;
6) Perder o medo da gordura natural dos alimentos;
Pessoal, no fundo é só isso!! Precisa de um doce? Coma uma fruta.
Tá difícil perder peso? Elimine um pouco as frutas e/ou batatas. Cada um é diferente. Cada um precisa testar em si mesmo o que funciona, e aquilo que lhe torna possível seguir com o estilo de vida de forma continuada.¨
Isto não é comida de verdade:

Isto é comida de verdade:


5) Páleo não é necessariamente low carb. É possível fazer páleo com abundância de frutas e raízes. Quem já tem uma certa idade, talvez se lembre de um comercial que dizia "existem mil maneiras de preparar Neston. Invente a sua". Pois então, existem 1000 maneiras de comer páleo.

  • Ovo-lacto-vegetariano? Corte o açúcar e os farináceos; foque-se, além das saladas, em abacate, coco, nozes, castanhas, e suplemente com ovos e laticínios;
  • Responde mal com gordura saturada? Faça uma versão "mediterrânea" da dieta: foque-se em abundância de vegetais, peixes e frutos do mar, azeite de oliva, nozes e castanhas, e laticínios como iogurte low fat - além de vinho tinto;
  • Não quer perder peso? Apenas exclua o açúcar e os farináceos e evite alimentos processados, mas consuma frutas e raízes sem restrição, além do restante (carnes, frutos do mar, ovos e laticínios fermentados);
  • Quer perder peso rapidamente? Faça páleo LCHF (low carb, high fat), sem frutas, mas com muita salada, ovos carnes, peixes e aves com sua gordura natural e laticínios full fat;
  • Tem problemas de auto-imunidade? Além do glúten, remova completamente o que cresce em vagens, laticínios e ovos (e, eventualmente, algumas outras coisas: clique aqui para ler o protocolo auto-imune).
Essas são apenas algumas variações possíveis. Monte a sua, experimente - não somos todos iguais - só mesmo o governo poderia acreditar que há uma diretriz alimentar que vale para todos.

O que a postagem anterior ACRESCENTA é a possibilidade de que a flora intestinal esteja fortemente envolvida com a regulação hormonal do peso (set point). Esta flora alimenta-se das fibras solúveis presentes nos vegetais da dieta.

Em um primeiro momento, uma dieta de baixíssimo carboidrato exerce seus efeitos benéficos sobre o metabolismo reduzindo a insulina, a glicemia e os triglicerídeos. Além disso, a retirada do açúcar e da farinha ajuda a eliminar espécies patogênicas e pró-inflamatórias do intestino, cuja presença contribui para a resistência à insulina e leptina. No entanto, acaba eliminando também as fibras solúveis e o amido resistente (um tipo de amido que não pode ser digerido, sobre o qual falarei mais no futuro) que alimentam a flora intestinal saudável.

Assim, o que se postula é que uma dieta de muito baixo carboidrato (menos de 40g/dia) seja uma estratégia extremamente útil em um primeiro momento para alguns casos específicos (diabetes e/ou síndrome metabólica), mas que possa não ser ideal no longo prazo. O consumo abundante de vegetais (incluindo smoothies de hortaliças com frutas de pouco açúcar) e de frutas de baixa frutoseé uma estratégia que pode ser universalmente adotada, com vistas a nutrir uma flora intestinal anti-inflamatória. Para aqueles que já toleram quantidades maiores de carboidratos sem ganho de peso e sem hiperglicemia, raízes como a batata doce, a batata inglesa e a mandioca poderiam ser consumidos. Mas, ao fim e ao cabo, há que experimentar.

Food for thought...

Pirâmide Alimentar - a vitória da política sobre a ciência - Guest Post

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Artigo escrito por Cíntia Vieira Souto, professora da Faculdade Portoalegrense (FAPA), historiadora do Ministério Público do Rio Grande do Sul (e minha esposa!).


O artigo original pode ser conferido aqui: http://ofatoeahistoria.webnode.com/news/pir%C3%A2mide-alimentar-a-vitoria-da-politica-sobre-a-ci%C3%AAncia/ comentários podem ser feitos diretamente na página do artigo original.



07/01/2014 08:09


Cíntia Vieira Souto*

Vivemos numa sociedade absurdamente dependente de ciência e tecnologia, na qual quase ninguém sabe nada sobre ciência e tecnologia.
Carl Sagan (1934-1996)

A pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) do Ministério da Saúde de 2013 aponta que 51% dos brasileiros com mais de 18 anos estão acima do peso. Em 2006, quando essa pesquisa começou a ser feita o índice era de 43% [1]. Mas não é necessário recorrer à estatística. Basta circularmos no centro de Porto Alegre e veremos grande número de pessoas – homens, mulheres, adolescentes, crianças – acima do peso. Agora, pegue algumas fotos da infância dos seus pais ou dos seus avós. Dificilmente haverá algum obeso nessas fotos. O estranho é que no tempo dos nossos pais não havia produtos light ou diet, tampouco academias de ginástica. Há algo muito errado com a nossa alimentação. E isso tem uma história relativamente recente.



Basta consultarmos um nutricionista, um endocrinologista ou comprarmos uma revista tipo Boa Forma para tomar contato com a pirâmide alimentar. Até na escola as crianças estudam a onipresente pirâmide. Basicamente, ela nos diz para comermos uma maior quantidade de carboidratos (pão, arroz, massa, cereais), localizados na base, e comer pequenas quantidades de gordura, localizada no topo. No meio, ficam as frutas, verduras, carnes (magras), ovos, leite.

Mas qual a origem da pirâmide alimentar? A origem está relacionada a uma ideia que se transformou em um dogma: a de que a gordura faz mal para a saúde.

Durante a primeira metade do século XX, os nutricionistas estavam mais preocupados com desnutrição do que com alimentação excessiva. Depois da Segunda Guerra mundial, contudo, uma epidemia de doença cardíaca chamou a atenção das autoridades de saúde nos Estados Unidos. O bioquímico Ancel Keys, da Universidade de Minnesota, foi um dos primeiros a sugerir que a gordura na dieta poderia ser a causa da doença cardíaca [2]. Em 1956, Keys iniciou o “Estudo dos Sete Países”, no qual seriam avaliados 130 mil homens de meia idade na Iugoslávia, Grécia, Itália, Finlândia, Holanda, Japão e Estados Unidos. Os participantes eram submetidos a exames no início do estudo e tinham sua saúde periodicamente avaliada. Os primeiros resultados foram publicados em 1970 e, após, a cada cinco anos, à medida que os participantes envelheciam e faleciam. Os resultados foram: 1) o nível de colesterol estava relacionado à doença cardíaca; 2) a quantidade de gordura saturada na dieta aumentava o nível de colesterol e, logo, de doença cardíaca; 3) a gordura monossaturada protege contra doença cardíaca [3].

O problema desse estudo é que ele foi concebido para confirmar uma hipótese pré-estabelecida. Keys considerava que a gordura na dieta causava doença cardíaca. Então ele escolheu sete países cujos dados confirmariam essa hipótese. Segundo Gary Taubes, se ele tivesse incluído a França e a Suíça, por exemplo, sua hipótese cairia por terra [4]. O estudo causou algum impacto, mas havia controvérsias na comunidade científica. Muitos pesquisadores questionavam os resultados da pesquisa e discordavam abertamente da tese de que a gordura causava problemas cardíacos.

Paralelamente, independente do mundo científico, se desenvolvia no mundo ocidental e nos Estados Unidos em particular, um movimento anti gordura na alimentação. Relacionado à contracultura da década de 1960, esse movimento criticava o consumo excessivo de bens materiais, bem como de carne e do tradicional american breakfast à base de bacon e ovos [5].

Foram os políticos, todavia, que transformaram essa ideia em um dogma e mudaram a política nutricional dos Estados Unidos e, consequentemente, do mundo ocidental. Em 1969 foi criado, sob responsabilidade do senador George MacGovern, o Select Committee on Nutrition and Human Needs (Comitê em Nutrição e Necessidades Humanas) com o objetivo de erradicar a má nutrição. Esse trabalho terminou em 1970, mas os dois membros principais do comitê, Marshall Matz e Alan Stone, advogados, decidiram se ocupar dos excessos alimentares. A partir de 1976, um membro do comitê, Nick Mottern, jornalista, recebeu a tarefa de escrever um guia com diretrizes nutricionais. “Mottern, que não tinha nenhuma formação cientifica e nenhuma experiência em escrever sobre ciência, nutrição, saúde, acreditava que suas diretrizes dietéticas iriam produzir uma ´revolução na dieta e agricultura desse país`” [6]. Ele adotou a ideia da gordura como o principal vilão da dieta, ignorando as controvérsias científicas em torno da tese.

Em 14 de janeiro de 1977, foi publicado o Dietary Goals for the United States, documento que regula o que comemos até hoje. A recomendação principal era de cortar a ingestão de gordura para 30% do total de calorias consumidas e de gordura saturada para 10%. A gordura foi comparada ao cigarro e a indústria de carnes e ovos foi acusada de se comportar como a indústria tabagista, vendendo produtos nocivos somente para obter lucros. Muitos cientistas e entidades protestaram contra as diretrizes. Mas, em geral, eram acusados de estarem “trabalhando” para a indústria.

As diretrizes poderiam ter sido esquecidas com o encerramento do comitê MacGovern no final de 1977. Mas duas agências federais levaram a questão adiante. A primeira foi a USDA (United States Departamento of Agriculture). Carol Foreman, secretária assistente do USDA, consultou a NAS (National Academy of Science) a respeito das diretrizes. Quando seu presidente Philip Handler, disse-lhe que elas não faziam sentido e não tinham base científica, ela ignorou e procurou alguém com opinião contrária. Consultou os ex-membros do comitê MacGovern que indicaram Mark Hegsted, da Harvard Scholl of Public Health, um entusiasta das diretrizes. Hegsted foi contratado por Foreman. O resultado foi a publicação em fevereiro de 1980 do Dietary Guidelines for Americans, quase idêntico às diretrizes de 1977. Novamente houve reações, mas, dessa vez, a imprensa (The Washington Post, The New York Times) saiu em defesa do novo paradigma [7].

Nos próximos anos, cerca de meia dúzia de estudos foram feitos para verificar a hipótese de que a gordura causava doenças cardíacas. Nenhum desses estudos provou que o baixo consumo de gordura protege de doenças cardíacas. Um desses estudos, feitos pelo NHLBI (National Heart, Lung and Blood Institute) testava o efeito de uma droga, a colestiramina. Os pesquisadores concluíram que essa droga baixava o colesterol e diminuía, muito pouco, o número de mortes por doença cardíaca. Foi nesse ponto que os defensores das diretrizes se fixaram: se uma droga que baixa o colesterol diminui mortes por doença cardíaca, diminuir a ingestão de colesterol deve também diminuir as mortes por doença cardíacas (ignorando as diferenças entre os dois processos).

O NHLBI desencadeou uma massiva campanha a favor da tese. Em março de 1984, a capa da Time mostrava um prato com ovos no lugar de olhos e bacon no lugar da boca, com a palavra “colesterol” como título. O pesquisador do NHLBI diz na reportagem: os resultados “indicam fortemente que quanto menos colesterol e gordura na sua dieta, mas reduz-se o risco de doença cardíaca” [8].



Assim, estava formado o consenso. Em 1992, o USDA criou, com base nas diretrizes, a nossa conhecida pirâmide alimentar, recomendando pouca gordura e muito carboidrato. Nas palavras de Taubes “na história da convicção nacional de que a gordura na dieta é mortal, e a sua evolução de hipótese a dogma, políticos, burocratas, a mídia e o público desempenharam um papel muito maior do que o dos cientistas e da ciência”[9].

As diretrizes fizeram a felicidade da indústria alimentícia e farmacêutica. O café da manhã americano tradicional foi trocado por cereais matinais. Foram criados inúmeros produtos low fat, nos quais se utilizam carboidratos e produtos artificiais (adoçantes, corantes, estabilizantes) para simular o gosto da gordura. E as estatinas, medicamentos para reduzir o colesterol, são uma das maiores fontes de lucro da indústria farmacêutica.

Na verdade, somos resultado de uma evolução de cerca de dois e meio milhões de anos ao longo dos quais nos alimentamos predominantemente de carnes e vegetais. Nosso organismo foi adaptado para isso. Não é necessário ser cientista para perceber que a mudança da dieta para qual fomos evolutivamente adaptados causaria efeitos indesejados [10]. Eles estão nas ruas, nos consultórios médicos, nas escolas, nos programas de televisão.

Olhe novamente a foto dos seus avós. Eles não compravam produtos diet, não corriam no parque e não contavam as calorias que comiam. Então, não comam nada que seus avós não reconhecessem como comida.

Notas


[1] http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/noticia/12926/162/mais-da-metade-da-populacao-brasileira-tem-excesso-de-peso.html Acessado em 12 de dezembro de 2013.


[2] TAUBES, Gary. The Soft Science of Dietary Fat. Science, New Series, Vol. 291, nº 5513, Março 2001, p. 2537.


[3] TAUBES, Gary. Good calories, bad calories. Random House: New York, 2007, p. 31.


[4] Ibidem, p. 32.


[5] TAUBES, Gary. The Soft Science of Dietary Fat. Science, New Series, Vol. 291, nº 5513, Março 2001, p. 2538.


[6] Ibidem, p. 2539.


[7] Ibidem, p. 2540.


[8] Ibidem, p. 2541.


[9] Ibidem, p. 2537.


[10] Para maiores informações http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/

*Professora da FAPA e Historiadora do MP-RS



Leia mais: http://ofatoeahistoria.webnode.com/news/pir%C3%A2mide-alimentar-a-vitoria-da-politica-sobre-a-ci%C3%AAncia/

Sobre galgos e bassets

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A pergunta chega todos os dias: "não importa o que eu faça, não importa o quanto eu restrinja os carboidratos ou mesmo as calorias, meu peso está estacionado em um platô há 3 meses".

Pois é. Isso tem um nome. É o "set point", sobre o qual já escrevi em outra postagem. É o ponto de equilíbrio escolhido pelo nosso corpo. É curioso como as pessoas aceitam naturalmente a existência dos inúmeros outros "set points" da nossa fisiologia, mas têm dificuldade de aceitar que possa haver um set point para quantidade de gordura corporal. Alguns exemplos?


  • Osmolaridade. Refere-se à concentração do sangue. O sangue nunca fica muito concentrado nem muito diluído. Há um controle rígido da osmolaridade do sangue. Quer fazer um teste? Beba uma 1 litro d'água. Seu sangue ficará aguado, diluído? Nada disso! Em pouco tempo você começará a urinar, até que a concentração do sangue fique igual a antes; fique um tempo sem beber nada, e virá uma sede irresistível - o sensor que detecta estas mínimas flutuações da concentração do plasma é um osmostato, localizado no hipotálamo. É ele que determina a excreção de água pelos rins e a sensação de sede, automaticamente e com alta precisão.
  • Temperatura. Nossa temperatura é extremamente regulada, o que é incrível dado o grau de variação das temperaturas externas a que somos submetidos, bem como à variação do calor gerado internamente pela atividade física e metabolismo. Não importa se é verão e está fazendo 40 graus, ou se é inverno e está fazendo 5 graus, sua temperatura oscila apenas DÉCIMOS de grau. Como é possível? Pois no hipotálamo (olha ele aí de novo) há um termostato. Se sua temperatura cai alguns décimos, você treme (para gerar calor) e sente frio, o que o leva a comportamentos que naturalmente aumentam sua temperatura (cobrir-se, ir para o sol, etc). Se a temperatura interna sobe um pouco, você produz suor para dissipar o calor e tem a sensação de calor, que o leva a comportamentos que diminuem a temperatura (vontade de ir para a sombra ou para dentro d'água). Quando ocorre uma febre, o ajuste do termostato sobe, digamos, 2 graus. E então o corpo passa a trabalhar em direção a esta nova temperatura: haverá tremores (geração de calor) e sensação de frio, que fará com que você vista casacos ou cubra-se, até que a temperatura chegue lá. Se a temperatura for reduzida artificialmente (entrando em uma banheira de água gelada, por exemplo), a temperatura baixará um pouco, e por pouco tempo, pois o corpo buscará novamente o set point. Se, contudo, resolvermos a causa da febre, o set point baixará, e o corpo voltará sem nenhum esforçoà sua temperatura normal.
Pois bem, no mesmo hipotálamo há um fino controle do status energético do corpo. Este "obesostato" (na falta de nome melhor, eu inventei esse) recebe informações de todo o corpo, na forma de impulsos nervosos oriundos tanto da periferia como do cérebro, além de diversos hormônios, os mais conhecidos (mas não os únicos!) sendo a insulina e a leptina. Quando o obesostato detecta uma queda nos níveis de gordura corporal ABAIXO do que ele considera ideal, dispara, como nos outros casos descritos acima, uma sensação e determinados comportamentos e mudanças fisiológicas. A sensação é a fome, e os comportamentos incluem o cansaço, a inatividade e uma diminuição do gasto metabólico basal. Se baixarmos artificialmente o peso através de déficit calórico severo, haverá uma queda na quantidade de gordura corporal ABAIXO do que o obesostato considera ideal. Ato contínuo, a fome, o cansaço e mudanças mais sutis no gasto metabólico basal e na eficiência energética entram em ação, trazendo a pessoa novamente ao ponto que o obesostato considera adequado. Não importa se é acima do que VOCÊ considera ideal. E não importa que seja dezenas de quilos acima do que seria o correto para sua altura (de acordo com as tabelas). Assim como você não tem controle voluntário sobre sua temperatura, ou a concentração de glicose, potássio ou qualquer outra coisa, sua simples vontade não controla o set point do peso. Se o obesostato considerar que 100 Kg é seu peso ideal, é ali que o peso vai ficar.

Há uma faixa de oscilação possível do set point de peso. Reduzir os carboidratos é, em geral, capaz de baixar o set point. Quando isso acontece, o peso se reduz sem esforço, da mesma forma que a febre se dissipa numa poça de suor. Mas, da mesma forma que a temperatura não cai indefinidamente quando você toma um anti-térmico até você ficar gelado - o set point apenas muda de um valor mais alto para outro valor mais baixo, o peso não cai indefinidamente - o obesostato apenas encontra outro set-point - e vai defender este set point com unhas e dentes contra perdas adicionais de peso. E da mesma forma que tomar mais comprimidos de antitérmico não abaixará mais a temperatura, cortar ainda mais os carboidratos que já estão baixos não o fará emagrecer mais, até minguar e desaparecer. O corpo simplesmente não funciona assim.

Há várias estratégias para tentar reduzir o set point, além da restrição de carboidratos. Exercício físico de alta intensidade (veja aqui e aqui) pode ajudar. Reduzir o stress pode ajudar. Dormir bem pode ajudar. Eliminar fontes de inflamação pode ajudar. Como já vimos, a flora intestinal está intimamente ligada a esse processo - mas a forma de alterá-la positivamente não está completamente definida (embora açúcar e farináceos com certeza a alterem negativamente).

Mas há um aspecto que às vezes preferimos ignorar, devido à sensação de impotência que provoca: a genética. Mais uma vez, quando pensamos fora do exemplo humano, aceitamos a genética de forma muito natural.

Vejamos, à guisa de exemplo, duas raças de cães: galgos e bassets.

O galgo é uma raça que foi criada para correr. São naturalmente magros, com pernas longas - corredores natos, enfim. Eles não são magros porque correm muito. Eles correm muito porque são magros - são máquinas de correr, literalmente nasceram para isso.



O basset, ao contrário do galgo, foi geneticamente selecionado para ter pernas curtas, orelhas longas e cara simpática. Seu set point de gordura corporal é muito maior do que o de um galgo:
Um basset saudável e campeão
Obviamente, esta característica pode ser exagerada pelos hábitos alimentares:
Este basset provavelmente come a comida do dono!

O set point de um basset pode ser mais baixo, quando comparado ao de outros bassets:




Já o galgo não engorda por mais que coma - eu simplesmente não consegui achar uma imagem de um galgo gordo. O basset tem uma faixa de variação de set point geneticamente determinada. Com certeza este basset da foto acima está bem mais saudável do que o anterior. Mas um basset nunca será um galgo.Não importa quanto exercício um basset faça, quantos carboidratos ele consuma, um basset sempre parecerá mais gordinho e mais lento do que um galgo.

Em humanos, há uma concordância de aproximadamente 90% entre gêmeos idênticos no que diz respeito à gordura corporal. Ou seja, quase 90% da quantidade de gordura que você têm no corpo é determinada geneticamente (Anon, 2001. A twin study of weight loss and metabolic efficiency. , Published online: 22 March 2001; | doi:10.1038/sj.ijo.0801559, 25(4). Available at: http://www.nature.com/ijo/journal/v25/n4/full/0801559a.html)
Mais do que isso, a eficiência energética (o quanto a perda de peso prevista durante uma restrição calórica concorda com a perda observada - algumas pessoas perdem mais peso do que se previa, outras perdem menos) também é geneticamente (77%) determinada:


0801559f1.gif
Cada par de números identifica um par de gêmeos idênticos - os que estão abaixo da linha diagonal perdem peso com mais dificuldade, os que estão acima, perdem peso facilmente. Observe que os pares estão sempre relativamente próximos, indicando que a genética determina fortemente a facilidade ou dificuldade em emagrecer.

O contrário também foi demonstrado: a genética influencia a resistência ao ganho de peso em pessoas que recebem 1000 calorias a mais todos os dias (uns ganham peso, outros não)Levine, J.A., Eberhardt, N.L. & Jensen, M.D., 1999. Role of Nonexercise Activity Thermogenesis in Resistance to Fat Gain in Humans. Science, 283(5399), pp.212–214. Available at:http://www.sciencemag.org/content/283/5399/212

No mundo do fisiculturismo, há muito tempo se sabe que o mesmo fenômeno de diferentes tipos corporais, geneticamente determinados, ocorre conosco. Grosseiramente, as pessoas podem ser divididas em ectomorfos, mesomorfos e endomorfos.


  • Ectomorfos: magros, membros longos e esguios. São as pessoas que querem ganhar peso mas, não importa o que façam, não conseguem. Têm muita dificuldade de ganhar músculos também, mesmo com exercícios e suplementação. São os "galgos" humanos;
  • Mesomorfos: são tipos atléticos, "sarados", que ganham massa muscular com muita facilidade e são naturalmente mais fortes. Ganham gordura com mais facilidade do que os ectomorfos, mas perdem com facilidade também;
  • Endomorfos: membros curtos, musculatura mais forte porém menos definida, ganham gordura com muita facilidade e têm dificuldade para emagrecer. Têm a musculatura menos definida. São às vezes chamados de "atarracados". São os bassets.






As modelos que aparecem nas capas de revistas são ectomorfas e, frequentemente, submetidas a Photoshop. Esse é o modelo de beleza socialmente criado para mulheres. Os modelos masculinos são mesomorfos e, frequentemente, anabolizados. Esse é o modelo de beleza socialmente criado para homens.

Embora um basset nunca possa virar um galgo, não penso que os bassets se entristeçam com isso. Aliás, pelo contrário, eu imagino que o basset leve vantagem. Qual desses dois você acha que ganha mais afagos?

 

É, pois é, eu também acho que é o de baixo. Mas imagine se o Basset crescesse ouvindo que só os galgos têm valor? Talvez mesmo o fato de saber que ele é um basset saudável não fosse suficiente para consolá-lo.

Um endomorfo dificilmente será um modelo de capa de revista, dada a norma social vigente. Por mais low carb que coma, por mais exercício que faça. Para os editores da revista, um basset magro não substitui um galgo. Mas e daí? Um basset mais magro é um basset mais saudável e mais feliz. Ainda é um pouco fofinho, digamos assim, mas não é obeso, não têm dor nas costas, e consegue subir sozinho no sofá.

Eu não tenho a fórmula para transformar bassets em galgos. Ninguém tem. Mas uma abordagem páleo, low carb, seguramente produzirá bassets (e pessoas) mais saudáveis, mais felizes, e que não precisam passar fome para não engordar.

Uma vez entendidas as limitações intransponíveis (o fato de que a loteria genética não é feita apenas de ganhadores), resta-nos refletir sobre a importância de ao menos poder interromper um processo - que parecia inexorável - de ganho de peso, restaurando a saúde e a sensação de bem estar, de forma SUSTENTÁVEL, pois não envolve fome crônica e não nos deixa escravos da comida, permitindo comer para viver, ao invés de viver para comer. Se houvesse uma pílula que fornecesse metade desse benefício, seria a pílula mais vendida da história.

Entrevista - podcast "Mojo Já"

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Entrevista que serve de boa introdução aos assuntos desse blog.


O QUE VOCÊ VAI OUVIR:

- As diretrizes nutricionais não são baseadas em evidência;

- A obesidade é causada principalmente pela resposta hormonal devido à ingestão de calorias de baixa qualidade e não só pelo excesso calórico;

- Não se cresce por que se come, come-se por que se está crescendo;

- Por que as calorias não são todas iguais;

- A insulina, suas funções e implicações;

- Por que comer um pão não é tão diferente de comer açúcar do açucareiro;

- Cuidado com os grãos integrais (dica: são muito menos saudáveis do que você pensa);

- A origem do termo “dieta paleolítica”;

- Como assim? Mas os homens das cavernas não viviam apenas 30 anos?;

- Nem tudo que é bom pra espécie, é bom para o indivíduo;

- O conceito de “comida de verdade”;

- A gordura e o colesterol, dica: não é o que você aprendeu;

- Os vilões “integrais”, “desnatados” e “baixa gordura”;

- A culpa não é sua, é das informações que você recebeu;

- O que “pode” e “não pode”;

- O glúten

O ranking das dietas

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Todos os anos a revista americana US News and World Report faz um ranking das dietas. Não é um trabalho científico. Não é uma pesquisa. Não é um estudo. É apenas uma reportagem de uma revista leiga, que pergunta a um painel de "experts" suas opiniões sobre as várias dietas. Tais experts são pessoas proeminentes no mundo da nutrição dos EUA, e portanto alinham-se majoritariamente às diretrizes nutricionais vigentes. Ou seja, não se trata de uma metanálise, na qual estudo científicos originais são comparados de forma rigorosa e matemática (esses estudos foram feitos, e os resultados foram MUITO diferentes, mostrando que low carb é superior na perda de peso e em vários fatores de risco cardiovascular). Trata-se de uma peça de OPINIÃO. Pior ainda, um dos critérios utilizados para julgar se a dieta era boa ou não era seu grau de alinhamento com as diretrizes! Em outras palavras, uma dieta altamente eficaz e segura de acordo com os estudos científicos publicados, mas que seja oposta às diretrizes, será necessariamente colocada em último lugar.

Traçando uma analogia, seria como um concurso de miss no qual os critérios de julgamento incluíssem o fato de que loiras de olhos claros têm preferência. A mais bela morena não teria nenhuma chance, posto que o alinhamento com as diretrizes teria precedência sobre quaisquer outras qualidades!

Pois foi essa peça de opinião, não científica, que caiu nas agências de notícias e produziu manchetes pelo mundo afora - e vários de vocês me escreveram sobre isso.

Nosso amigo Hilton Souza, do blog PALEODIARIO, me fez um grande favor traduzindo um texto de Robb Wolf sobre o assunto, (que reproduzo parcialmente abaixo), além de maravilhosa refutação do Dr. Loren Cordain (leia mais abaixo).


US News & World Report classifica a paleodieta: 2014. Déjà vu de novo!

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Robb Wolf

Ano novo, noticías novas mesma baboseira

Meu Twitter e Facebook tem estado mais cheios que nunca. O tópico ? O ranking 2014 da US News das "Melhores Dietas", que coloca a velha, fossilizada e caduca paleodieta... em ÚLTIMO. A paleodieta não foi apenas a última, mas também figura depois de concorrentes "científicos" tais como a Slim Fast e a Medifast! (Essas são dietas baseadas em shakes, pessoal...)

Se você está tentando descobrir o que está acontecendo, esse é o relatório anual de bajulação que a US News & World Reports (USNWR) fornece para coisas tais como os planos de shakes mencionados anteriormente, bem como a "competidores" fortes como a dieta do "Biggest Loser". Para usar uma linha de Battlestar Galactica (N.T.: seriado de TV): Tudo isso já aconteceu antes, e vai acontecer novamente. Esse link é para a conversa anterior sobre esse ponto, na qual a USNWR afirmava que um grupo de experts classificou a dieta paleo em último, mas que quando colegas desses experts os questionaram sobre a classificação dada, pareceu que a USNWR poderia ter aplicado alguma "licença poética"às notas. Já se vai um longo tempo desde que o jornalismo era sobre acurácia e não hipérbole. Por favor leia o que escreve meu mentor, Prof. Loren Cordain, e os seus pensamentos sobre a classificação 2014. Cada vinheta de notícia, da CNN ao observatório de radiação de Chernobyl, proclamou: "A dieta paleo já era!".

Bem, não estamos mortos ainda. E pelo menos a USNWR consegue soletrar "Dieta Paleo" corretamente, o que ajuda com as tendências do Google (google trends) - chego lá num instante.

Para onde vamos agora ?


As refutações mencionadas são bastante técnicas e detalhadas, não vou revisar esse material, mas quero prestar atenção em algumas das afirmações jogadas na listagem da USNWR:

1 - A dieta paleo provê nutrição inadequada

Esse não é um errinho, é um erro crasso. Por favor, veja o artigo anterior do Prof. Cordain e o trabalho do Dr. Mat Lalonde sobre densidade de nutrientes. Não tenho certeza sobre o que dizer sobre isso a não ser que as pessoas que tem essa opinião não se mantém atualizados com a literatura OU são péssimos em matemática. Assista o vídeo e confira você mesmo:


2 - A dieta paleo é difícil

Algumas pessoas fazem mudanças de dieta e de estilo de vida facilmente, outras preferem fumar através de um tubo de traqueostomia e assustar criancinhas com suas vozes sintetizadas, ao invés de mudar de comportamento. Para mim (opinião, pura e simples) o que é difícil é me sentir consistentemente horrível e viver uma vida sub-ótima. Já fiquei muito doente e não gostei realmente da experiência, mas talvez outros sejam diferentes. Tudo isso posto de lado, se alguém como a USNWR está afirmando que a paleodieta é "muito difícil", pode ser bacana ter algo que justifique tal posição. Eu até discutiria que se o programa fosse realmente difícil ou não-efetivo para uma série objetivos (perda de peso, questões de saúde), então veríamos um interesse inicial e subsequente declínio. Você sabe, como aconteceu com a dieta "The Zone"

Talvez possamos usar o Google Trends para mudar essa informação claramente errônea ?

Zone diet - popularidade morrendo; Paleo Diet - popularidade aumentando de forma exponencial: se fosse tão difícil e não fosse eficaz, porque a popularidade só aumenta?


3 - Não há ciência suportando a Dieta Paleo

Essa acaba comigo... é demais pedir que as pessoas acessem o PubMed e pesquisem por "Paleo Diet" ? Acredito que eu deveria encarar isso não como incômodo, mas como estabilidade de emprego. Bem, as refutações são uma boa fonte de recursos para literatura revisada por pares sobre esse assunto, mas aqui está um trecho de um email que recebi do Prof. Cordain:

Já houve 8 estudos clínicos randomizados controlados da dieta paleo. Os assuntos abordados, incluindo riscos de doença cardiovascular, saciedade e perda de peso, indicam que paleo é superior à dietas convencionais para diabetes, dieta mediterrânea e mais rica em nutrientes que a pirâmide alimentar tradicional. As referências estão abaixo:

1. Frassetto LA, Schloetter M, Mietus-Synder M, Morris RC, Jr., Sebastian A: Melhorias metabólicas e fisiológicas ao consumir uma dieta paleolítica. Eur J Clin Nutr 2009.

2. Jönsson T, Granfeldt Y, Ahrén B, Branell UC, Pålsson G, Hansson A, Söderström M, Lindeberg S. Efeitos benéficos de uma dieta paleolítica em fatores de risco cardiovasculares na diabetes tipo 2: um estudo piloto cruzado e randomizado. Cardiovasc Diabetol. 2009;8:35

3. Jonsson T, Ahren B, Pacini G, Sundler F, Wierup N, Steen S, Sjoberg T, Ugander M, Frostegard J, Goransson Lindeberg S: Uma dieta paleolítica confere sensibilidade mais alta à insulina, proteína C-reativa mais baixa e menor pressão sanguínea que uma dieta baseada em cereais em porcos domésticos. Nutr Metab (Lond) 2006, 3:39. 

4. Jonsson T, Granfeldt Y, Erlanson-Albertsson C, Ahren B, Lindeberg S. Uma dieta paleolítica é mais saciante por caloria do que uma dieta tipo mediterrânea em indivíduos com doença cardíaca isquêmica. Nutr Metab (Lond). 2010 Nov 30;7(1):85

5. Lindeberg S, Jonsson T, Granfeldt Y, Borgstrand E, Soffman J, Sjostrom K, Ahren B: Uma dieta paleolítica melhora a tolerância à glicose mais que uma dieta tipo mediterrânea em indivíduos com doença cardíaca isquêmica. Diabetologia 2007, 50(9):1795-1807.

6. O’Dea K: Melhora pronunciada no metabolismo de carboidratos e lipídios em aborígines australianos após reversão para estilo de vida tradicional. Diabetes 1984, 33(6):596-603.

7. Osterdahl M, Kocturk T, Koochek A, Wandell PE: Efeitos de uma intervenção de curto prazo com dieta paleolítica em voluntários saudáveis. Eur J Clin Nutr 2008, 62(5):682-685.

8. Ryberg M, Sandberg S, Mellberg C, Stegle O, Lindahl B, Larsson C, Hauksson J, Olsson T. Uma dieta tipo paleolítica causa fortes efeitos específicos em tecidos em depósitos de gordura ectópicos de mulheres obesas pós-menopausa. J Intern Med. 2013 Jul;274(1):67-76

Então nós provemos material como esses aos detratores e ganhamos como resposa "Isso não é muita pesquisa, não podemos tirar conclusão ALGUMA disso". Hummm, ok. Então continuamos a fazer o que não está funcionando? Outra dissidência comum nessa história é que muito do que falamos na paleolândia é anedótico. Sim, a maioria das descobertas clínicas é observacional. A maioria de todas as descobertas científicas COMEÇA observacionalmente, ao fazer com que alguém diga algo do tipo "Hum... o que diabos está acontecendo aqui? Me pergunto se é isso o que está acontecendo". Observação leva à Hipótese que leva ao Teste que leva a Aceitar/Rejeitar/ou Refinar. O pessoal da Medicina Baseada em Evidências de alguma forma esquece desse processo... mas de uma maneira inteiramente seletiva e que serve a seus propósitos.  Por hora, temos o que já foi feito e mais algumas coisas na linha de produção:


Esse estudo vai tapar alguns dos buracos no estudo original do Prof. Lindenberg da dieta paleo em humanos. O Prof. Cordain tem um estudo extenso que examina a eficácia da dieta paleolítica para várias condições auto-imunes, para as quais os dados preliminares são muito excitantes.

4 - Mas é uma estudo retrospectivo! Cientistas maus! Sem estudos prospectivos randomizados!

Bem, para os  que querem dados, esse é o processo para consegui-los. Observacionalmente, PARECEMOS ter benefícios notáveis para pessoas com auto-imunidade (e várias outros problemas). Dado que o nosso sucesso atual com terapias convencionais para auto-imunidade varia entre "não funciona" e "é pior que a doença", parece interessante investigar isso mais a fundo, certo? Talvez a dieta paleo funcione melhor para auto-imunidade e outras condições  que uma dieta convencional, talvez não - mas novamente, esse é o processo que vai ajudar a responder a questão. Eu acho que muito do crescimento que vemos com paleodieta nasce do resultado que as pessoas tem.

Muitas ironias existem no caso, entre o surgimento forte da saúde ancestral na mídia e a reação violenta típica da mídia. A maioria dos quais eu consigo ligar à ignorância, inércia e, bem, mais ignorância - mas uma pequena ironia que certamente faz cócegas no meu "osso da risada" calcificado é que muitas pessoas que participam da cena paleo recentemente participaram em um chat do Twitter promovido pela... US News & World Reports Health. A conversa acabou sendo uma dos assuntos fortes no Twitter.



Então, tudo isso incomoda ? Sim, mais ou menos. Vai afetar o crescimento e o sucesso do modelo de saúde ancestral ? Não, nenhum um pouquinho. Nós conseguimos compartilhar informação muito rapidamente, as pessoas podem experimentar e compartilhar experiências e de uma maneira muito baseada em mercado, a coisa que funciona melhor VAI se tornar o paradigma vigente.

Para uma resposta mais aprofundada e científica à mesma reportagem em 2011 (sim, o assunto é velho), segue a reposta original de do Dr. Cordain à época:
-> Obrigado mais uma vez ao Hilton Sousa por traduzir o texto:

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Loren Cordain(i), Ph.D., Maelán Fontes Villalba(ii) e Pedro Carrera Bastos(ii)

i. Departamento de Saúde e Ciência do Exercício, Universidade Estadual do Colorado, Fort Collins, EUA
ii. Centro de Pesquisa de Cuidados de Saúde Primária, Faculdade de Medicina, Universidade Lund, Malmö, Suécia

O autor desse artigo (da revista US News and World Report) sugere que a dieta pelo só foi cientificamente testada em "um pequeno estudo". Essa citação é incorreta, dado que cinco estudos (1-7), sendo quatro desde 2007, testaram experimentalmente versões contemporâneas de dietas humanas ancestrais e constataram ser estas superiores às dietas mediterrânea, dietas convencionais para diabéticos e a dieta ocidental típica no que diz respeito à perda de peso, fatores de risco para doenças cardiovasculares e fatores de risco para diabetes tipo 2.

O primeiro estudo a testar experimentalmente dietas desprovidas de grãos, laticínios e comidas processadas, foi feit pelo Dr. Kerin O'Dea na Universidade de Melbourne e publicado no periódico "Diabetes" em 1986 (6). Nesse estudo, o Dr. O'Dea reuniu 10 aborígines australianos de meia-idade que haviam nascido no "Outback" (N.T.: o "sertão" australiano). Eles haviam vivido suas juventudes como caçadores-coletores até não terem escolha a não ser finalmente se estabelecerem em uma comunidade rural com acesso a produtos ocidentais. Previsivelmente, todos os 10 sujeitos eventualmente tornaram-se obesos e desenvolveram diabetes tipo 2 ao adotarem o estilo de vida ocidental sedentário na comunidade de Mowwanjum, na região de Kimberly, norte da Austrália Ocidental. Entretanto, inerente em suas criações estava o conhecimento de como viver e sobreviver nessa terra aparentemente desolada, sem nenhuma das armadilhas do mundo moderno.

O Dr. O'Dea pediu que esses 10 sujeitos de meia-idade revertessem ao seu modo de  vida anteriore como caçadores-coletores, por um período de 7 semanas. Todos concordaram e viajaram de volta à terra isolada na qual nasceram. Seu sustento diário veio apenas de comidas nativas que puderssem ser coletadas ou caçadas. Ao invés de pão branco, milho, acúcar, leite em pó e comidas enlatadas, eles começaram a comer as comidas tradicionais de seu passado ancestral: cangurus, pássaros, crocodilos, tartarugas, mariscos, inhames, figos, yabbies (lagostas de água doce), peixes e mel silvestre. Na conclusão do experimetno, os resultados foram espetaculares, mas não inesperados dado o que se sabia sobre dieta paleo, mesmo na época. A média de perda de peso no grupo foi de 7.5kg; o colesterol sanguíneo diminuiu 12% e os triglicérides foram reduzidos em impressionantes 72%. Insulina e metabolismo de glicose voltaram ao normal, e suas diabetes efetivamente desapareceram.

O primeiro estudo recente a testar experimentalmente dietas paleolíticas foi publicado em 2007 (5). O Dr. Lindberg e associados colocaram 29 pacientes com diabetes tipo 2 e doença cardíaca em dieta paleo ou dieta mediterrânea baseada em grãos integrais, laticínios desnatados, verduras, frutas peixes, óleos e margarinas. Note que a dieta paleo exclui grãos, laticínios e margarinas enquanto encoraja um maior consumo de carne e peixe. Após 12 semanas em cada uma das dietas a tolerância à glicose sanguínea (um fator de risco para doença cardíaca) melhorou em ambos os grupos, mas ficou melhor nos que seguiram paleo. A repetição do mesmo experimento em 2010 mostrou que a dieta paleo era mais saciante, comparando-se caloria a caloria, que a dieta mediterrânea, porque causava maiores alterações na leptina, -um hormônio que regula o apetite e o peso corporal.

No segundo estudo moderno (2008) sobre dieta paleo, o Dr. Osterdahl e co-autores (7) colocaram 16 sujeitos saudáveis numa dieta paleo. Após apenas 3 semanas os sujeitos perderam peso, reduziram o diâmetro da cintura e experienciaram reduções significativas na pressão sanguínea e no inibidor do ativador do plasminogênio (uma substância do sangue que promove a coagulação e acelera o entupimento arterial). Como não foi usado grupo de controle nesse estudo, alguns cientistas argumentam que as mudanças benéficas podem não ter sido necessariamente causadas pela dieta paleo. Entretanto, expermimentos mais recentes e melhor controlados mostraram resultados similares.

Em 2009, o Dr. Frasetto e co-autores (1) pôs 9 sujeitos sedentários em uma dieta paleo por apenas 10 dias. Nesse experimento, a dieta paleo foi controlada para oferecer exatamente a mesma quantidade de calorias que a dieta típica dos sujeitos. Sempre que as pessoas comem dietas reduzidas em calorias, não importa quais comidas estejam envolvidas, elas exibem efeitos benéficos sobre a saúde. Então a beleza desse experimento foi que quais mudanças terapêuticas na saúde dos sujeitos não podia ser atribuída à redução d ecalorias, e sim às mudanças nos tipos de comidas ingeridos. Enquanto na dieta paleo, 8 ou todos os 9 participantes tiveram melhorias na pressão sanguínea, função arterial, insulina, colesterol total, LDL, colesterol e triglicérides. O que é impressionante nesse experimento é o quão rápido tantos marcadores de saúde melhoraram, e que isso ocorreu em cada um dos pacientes.

Em um estudo recente (2009) ainda mais convincente, o Dr. Lindeberg e colegas (2) compararam os efeitos da dieta paleo com os da dieta geralmente recomendada para pacientes com diabetes tipo 2. O dieta para diabéticos é voltada à redução da gordura total ao aumentar o volume de pães integrais e cereais, laticínios desnatados, frutas e verduras enquanto restringe comidas de origem animal. Em contraste, a dieta paleo era mais pobre em cereais, laticínios, batatas, feijões e produtos de padaria, mas mais rica em frutas, vegetais carne e ovos comparada à dieta para diabetes. A força desse experimento estava em seu desenho cruzado, no qual todos os 13 pacientes comeram uma dieta por 3 meses e depois mudaram para a outra dieta por 3 meses. Comparada à dieta para diabetes, a dieta paleo resultou em maior perda de peso, diminuição do diâmetro da cintura, pressão sanguínea, HDL, triglicérides, glicemia e hemoglobina A1c (um marcador para controle de glicose sanguínea a longo prazo). Esse experimento representa o mais poderoso exemplo, até hoje, da efetividade da deita paleo em tratar pessoas com problemas de saúde sérios.

Então, agora que sumarizei a evidência experimental suportando os benefícios de saúde e perda de peso da dieta paleo, gostaria de respoder diretamente aos erros no artigo do US News and World Report

1. "Você vai perder peso ? Não há como afirmar.” 


Obviamente, o autor desse artigo não leu o estudo feito por O'Dea (6)  e nem o estudo cruzado de três meses feito por Jonsson e colegas (9), que demonstraram o potencial superior para perda de peso de dietas paleo ricas em proteína e com baixa carga glicêmica. Resultados similares de muita proteína e baixa carga glicêmica foram recentemente reportados nos maiores estudos randomizados controlados já feitos tanto em adultos quanto em crianças.

Um estudo randomizado feito em 2010, envolvendo 773 sujeitos e publicado no Journal of Medicine da Nova Inglaterra (8) confirmou que dietas com alta proteína e baixo índice glicêmico eram a estratégia mais efetiva para manter o peso baixo. Os mesmos efeitos benéficos de muita proteína e baixo índice glicêmico foram dramaticamente demonstrados no maior experimento nutricional já conduzido, o Estudo DiOGenes  (9), em um conjunto de 827 crianças. Crianças seguindo dietas com pouca proteína e alto índice glicêmico tornaram-se significativamente mais gordas nos 6 meses do experimento, enquanto as crianças obesas e com sobrepeso que seguiram um plano nutricional rico em proteínas e pobre em glicemia perderam peso significativamente.

2. “Ela tem benefícios cardiovasculares ? Desconhecidos.” 


Esse comentário mostra o quão desinformado o autor realmente está. Claramente, essa pessoa não leu os artigos (1-6), que inequivocamente mostram os efeitos terapêuticos de dietas paleo sobre fatores de risco cardiovasculares. Mais ainda, como já revisamos em outros lugares (10-12), dietas com alta proteína comprovadamente aumentam a dislipidemia e a sensibilidade à insulina, e são estratégias potencialmente efetivas para melhorar a síndrome metabólica. Ainda mais, evidências acumuladas sugerem que uma dieta pobre em carboidratos (que é obviamente pobre em açúcar e cereais) pode ser superior a uma dieta ocidental pobre em gorduras e rica em carboidratos, especialmente em pacientes com síndrome metabólica - porque ela pod elevar a melhorias na resistência à insulina, lipemia pós-prandial, triglicérides e HDL-C séricos em jejum, razão entre colesterol total e HDL-C, distribuição de partículas de LDL, proporção apoB/apoA-1, função vascular pós-prandial, e vários biomarcadores inflamatórios (13, 14).

Finalmente, a evidência para recomendar grãos integrais para reduzir risco de doença cardiovascular é baseada em estudos epidemiológicos ou experimentos de intervenção com parâmetros de medição (endpoints) flexíveis, que estudos controlados randomizados com parâmetros inflexíveis não parecem suportar. Por exemplo, o estudo DART encontrou uma tendência à mortalidade por doença cardiovascular no grupo aconselhado a comer mais fibra, a maioria da qual é derivada de cereais (15). E de relevância, esse efeito não-significativo tornou-se estatisticamente significativo, depois de ajustes para possíveis fatores de confusão, tais como medicação e estado de saúde (16).

“E toda aquela gordura preocuparia a maioria dos experts.” 


Essa afirmação representa uma "tática de medo", não substanciada por dados. Como eu, e quase a maioria da comunidade nutricional, já apontamos anteriormente, não é a quantidade de gordura que aumenta o risco de doença cardiovascular ou câncer, ou qualquer outro problema de saúde, e sim a qualidade. Dietas paleo contemporâneas contêm altas concentrações de saudáveis ácidos graxos ômega-3 e ácidos graxos monoinsaturados que na verdade diminuem o risco de doença crônica (10-12, 17-22). 


3. “Ela pode evitar ou controlar a diabetes ? Desconhecido.” 


Aqui está outro exemplo de jornalismo irresponsável e tendencioso, que não deixa os fatos falarem por si. Obviamente, o autor não leu o estudo de O'Dea (6) ou Jonsson et al. (2), que mostraram melhoras dramáticas na diabetes tipo 2 ao se consumir dietas paleo. 

“Mas a maioria dos experts em diabetes recomenda uma dieta que inclua grãos integrais e laticínios.”


Verdade seja dita, em um estudo randomizado controlado, 24 garotos de 8 anos de idade foram orientados a ingerir 53g de proteína sob forma de leite ou carne diariamente (23). Após apenas 7 dias na dieta rica em leite, os garotos se tornaram resistentes à insulina. Essa é uma condição que precede o desenvolvimento da diabetes tipo 2. Em contraste, no grupo da carne, não houve aumento na insulina ou na resistência à insulina. Além disso, no estudo de Jonsson et al. (2), dietas livres de leite e grãos mostraram ter resultados superiores na melhora de sintomas de doenças em diabéticos tipo 2. 

Finalmente, em um estudo intervencional incluindo 2263 mulheres pós-menopausa, as participantes foram aconselhadas a seguir uma dieta pobre em gorduras (< 20% da energia), rica em fibra de grãos integrais (> 6 porções ao dia), rica em frutas (> 5 por dia) e rica em vegetais (> 5 porções por dia) ou em um grupo de comparação sem aconselhamento. Após 6 anos de acompanhamento, as mulheres com diabetes que tinham diabetes no início do estudo e foram alocadas com a dieta pobre em gorduras e rica em fibra de grãos integrais, pioraram seu controle glicêmico (24). Não obstante, a maioria das evidências suporta os efeitos benéficos da fibra solúvel, encontrada principalemente em verduras e frutas, enquanto a evidência suportando os efeitos benéficos da fibra insolúvel, encontrada em grãos integrais, parece menos evidente (25-28). 

4. “Há riscos de saúde ? Possivelmente. Ao descartar laticínios e grãos, você corre o risco de perder um monte de nutrientes.” 


Mais uma vez, essa afirmação mostra a ignorância do autor e ruidoso desprezo pelos fatos. Porque as dietas ancestrais contemporâneas excluem comidas processadas, laticínios e grãos, elas são na prática mais densas em nutrientes (vitaminas, minerais e fitoquímicos) do que as dietas recomendadas pelo governo, como a pirâmide alimentar. Eu já apontei esses fatos em um artigo publicado no Jornal Americano de Nutrição Clínica em 2005 (11), jutno com outro artigo no qual analisei o conteúdo nutricional de dietas paleo modernas (19). Além disso, a análise de micronutrientes derivada dos dois estudos feitos por Lindebert et al. (5) e Jonsson et al. (2) mostra que, excetuando-se o cálcio, uma dieta tipo paleolítica não apenas atende a ingesta diária recomendada de micronutrientes, mas em alguns casos ultrapassa a quantidade provida pelas dietas com grãos e laticínios. No que diz respeito à vitamina D, como já mostramos em um artigo recente (12), exceto pelos peixes oceânicos gordos, há pouca vitamina D em qualquer produto alimentício natural (ou seja, não-fortificado artificialmente) comumente consumido - e através da história, quase todos os hominídeos (exceto por aqueles vivendo no extremo norte, tais como os inuit) dependiam do sol para satisfazer suas necessidades de vitamina D.
Ainda mais, a maioria dos nutricionistas está consciente de que comidas processadas feitas com grãos refinados, açúcares e óleos vegetais tem baixas concentrações de vitaminas e minerais, mas nem todos perceberam que laticínios e grãos integrais contém concentrações significativamente mais baixas das 13 vitaminas e minerais que mais fazem falta na dieta americana padrão, quando comparados com carnes magras, peixes, frutas e vegetais frescos (11, 19). Curiosamente, apesar da ingesta de micronutrientes ser importante, a absorção intestinal é ainda mais impactante. Sabe-se que alguns antinutrientes contidos em cereais, tais como o fitato, juntam-se a minerais divalentes (por exemplo, zinco, ferro, cálcio e magnésio) comprometendo a sua absorção (29)

“Também, se você não for cuidadoso e escolher carnes magras, vai rapidamente elevar seu risco de problemas cardíacos . 


Na verdade, as mais extensas e recentes meta-análises e revisões não mostram que o consumo de carne fresca, gorda ou magra, seja um fator de risco para doença cardiovascular - somente o de carnes processadas tais como salame, mortadela, bacon e salsichas (30). 


References

1. Frassetto LA, Schloetter M, Mietus-Synder M, Morris RC, Jr., Sebastian A: Melhorias metabólicas e fisiológicas ao consumir uma dieta paleolítica de caçadores-coletores. Eur J Clin Nutr 2009.

2. Jönsson T, Granfeldt Y, Ahrén B, Branell UC, Pålsson G, Hansson A, Söderström M, Lindeberg S. Efeitos benéficos de uma dieta paleolítica em fatores de riscos cardiovasculares na diabetes tipo 2: um estudo piloto cruzado randomizado. Cardiovasc Diabetol. 2009;8:35

3. Jonsson T, Granfeldt Y, Erlanson-Albertsson C, Ahren B, Lindeberg S. Uma dieta paleolítica é mais saciante por caloria do que uma dieta tipo mediterrânea em indivíduos com doença cardíaca isquêmica. Nutr Metab (Lond). 2010 Nov 30;7(1):85

4. Jonsson T, Ahren B, Pacini G, Sundler F, Wierup N, Steen S, Sjoberg T, Ugander M, Frostegard J, Goransson Lindeberg S: Uma dieta paleolítica confere maior sensibilidade à insulina, proteína C-reativa e pressão sanguínea mais baixas do que uma dieta baseada em cereais, em porcos domésticos. Nutr Metab (Lond) 2006, 3:39. 

5. Lindeberg S, Jonsson T, Granfeldt Y, Borgstrand E, Soffman J, Sjostrom K, Ahren B: Uma dieta paleolítica melhora a tolerência à glicose mais que uma dieta tipo mediterrânea em indivíduos com doença cardíaca isquêmica. Diabetologia 2007, 50(9):1795-1807.

6. O'Dea K: Melhora pronunciada no metabolismo de carboidratos e lipídios em aborígines australianos após reversão temporária ao estilo de vida tradicional. Diabetes 1984, 33(6):596-603. 

7. Osterdahl M, Kocturk T, Koochek A, Wandell PE: Efeitos de uma intervenção de curto prazo com dieta paleolítica em pacientes voluntários saudáveis. Eur J Clin Nutr 2008, 62(5):682-685.

8. Larsen TM, Dalskov SM, van Baak M, Jebb SA, Papadaki A, Pfeiffer AF, Martinez JA, Handjieva-Darlenska T, Kunešová M, Pihlsgård M, Stender S, Holst C, Saris WH, Astrup A; Projeto Dieta, Obesidade, and Genes (Diogenes). Dietas com conteúdos altos e baixos de proteínas e índice glicêmico para manutenção da perda de peso. N Engl J Med. 2010 Nov 25;363(22):2102-13

9. Papadaki A, Linardakis M, Larsen TM, van Baak MA, Lindroos AK, Pfeiffer AF, Martinez JA, Handjieva-Darlenska T, Kunesová M, Holst C, Astrup A, Saris WH, Kafatos A; DiOGenes Study Group. O efeito da proteína e índice glicêmico na composição corporal de crianças: o estudo randomizado DiOGenes. Pediatrics. 2010 Nov;126(5):e1143-52

10. Cordain L, Eaton SB, Miller JB, Mann N, Hill K. A natureza paradoxal das dietas de caçadores-coletores: baseadas em carnes, e ainda assim não aterogênicas. Eur J Clin Nutr. 2002 Mar;56 Suppl 1:S42-52

11. Cordain L, Eaton SB, Sebastian A, Mann N, Lindeberg S, Watkins BA, O'Keefe JH, Brand-Miller J. Origens e evolução da dieta ocidental: implicações de saúde para o século XXI. Am J Clin Nutr. 2005 Feb;81(2):341-54.

12. Carrera-Bastos P, Fontes Villalba M, O’Keefe JH, Lindeberg S, Cordain L. A dieta ocidental e os estilos de vida e doenças da civilização. Res Rep Clin Cardiol 2011; 2: 215-235.

13. Westman EC, Feinman RD, Mavropoulos JC, et al. Nutrição de baixo-carboidrato e metabolismo. Am J Clin Nutr. 2007 Aug;86(2):276-84.
14. Volek JS, Fernandez ML, Feinman RD, et al. Restrição de carboidratos dietários induz um estado metabólico único, afetando dislipidemia aterogênica, particionamento de ácidos graxos, e síndrome metabólica. Prog Lipid Res. 2008; 47, 307–318.

15. Peixe e o coração. Lancet. 1989 Dec 16;2(8677):1450-2

16. Ness AR, Hughes J, Elwood PC, Whitley E, Smith GD, Burr ML. O efeito de longo prazo do aconselhamento nutricional  em homens com doença coronariana: acompanhamento do experimento "Dieta e Reinfarto" (DART). Eur J Clin Nutr. 2002 Jun;56(6):512-8

17. Cordain L. Consumo de gordura saturada em dietas humanas ancestrais: implicações para a ingesta contemporânea. In: Phytochemicals, Nutrient-Gene Interactions, Meskin MS, Bidlack WR, Randolph RK (Eds.), CRC Press (Taylor & Francis Group), 2006, pp. 115-126.

18. Cordain L, Miller JB, Eaton SB, Mann N, Holt SH, Speth JD. Proporções de subsistência vegetal-animal e estimativas de energia de macronutrientes em dietas de caçadores-coletores no mundo. Am J Clin Nutr. 2000 Mar;71(3):682-92.

19. Cordain L. As características nutricionais de uma dieta contemporânea baseada em grupos de comida paleolíticos. J Am Nutraceut Assoc 2002; 5:15-24.

20. Kuipers RS, Luxwolda MF, Dijck-Brouwer DA, Eaton SB, Crawford MA, Cordain L, Muskiet FA. Estimativa de ingesta de macronutrientes e ácidos graxos de ma dieta paleolítica do leste africano. Br J Nutr. 2010 Dec;104(11):1666-87.

21. Ramsden CE, Faurot KR, Carrera-Bastos P, Cordain L, De Lorgeril M, Sperling LS. Quantidade de gordura dietária e prevenção de doença coronariana: uma teoria unificada baseada em perspectivas evolucionárias, históricas, globais e modernas. Curr Treat Options Cardiovasc Med. 2009 Aug;11(4):289-301.

22. Cordain L, Watkins BA, Florant GL, Kelher M, Rogers L, Li Y. Análise de ácidos graxos de tecidos de ruminantes selvagens: implicações evolucionárias para reduzir doenças crônicas ligadas à dieta. Eur J Clin Nutr. 2002 Mar;56(3):181-91

23. Hoppe C, Mølgaard C, Vaag A, Barkholt V, Michaelsen KF. Alta ingesta de leite, mas não de carne, aumenta a S-insulina e a resistência à insulina em meninos de 8 anos. Eur J Clin Nutr. 2005 Mar;59(3):393-8.

24. Shikany JM, Margolis KL, Pettinger M, Jackson RD, Limacher MC, Liu S, et al. Efeitos de uma intervenção dietária de baixa gordura na glicose, insulina e resistência à insulina no estudo de modificação dietária da Iniciativa de Saúde da Mulher. Am J Clin Nutr. 2011 May 11 [Epub ahead of print]

25. Mann JI, De Leeuw I, Hermansen K, Karamanos B, Karlström B, Katsilambros N, et al. Abordagens nutricionais baseadas em evidências para o tratamento e prevenção da diabetes mellitus. Nutr Metab Cardiovasc Dis. 2004 Dec.;14(6):373–394. 

26. Robertson MD, Bickerton AS, Dennis AL, Vidal H, Frayn KN. Efeitos de sensibilização à insulina do amido resistente dietário, e efeitos no no metabolismo músculo-esqueletal e do tecido adiposo. Am. J. Clin. Nutr. 2005 Sep.;82(3):559–567. 

27. Erkkilä AT, Lichtenstein AH. Fibra e risco de doença cardiovascular: quão forte é a evidência ? J Cardiovasc Nurs. 2006;21(1):3–8. 

28. Chandalia M, Garg A, Lutjohann D, Bergmann von K, Grundy SM, Brinkley LJ. Efeitos benéficos da alta ingesta de fibras em pacientes com diabetes mellitus tipo 2. N. Engl. J. Med. 2000 May 11;342(19):1392–1398.

29. Cordain L. Grãos cerais: a espada de dois gumes da humanidade. World Rev Nutr Diet. 1999;84:19-73.

30. Micha R, Wallace SK, Mozaffarian D. Consumo de carne vermelha e processada e o risco de inciddência de doença coronariana, infarto e diabetes mellitus: uma revisão sistemática e meta-análise. Circulation. 2010 Jun 1;121(21):2271-83

31. Micha R, Mozaffarian D. Gordura saturada e fatores riscos cardiometabólicos, doença coronariana, infarto e diabetes mellitus: um novo olhar sobre as evidências. Lipids. 2010 Oct;45(10):893-905. Epub 2010 Mar 31.

32. Siri-Tarino PW, Sun Q, Hu FB, Krauss RM. Ácidos graxos saturados e risco de doença coronariana: modulação pela substituição de nutrientes. Curr Atheroscler Rep. 2010 Nov;12(6):384-90.

33. Siri-Tarino PW, Sun Q, Hu FB, Krauss RM. Gordura saturada, carboidrato e doença cardiovascular. Am J Clin Nutr. 2010 Mar;91(3):502-9

34. Siri-Tarino PW, Sun Q, Hu FB, Krauss RM. Meta-análise de grupo de estudos prospectivos avaliando a associação de gordura saturada com doença cardiovascular. Am J Clin Nutr. 2010 Mar;91(3):535-4646

Blogs, muitos blogs!

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Quando eu comecei, não havia quase nada em Português. O que havia era basicamente blogs de receitas Atkins, nem sempre compatíveis com os princípios de uma dieta Low Carb Páleo (por conter glúten e óleos de sementes, por exemplo).

Puxa, como as coisas mudaram! A cada semana surge um novo blog ou um novo site que aborda diferentes facetas desse estilo de vida. Quem sabe, finalmente, o Brasil esteja vendo surgir o fenômeno do crescimento de popularidade desta abordagem que começou há 10 anos nos EUA?

Meu objetivo é divulgar este tópico, com o maior embasamento científico possível. Mais importante do que EU ter algumas centenas de milhares de acessos por mês, é que o CONJUNTO dos sites e blogues em português possa ter milhões de acessos mensais - ganhando um porte que não possa ser ignorado pela mídia e, quem sabe um dia, pelas diretrizes oficiais (sonhar não paga imposto).


  • Primal Brasil

http://primalbrasil.com.br/
Site sensacional. Meu preferido em português. É, no Brasil, o que o blog do Mark Sissoné nos EUA. Sinceramente, é melhor do que o meu. Você não conhece ainda? Está esperando o quê?? Os autores são a Bruna e o Caio. E o Caio, é bom lembrar, é o autor no único livro páleo nacional (clique aqui para ler minha postagem sobre o livro):


  • Blog/Site Nutrição do Futuro
http://nutricaodofuturo.wordpress.com/
Um blog muito bem escrito, e que vai fazer você pensar.

  • Blog/Site Fat New World
http://www.fat-new-world.com/
Excelente site, diretamente de Portugal, por Sérgio Veloso, um autor com sólida formação científica - vale muito a pena conferir!

  • Blog/site do Dr. Patrick Rocha
http://drrocha.com.br/blog/
O Dr. Patrick atua em Jericoacoara e Fortaleza, e faz um belo trabalho por lá. Excelente conteúdo.

  • Blog Paleodiário
http://paleodiario.blogspot.com.br/
O excelente Hilton Souza traduz para o Português vários artigos interessantes, e o faz com muita rapidez e competência. Não deixe de ler especialmente os artigos traduzidos do http://www.marksdailyapple.com/


  • Site Emagrecerdevez.com
http://emagrecerdevez.com/
Grandes incentivadores do low carb, o Rodrigo Polesso e o Geosh fazem um excelente trabalho ao manter um site bastante profissional, com um fórum para seus leitores. Já gravei alguns podcasts a convite dessa dupla - uma experiência bem interessante. Ah, sim, e tem o Livro eletrônico do Rodrigo, disponível por lá. Quase todos os dias recebo novos leitores no meu blog, que me descobriram através do emagrecerdevez.

  • Blogs de corredores low carb
Não adianta muito perguntar para mim como se preparar para uma meia-maratona low carb - pergunte para que faz isso na prática:



O blog do professor Adolfo Neto é um MUST para quem se interessa por corrida no contexto low carb. E o Adolfo está sempre presente nas redes sociais - grande fonte de informação para vocês, corredores, que não encontram apoio nos profissionais de saúde da antiga escola (gel de açúcar, etc).
O Carlinhos, educador físico e corredor aqui de Porto Alegre, é o autor do blog acima - gente boa, com quem já tive a oportunidade de saborear um churrasco. Sabe muito sobre low carb e corrida, além de escrever bons textos sobre dieta-esporte-evolução.

Blog de corrida low carb do Augusto Verrengia, o famoso corredor retratado na reportagem da revista Runners sobre dieta low carb páleo para corredores. Está recém começando, e já está ótimo.


  • Blog da Cláudia Vilaça
http://claudiafitblog.blogspot.com.br/
Fisiculturista brasileira de 51 anos (acreditem), que obteve os resultados que vocês vêem nas fotos sem NADA de carboidrato - em dieta totalmente cetogênica. Cada vez que eu digo aqui no blog que um pouco de carboidrato no pós-treino pode ajudar a ganhar músculos, lembro da Cláudia como exemplo vivo de que isso até pode ser verdade, mas não é essencial.


  • Blog/site Mais Gordura, Menos Carboidratos
http://maisgorduramenoscarboidratos.com/
Escrito por uma sueca que mora no Brasil desde 2006, o nome do blog já diz tudo, não é mesmo! Grande quantidade de receitas - e todas as que eu olhei são compatíveis com o que apregoamos aqui. E o VISUAL das receitas é ALGO.


  • Nutri das Panelas
http://nutridaspanelas.blogspot.com.br/
Blog de receitas da Polyana Freitas. Mando todos meus pacientes para ela - preciso dizer mais?


Há outros blogs (ver na coluna da direita, ao lado), e todos os dias surgem mais. Vamos prestigiar o belo trabalho destes dedicados colegas que ajudam a divulgar estas informações em Português. Nosso mercado editorial continua sendo um deserto (com algumas poucas exceções, como essa, essa e essa), mas nossa blogosfera está viva, brilhante e efervescente.

O teste dos gêmeos

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Estou em férias, fora do Brasil, com acesso apenas eventual à internet. Mais do que isso, não trouxe computador - apenas o celular.

Por este motivo, tenho estado ausente das repostas e das postagens.

No entanto, uma notícia veiculada pela mídia fez com que várias pessoas me mandassem emails - e me obrigou a testar o aplicativo do blogger para Android - afinal, não podia deixar passar essa notícia sem resposta...

Trata-se de um programa, veiculado na BBC, no qual 2 médicos jovens, saudáveis e sem sobrepeso resolveram fazer dieta: um deles, low carb; o outro, low fat.

Resulta que o que fez low carb perdeu mais peso, como esperado, mas o resto da notícia é uma sequência de erros. Os mais notórios foram o fato de que o que fez low carb se forçou a não comer salada nem frutas - e todos os leitores deste blog sabem que o que se advoga é uma dieta onde a salada é o principal em termos de quantidade, e que frutas de baixo índice glicêmico podem e devem ser consumidas; o fato de que o sujeito percebeu uma queda na performance esportiva, mas não deu tempo para que ocorresse a ceto-adaptação; o fato de ter sido afirmado que um perdeu mais músculos do que o outro quando o teste usado (bioimpedância) simplesmente não mede massa muscular; e o fato de o "teste de agilidade mental" usado ter sido um jogo de azar que nada tem a ver com habilidade mental. A parte sobre diabetes, então, é de uma ignorância atroz (ver http://lowcarb-paleo.blogspot.com/2013/07/low-carb-e-diabetes.html e http://lowcarb-paleo.blogspot.com/2013/09/por-que-glicemia-de-jejum-pode-aumentar.html)

Mas o Hilton Souza traduziu em tempo recorde a postagem do Andreas Eenfeldt sobre o assunto, e reproduzo a mesma abaixo, para vocês:

http://paleodiario.blogspot.com.br/2014/02/acucar-x-gordura-na-bbc-qual-e-o-pior.html

Açúcar x Gordura na BBC: Qual é o pior?

Artigo traduzido por Hilton Sousa.

Açúcar ou gordura, qual é o pior? Essa é a questão no documentário da BBC "Açúcar x Gordura", que foi ao ar outro dia. E fazia muito tempo que eu não recebia tantos emails pedindo comentários!

É uma configuração interessante. Dois gêmeos idênticos - ambos médicos - entram numa dieta por um mês. Um, em uma dieta extremamente pobre em gorduras, outro numa dieta extremamente pobre em carboidratos (nem verduras são permitidas!).

Infelizmente, eles acabam basicamente "confirmando" as suas idéias preconcebidas. Pronto? Aqui vai o resumo da história:

Resultado
Obviamente, quando só há uma pessoa em cada braço da dieta, o acaso tem um papel enorme. Mas eu acho que os resultados foram mais ou menos o que poderia ser esperado. Minhas objeções são mais voltadas às explicações ignorantes (ou dramatizadas para a TV).

Peso
As primeiras coisas, primeiro. Ainda que ambos irmãos estivessem razoavelmente em forma ao iniciar, o irmão low-carb perdeu mais peso: 4kg, versus apenas 1kg do irmão low-fat.

Como estudo após estudo mostra uma maior perda de peso numa dieta low-carb, isso não deveria ser surpresa. A perda de gordura foi de 1.5kg no low-carb (um bom resultado em 1 mês) e 0.5kg no low-fat. A maior parte do resto da perda foi provavelmente água. Em uma dieta low-carb muito estrita, você perde rapidamente 1 ou 2kg em glicogênio e água.

Quanto de massa muscular os participantes perderam (se é que perderam) é impossível saber, visto que o BodPod (N.T.: o aparelho usado para a medição) só mede a massa de gordura versus a massa não-gordura (incluindo água).

Função cerebral
Para testar a função cererbral dos irmãos, os produtores escolheram fazê-los comprar e vender ações com dinheiro de mentira.
Isso mostra que o produtor é ignorante ou está apenas interessado num show dramático. Por quê? Porque negociação de ações a curto-prazo - sem informação privilegiada ou outros truques ilegais - é um jogo de azar simplesmente. Já foi convincentemente mostrado que um macaco treinado tem 50% de chance de ganhar de um operador de ações com educação formal. Por quê? Porque é aleatório.
Em outras palavras, o teste é um lixo, mas o irmão low-fat venceu (qualquer um dos dois tinha 50% de chance de ter vencido).

Mais interessante e relevante é que o irmão low-carb reclama de se sentir "com a cabeça pesada". Eu tenho certeza de que ele foi honesto. Entrar numa dieta extremamente low-carb - sem nem verduras - pode resultar sim em problemas de concentração, etc, por uma semana ou mais, antes que o corpo e o cérebro se adaptem a queimar gordura e corpos cetônicos.

Esse problema pode ser parcialmente resolvido aumentando a ingesta de fluidos e sal. E depois de uma ou duas semanas, normalmente ele passa. (Nota do tradutor - 90% desse blog foi escrito com menos de 50g de carbs por dia - julgue se isso prejudiou a minha função cerebral).

Exercício
Para testar a capacidade deles se exercitarem, os irmãos fazem "longas sessões de bicicleta morro acima". O irmão low-carb previsivelmente perde feio.
Por quê? Duas coisas: o corpo precisa de semanas ou às vezes meses para se adaptar a exercício de alta intensidade, usando majoritariamente gordura e corpos cetônicos. E mesmo assim você ainda pode precisar de carboidratos para esportes explosivos e anaeróbicos como esse.
Eu entrevistei o Dr. Peter Attia, que corre com sua bicicleta tranquilamente por horas, em uma dieta muito pobre em carboidratos. Mesmo ele usa um pouco de amido de liberação lenta para maximizar a performance de suas longas sessões de treinamento:

Diabetes
Finalmente, a cereja no bolo (da diabetes). O doutor afirma que o irmão low-carb tornou-se "quase" pré-diabético comendo low-carb! A palavra "quase" deveria ser na prática interpretada como "não". Eu me pergunto se o doutor conhece a base sobre low-carb e diabetes. De fato, me pergunto quanto ele conhece de diabetes.
O irmão low-carb tem uma glicose de 5.1 antes da dieta (normal) e uma glicose de 5.9 depois da dieta (normal). Você percebeu a palavra "normal" duas vezes ? Sim, é isso mesmo - um glicose em jejum de até 6.0mmo/L é considerada normal, ao menos na Suécia (nota do tradutor: a unidade de medida utilizada na Europa é diferente da nossa - percisa multiplicar por 18). Ela também varia significativamente de um dia para o outro. Se testássemos a glicose em jejum do próprio médico, ela poderia ser 5.9 hoje e 5.1 amanhã.

O resultado poderia ser devido ao acaso, mas a glicose em jejum às vezes fica levemente mais alta numa dieta LCHF (leia http://lowcarb-paleo.blogspot.com/2013/09/por-que-glicemia-de-jejum-pode-aumentar.html) , enquanto os níveis de glicose durante o dia (após as refeições) é muito menor. Isso é provavelmente porque o corpo está adaptado a queimar gordura e então a necessidade de queimar glicose em jejum é mais baixa. Então você não tem a mesma "queda" nos níveis de açúcar, quando em jejum.

Eles também fizeram testes de tolerância à glicose - um teste muito mais relevante. Mas o resultado do irmão low-carb nunca é mencionado. Eu acho que estava normal.

O fato de que a diabetes é efetivamente tratada com uma dieta low-carb deveria nos dizer tudo o que precisamos saber. Você não desenvolve diabetes tipo 2 ao comer uma dieta que pode curar a diabetes. E você certamente não desenvolve diabetes tipo 2 (fortemente correlacionada à obesidade) perdendo 4kg de peso excessivo em 1 mês.

RESUMO
O documentário conclui que não é sobre gordura ou açúcar, e sim sobre evitar comidas processadas com ambos, açúcar e gordura, nela. Eu tenho certeza que essa estratégia funcionaria bem para esses dois irmãos razoavelmente em forma. É um excelente início. Mas não é suficiente para todo mundo.

Em pessoas com obesidade e diabetes, estudos convincentemente mostram que dietas low-carb são mais efetivas.

Finalmente, enquanto uma dieta low-carb super estrita não é necessária para todo mundo e tem possíveis efeitos colaterais (especialmente durante as semanas iniciais), ela certamente não resutla é diabetes. Isso é simplesmente ignorância.

Dr. Andreas Eenfeldt

Vegetarianismo

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Já recebi várias vezes perguntas de leitores vegetarianos.

E compreendo que há motivos éticos e filosóficos para a adoção deste estilo de vida. Mas não de saúde.

Para quem é vegetariano por motivos não relacionados à saúde, é possível adaptar uma dieta low carb e até mesmo um pouco páleo. Para quem é vegano, bem, é complicado...

A primeira ponderação é a seguinte: folhas verdes não têm calorias, e uma dieta vegetariana, na ausência de carne, pode descambar facilmente para o junk food - afinal, pães, massas, bolos, croissants, batatas fritas, tudo isso e vegetal, não é mesmo?

Assim, os princípios permanecem os mesmos.

  • A maior parte das calorias deve vir de gorduras (abacate, nozes, castanhas e amêndoas, azeite de oliva e óleo de coco - e nada de óleos extraídos de sementes). Se consumir laticínios - coma queijo e manteiga; se consumir ovos - melhor ainda. Se consumir peixes, faça-o todo os dias.
  • O Açúcar está banido, não importa se for mascavo, agave, etc.
  • Os grãos (especialmente os que contém glúten) devem ser eliminados.
  • Sobre as frutas, aplicam-se as mesmas dicas descritas aqui
  • Proteína de soja deve ser evitada (saiba mais)
  • Se você não tiver problemas de auto-imunidade, coma feijão e lentilhas para ajudar a suprir a falta de proteínas
  • Há um autor que tem um ebook sobre como formular uma dieta vegetariana low carb, high fat, obtendo as proteínas a partir de Whey.
Todo o vegetariano deveria ler este livro:



Mas a leitora Eliana me fez um GRANDE favor. Há um texto maravilhoso, de uma ex-vegana, que há horas eu penso em traduzir, mas não tenho tempo. Muito do que está no livro acima, está também neste texto, que a leitora Eliana fez a gentileza de traduzir. Segue o texto:

VEGAN NUNCA MAIS – A HISTÓRIA DE UMA VEGAN EM RECUPERAÇÃO


Nota: Esta é a história de uma ex-incondicional vegan que desistiu de ser vegan  e voltou a comer carne. O veganismo a estava destruindo fisicamente e isso lhe trouxe uma revelação: os seres humanos precisam comer carne. Ela percebeu que o veganismo era uma incoerência para sua existência humana. Talvez um triste comentário sobre radicalismo do movimento vegan é que esta pessoa recebeu toneladas de mensagens de ódio por ter contado sua históriaincluindo ameaças contra ela e sua famíliaPara aqueles que desejam debater a história, eu também postei isso no forum de debate vegetariano (Vegetarian Debate Forum).


Muitos de vocês sabem que venho recentemente lutando com problemas de saúde, pela primeira vez em minha vida. Quando descobri que meus problemas estavam diretamente relacionados com  minha dieta vegan, eu fiquei devastada. Dois meses atrás, depois de aprender da maneira mais difícil que nem todas as pessoas são capazes de manter a saúde sendo veganas, eu tomei uma das mais difíceis decisões de minha vida e desisti do veganismo, voltando a comer uma dieta onívora. Minha saúde foi imediatamente recuperada. Esta experiência tem sido despretensiosa, reveladora e profundamente transformadora. Para saber toda a história, apenas continue lendo...

Parte 1 - Impacto na saúde

A primeira vez que a médica me disse que eu estava com numerosas deficiências de vitaminas e minerais, que eu estava quase anêmica e que minha vitamina B12 estava tão baixa que ela quis me dar uma injeção imediatamente, eu me recusei a acreditar nela. Eu pedi a ela para me mostrar os resultados dos exames de sangue porque eu pensei que havia algum erro. Mas não havia nenhum erro, estava ali em preto e branco; deficiências e anormalidades por todos os lados.

Os resultados explicavam perfeitamente o motivo de eu me sentir fraca e exausta por mais de seis meses. Embora anteriormente eu tenha vivido para me exercitar e fazer uma hora de elíptico não era suficiente para mim, vi que posteriormente fazer mais de 20 minutos em ritmo calmo me fazia querer passar o resto do dia na cama me recuperando. Quando eu podia dormir até meio-dia, eu me sentia tonta quando me levantava, eu não podia me lembrar de simples palavras ou nomes de meus amigos, e eu sentia muito frio, mesmo no meio de um sufocante verão árabe. Dentre os inumeráveis sintomas que eu listei aqui e aqueles que não irei descrever publicamente, o pior de todos era a minha depressão. Este terrível e persistente inimigo contra o qual eu tenho lutado de modo intermitente, voltara sorrateiramente à minha vida, pintando as bordas do meu mundo de um preto doentio e roubando a alegria que eu havia lutado tanto para recuperar.

A médica, que era gentil e muito compreensiva, era surpreendentemente conhecedora de dietas veganas e tinha uma longa carreira em nutrição. Após descartar qualquer outro possível problema de saúde, ela pacientemente falou, em meio às minhas lágrimas e soluços, e explicou que - sim – humanos são mais saudáveis quando comem grande quantidade de variados vegetais, mas que estaríamos errados ao ignorar as pequenas quantidades de produtos animais que muitos de nós necessitamos tanto. “A maioria dos corpos humanos funcionam muito bem com produtos animais ocasionais. Ovos e pedaços de carne de vez em quando são uma pequena mas muito importante parte de uma dieta saudável.” Ela me disse isso com uma expressão de tristeza em seu rosto, porque ela podia ver o quanto aquilo era difícil para mim.

Ela me disse que enquanto há pessoas que conseguem muito bem ser saudáveis sendo veganas ou cuja dieta seja predominantemente vegan, há muitas pessoas que simplesmente não conseguem. Afinal, cada ser humano é biologicamente e psicologicamente diferente, ela explicou. Eu ouvi pacientemente, refutando suas afirmações com o conhecimento que eu havia adquirido ao longo dos anos. Afinal de contas, eu não era uma vegan comum, eu era radical, determinada e oh uma vegan tão crítica dos outros e tão "evangelizadora"!. Eu nunca deixei passar uma oportunidade de dar algum sermão. Ela estava preparada. Com muita paciência, ela me explicou como muitos dos “fatos” que eu estava citando estavam simplesmente errados ou foram apresentados de um jeito que distorceu a verdade. Foi horrível e eu quase desmaiei no consultório, porque eu estava muito agitada.

Ela respeitava o fato de que eu estava convicta a permanecer vegan e trabalhou isso comigo por mais de uma hora para tentar entender como eu podia maximizar os nutrientes em minha já  maravilhosamente  saudável dieta vegan. De acordo com ela, eu já estava fazendo tudo certo. Juntamente com algumas sugestões na dieta, ela também recomendou uma variedade de suplementos, além dos que eu já tomava diariamente, inclusive comprimidos de ferro.

Eu permaneci em silêncio quando ela me deu uma injeção de vitamina B e tentei não chorar enquanto esperava na fila da farmácia pelos meus comprimidos de ferro, e quando eu cheguei em casa, escondi os papéis e a caixa de comprimidos atrás da mesa de cabeceira. Não contei a ninguém durante dias, nem mesmo para Cody. Eu havia falhado e este seria meu pequeno segredo sujo.

Durante uma semana eu tomei os comprimidos de ferro obedientemente, de certo modo ignorando o fato de eles não serem veganos. Eu senti uma certa melhora imediatamente após a injeção de vitamina B e estava esperando o mesmo efeito dos comprimidos de ferro. Infelizmente, era óbvio após poucos dias, que eles estavam me deixando doente. Eu não conseguia manter a comida no estômago e passava horas no banheiro, alternando entre ficar debruçada ou sentada no vaso sanitário. Eu estava perdendo peso e me sentindo pior do que nunca.

Eu voltei ao consultório e, tão paciente como nunca, a médica disse que obviamente eu não estava tolerando bem os comprimidos. Eu sou sensível a praticamente todos os medicamentos, mesmo Advil me faz passar mal, então não foi nenhuma surpresa. Ela me pediu se eu podia considerar a inclusão de alguns ovos em minha dieta todos os dias. Eu balancei a cabeça, alguns ovos não podiam realmente ter tanta importância. Ela explicou que sim, eles realmente tinham. Mas eu ainda disse não. Absolutamente não. Depois de mais uma longa sessão de aconselhamento, ela prescreveu outro tipo de suplemento de ferro. Mais uma vez eu tentei lutar contra as lágrimas na farmácia.

A nova série de comprimidos foi ainda pior. Eu preferiria me sentir fraca, tonta e deprimida do que violentamente doente. Após 2 semanas eu joguei os comprimidos no lixo e voltei novamente ao médico.

Ela conversou longamente comigo, explicando mais uma vez, e com grandes detalhes, exatamente como a dieta vegan estava prejudicando meu corpo. Nutrição é uma ciência extremamente inexata; ninguém entende perfeitamente a complicada dança das vitaminas e minerais, muito menos a sinergia dos alimentos integrais e seu papel em nossa saúde. Mas ela tentava me mostrar uma análise abrangente, de forma que eu pudesse entender. Ela explicou sobre o ferro heme, a falta de nutrientes específicos que conduzem diretamente à depressão e à ansiedade, conversou em detalhes sobre a vitamina A, taurina, retinol, betacaroteno, vitamina D, ácidos graxos ômega, assim como a B12 e sobre os resultados desastrosos e irreversíveis  para a saúde que podem ocorrer quando o corpo finalmente depleta seus últimos estoques dessa crucial vitamina e muito mais.

Explicou como os problemas de saúde que nos afligem no mundo ocidental não são causados por produtos animais, longe disso. Os seres humanos vêm consumindo animais (em muito maior quantidade do que atualmente) por milhões de anos sem efeitos prejudiciais, e historicamente nunca houve uma única cultura vegan. Precisamos prestar atenção nas recentes adições à nossa dieta para descobrir as causas de nossas pragas modernasaçúcar refinado, óleos vegetais hidrogenados, gorduras trans, farinhas refinadas, produtos químicos tóxicos e a desnaturação de todas as formas de alimentos industrializados. De acordo com ela, evitar produtos animais orgânicos e saudáveis era não somente desnecessário para a saúde, mas na maioria dos casos positivamente prejudiciais ao nosso bem-estar.

“Veja, ela concluiu, “para muitas pessoas, talvez a maioria, uma dieta baseada somente em vegetais não é uma boa coisa. Isto obviamente não está funcionando para você e não há nada do que se envergonhar. O corpo humano tem evoluído para utilizar saudavelmente e de forma eficiente a carne, não comprimidos ou pílulas. Você vem tomando suplemento de vitamina B12 durante anos e tentando tomar suplementos de ferro há semanas, mas eles simplesmente não estão sendo utilizados por seu organismo. Suplementos são um substituto muito pobre para alimentos integrais. Tomar medicamentos não é a melhor opção e isto não é necessário; você poderia certamente recuperar sua saúde com uma dieta equilibrada. Minha recomendação é que você tente fazer isso.

Eu balancei a cabeça em silêncio.

“Desculpe, eu simplesmente não posso e não vou fazer isso”, disse a ela pela milionésima vez, enxugando as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. “Isso simplesmente não vai acontecer. Eu não me importo o quão doente estou. É errado comer animais! "

Ela se inclinou sobre a mesa e fez mais um apelo para que eu pensasse mais cuidadosamente sobre minha saúde e bem-estar. “Natasha, você está prejudicando a si mesma. Você está muito, muito doente. Seu cabelo está caindo, sua depressão voltou e você está fazendo mal a si mesma. Você não pode continuar assim.”

Eu a encarei por vários segundos, então me levantei e saí da sala.

Voltei a dar seguimento às injeções de vitamina B dentro do cronograma (e várias visitas a outros vários tipos de médicos, incluindo um cardiologista – falarei mais sobre isso mais tarde), mas eu estava apenas sendo levada,  sempre me negava a pensar nos sérios problemas de saúde que eu vinha tendo, era tudo tão doloroso.

Continuei a comer saudavelmente, como sempre fiz. Um maço inteiro de verduras todas as manhãs em minha vitamina de frutas, feijão quase todos os dias, toneladas de frutas cítricas de lanche nos intervalos do almoço, tofu, patê de nozes, grãos integrais, grãos germinados, vegetais grelhados e, claro, minhas vitaminas diárias; toda a comida deliciosa e linda que eu adorava. Supunha-se que esta dieta iria me manter saudável, além de salvar o mundo e não me fazer ficar doente. Tudo que já tinha sido dito por veganos pregava que esta era a forma ideal de os seres humanos se alimentarem.

Eu desejei desesperadamente que isto estivesse correto, para que minha ética prevalecesse sobre minha fisiologia.

Obviamente, eu nunca questionei porque eu estava sempre com fome. Nem porque dois hambúrgueres vegetarianos, uma salada gigante de vegetais crus e uma tigela de nozes não podia me manter satisfeita por mais de duas horas. Era exaustivo, psicologicamente difícil e entediante tentar me manter alimentada, mas eu achava que valia a pena. Eu era saudável. Ao menos era o que eu pensava até que foi provado o contrário. Eu ainda não sei porque aceitei por tanto tempo que esse cansaço, essa exaustão e depressão crescente eram uma parte normal da vida, que isso era o esperado com o avanço dos anos. Afinal, tenho apenas 28 anos e nunca em minha vida tive problemas de saúde. Mas o fato é: eu queria que o veganismo funcionasse. Eu queria desesperadamente que isto estivesse correto, para que minha ética prevalecesse sobre minha fisiologia.

Eu delicadamente abordei o assunto do meu problema de saúde com vários amigos veganos. Ainda fiz comentários em outros blogs e no twitter, destacando minhas lutas. A resposta não foi nada menos do que chocante. No espaço de poucos dias, recebi uma enxurrada de emails de colegas blogueiros “veganos”, que me confidenciaram que eles não eram realmente veganos “por trás dos panos”. Eles comiam ovos, ocasionalmente peixe ou um pedaço de carne, tudo para se manterem saudáveis, mas era muito assustador para eles admitir isso em seus blogs. Também recebi emails de dois proeminentes e respeitados membros da comunidade vegan AR. Um deles era um autor muito querido de um livro de receitas veganas, o outro um famoso blogueiro dos direitos dos animais e seus emails detalhavam suas lutas para manter a saúde, o que os levou, sem o conhecimento de outras pessoas,  a  voltar a comer carne. Muitas pessoas me mandaram links de outros veganos que estavam lutando com o veganismo com relação aos problemas de saúde e foram forçados a voltar a comer animais e produtos animais, ou decidiram parar de seguir uma dieta vegana, tais como: Raw Model, Debbie Does Raw, Daniel Vitalis, Sweetly Raw, Chicken Tender, The Non-Practicing Vegan, e PaleoSister, para citar apenas alguns. Era estimulante saber que eu não era a única sofrendo desse problema, e, quanto mais eu ouvia, mais parecia que eu não estava  mesmo na minoria.

Infelizmente, também numerosas pessoas entraram em contato comigo para me oferecer conselhos não solicitados e muitas vezes desrespeitosamente arrogantes. Eles quiseram ter a certeza de que eu havia entendido que eu somente estava doente porque eu estava “fazendo veganismo incorreto”. “Você tem experimentado mais verduras/feijão/tofu/nozes?” As perguntas eram implacáveis. Eu estava perplexa com as sugestões para que comesse goji berries importadas, usasse maca em pó em minhas vitaminas ou comesse mais espirulina. Todas essas exóticas recomendações eram supostamente necessárias para que eu ficasse saudável numa dieta que é preconizada como natural e ideal; aquilo absolutamente não fazia sentido.

Muitos mais veganos apenas reviraram os olhos, descaradamente céticos de que eu estava me sentindo mal, a começar daí. A percepção de que as pessoas que eu considerava anteriormente como amigas estavam agora com toda energia  recusando-se a acreditar na veracidade dos meus problemas de saúde, foi chocante. Poderiam honestamente pensar que eu desistiria do veganismo imediatamente? Eles realmente acreditavam que eu não havia tentado de tudo ao meu alcance  antes de realizar essa mudança? “Passe um dia em meu corpo que mal consegue andar de exaustão, sentindo tonturas, frio e depressão, e então julgue-me!” Eu queria gritar para eles. Mas não o fiz. Eu somente parei de falar sobre isso.


Depois disso, continuei em silêncio por vários meses. Eu menti para mim mesma, para meus leitores, para o mundo, dizendo que eu me sentia saudável e bem, quando na realidade eu me sentia pior do que nunca. Durante esse tempo eu fui de médico em médico e tentei cada sugestão e recomendação, esperando desesperadamente por uma cura. Eu estava determinada a fazer o veganismo funcionar; estava sempre convencida de que eu iria encontrar uma solução, assim que dobrasse a esquina. Tentei evitar o assunto dos meus problemas de saúde com meus colegas veganos, me sentindo mortificada por eles insistirem em que aquele que não podia ser saudável com uma dieta vegan obviamente “não estava fazendo a coisa certa”. Eu queria gritar, mas me mantive calada, ouvindo suas arrogantes e ignorantes opiniões sobre o porquê de tantas pessoas “falharem” no veganismo. Alguns deles até sugeriram que aqueles que não podiam permanecer saudáveis como veganos deveriam, voluntariamente, sacrificar sua saúde pela causa. Como feminista, essa retórica de ódio ao corpo me enfurecia. A voluntária participação na negação e degradação das minhas necessidades físicas cheirava a machismo, controle patriarcal e violência contra o corpo feminino, e tudo aquilo que eu lutava contra. Mas, mesmo assim, mantive minha boca fechada. Eu não sabia mais o que fazer.

Durante 3 anos eu construí a minha vida inteira na premissa do veganismo. Era a paixão da minha vida, a luz que me guiava. Ser vegan era tudo para mim. Eu acreditava que minhas ações me faziam uma  ativista  dos direitos dos animais; eu estava salvando vidas e mudando o mundo. Agora sei que não é assim,    mas levou um longo tempo para que eu percebesse isso. Durante meses fui consumida por minha doença auto-induzida, mas ainda não podia abandonar o veganismo; eu não podia parar de lutar por aquilo em que acreditava. Mesmo que aquilo estivesse me prejudicando.

Parte 2 – Cura

A primeira mordida que dei em um pedaço de carne após 3 anos e meio de veganismo foi, ao mesmo tempo, a coisa mais difícil e a mais fácil que eu já tinha feito. Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto a saliva enchia a minha boca. O mundo ficou reduzido a um insignificante vazio e eu só comia, comia e comia. Chorei de tristeza e de raiva, enquanto suspirava de prazer e alegria. Quando terminei a última mordida, recuei e esperei começar a passar mal. Eu acabara de devorar um pedaço de animal morto, a coisa mais cruel que eu poderia imaginar e certamente meu corpo iria rejeitar essa degradação e então eu seria absolvida, o que significava que eu realmente devia ser vegan.

Eu me senti profundamente feliz por finalmente ouvir a sabedoria do meu corpo.

Em vez disso, meu rosto estava corado, minha mente serena e meu estômago cheio, mas… busquei uma palavra para descrever como me sentia… confortável. Percebi que, pela primeira vez em meses, eu me sentia saciada sem sentir dor de estômago. Eu havia comido somente um pequeno pedaço de carne de vaca e mesmo assim me sentia totalmente saciada, mas ainda leve e revigorada, tudo de uma vez. Eu estava radiante com aquela nova e inesperada combinação de sensações. Como era incrível não ser mais necessário comer durante uma hora inteira até meu estômago ficar esticado e distendido sobre minhas calças, apenas para ganhar uma hora ou duas de saciedade. Que maravilhoso ser capaz de comer a exata a comida que há muito tempo meu corpo estava pedindo. Eu me senti profundamente feliz em finalmente ouvir a sabedoria do meu corpo. Que revelação.

Foi então que percebi algo estranho: meu coração estava batendo devagar, compassado. Normalmente, após uma típica refeição com vegetais, arroz e feijão ou outra comida rica em amido, meu coração galopava e pulava  por uma hora ou mais depois. Várias consultas com um cardiologista, mais exames de sangue, eletrocardiograma e um ecocardiograma confirmaram que meu coração estava em perfeita ordem. O cardiologista me explicou que  as palpitações que eu sentia após as refeições eram um sintoma de minhas deficiências, mas eram também um sinal da instabilidade da glicose no meu sangue, causada pelo alto teor de carboidratos que eu estava consumindo. Agora, após comer um único pedaço de carne, meu coração batia forte,   compassado e lento. Isso me fez chorar por todos os cantos de novo, desta vez de alegria.

Nos últimos dois meses, eu tenho comido diariamente peixe, um pedaço de carne ou ovos. Para meu constante espanto, percebi que consigo digerir um bife com vegetais muito, muito melhor do que eu digeria grãos integrais/nozes/vegetais. Agora sei que a teoria lipídica é completamente infundada, esses alimentos de origem animal não irão me prejudicar ou fazer com que eu fique doente, de forma alguma; na verdade, as vitaminas e minerais que eles fornecem, juntamente com o colesterol benéfico e a saudável gordura saturada, irão restaurar a minha saúde. E eles têm feito isso. Há poucas coisas tão saudáveis e nutritivas quanto produtos animais orgânicos, alimentados com grama. Assim, nos últimos meses, eu tenho comido animais e produtos animais todo santo dia. E eu posso falar com um grande e agradecido sorriso no rosto: Eu estou de volta! Após um mês em minha nova dieta, meus exames de sangue já estavam normais, ou quase normais. Após dois meses, cada uma das deficiências e valores que estavam fora da normalidade foram completamente restaurados para níveis normais e saudáveis. Não tive nenhum problema. Nenhum.

Sempre dizem que você só sabe o que é ter saúde quando você a perde. E eu nunca percebi o quanto estava doente até começar a me sentir melhor. Radiante é a única palavra que eu poderia usar para começar a descrever como me sinto agora. Se eu fosse uma mulher religiosa, milagrosa deveria ser a palavra de escolha para expressar a transformação que sofri nos últimos dois meses. Estou encantada com minha saúde agora; deleitando-me com o comando claro e preciso dos meus pensamentos, a força das minhas pernas quando corro, o calor que irradia da minha pele, a força melódica e lenta do meu coração e o perfeito conhecimento do meu corpo quando ele me fala exatamente o que devo comer, quanto e quando.

Comer carne todos os dias tornou-se incrivelmente fácil porque era exatamente o que eu estava precisando todo o tempo.

Minha dieta é agora, obviamente, muito, mas muito diferente do que era antes. No começo, quando a médica sugeriu que eu comesse pequenas porções de carne ou ovos diariamente para recuperar minha saúde, entrei em pânico. Que nojento, pensei. Certamente eu teria que forçar esses alimentos dentro da boca e seria uma batalha somente para engolir aquilo sem vomitar imediatamente. A médica apenas sorriu e me disse para observar o que eu queria. Não aquilo que eu pensava que devia comer, mas aquilo que eu honestamente, realmente queria. Isso imediatamente afetou meu lado emocional. Então, com o apoio de minha médica, eu realmente ouvi o meu corpo pela primeira vez em anos. E, talvez sem nenhuma surpresa para mim, me encontrei  regressando para o modo como eu havia me alimentado toda a minha vida antes de me tornar vegan, de volta aos anos em que eu me sentia saudável e invencível e quando nunca precisei lidar com as quedas bruscas de açúcar no sangue, com oscilações de humor e fome insaciável, que era acompanhada de barriga estufada e inchada. Comer carne diariamente tornou-se extremamente fácil porque era disso que eu precisava durante todo o tempo.

As mudanças que experimentei eram diversas e ocorreram tão rapidamente e decisivamente, que eu quase não podia acreditar. Dentro de uma semana eu já podia me levantar sem enxergar pontos escuros nos olhos e eu estava dormindo tranquilamente a noite inteira. Para meu alívio, minhas constantes dores de estômago e inchaço desapareceram completamente. Em duas semanas, pude notar que minhas alergias estavam diminuindo, mesmo na época em que todas as árvores e flores estavam começando a florescer em nossa vizinhança. Também nessas duas semanas, eu não precisava mais colocar um agasalho apenas para me sentar no sofá e meus dedos dos pés e das mãos não estavam mais parecendo estar congelados. Na terceira semana, eu já conseguia completar 20 minutos de exercício aeróbico leve sem sentir tonturas ou náuseas, algo que eu tinha sido incapaz de realizar durante meses. Nessas 3 semanas, também notei a mais incrível mudança de todas: minha depressão estava diminuindo. Dias se passariam até que eu não mais caísse num choro convulsivo durante horas, ou estivesse em estado letárgico. Em 4 semanas, notei três coisas muito estranhas: minha misteriosa dor lombar, que vinha me aborrecendo por quase um ano, havia desaparecido, embora eu não tivesse mudado o tipo de calçado ou feito qualquer fisioterapia; a pele do meu rosto estava exuberante e viçosa e as linhas finas que eu achava que eram um sinal por eu estar perto dos 30, estavam tão atenuadas que mal podiam ser percebidas, embora eu não tivesse mudado nada nos cuidados de rotina da minha pele; e, finalmente, notei que meu cabelo estava farto, brilhante e muito mais encorpado do que esteve durante anos, embora eu não tivesse mudado nada em relação aos meus cuidados de rotina com eles.

E agora, após 2 meses completos de não-veganismo, eu posso honestamente dizer que me sinto renascida.

Na quinta semana, notei uma constante e permanente onda de energia que me acompanhou durante todo o dia. Comecei a me sentir capaz de executar tarefas, fazer exercícios e escrever, tudo no mesmo dia, sem necessidade de paradas frequentes para descansar. Fiquei esperando que a exaustão se apoderasse de mim… mas não vi sua cara feia nenhuma vez. Após 6 semanas, eu estava eufórica com minha força e energia e literalmente andava pela academia de boca aberta, admirando minha resistência e a nova força que encontrei. Eu era incansável.  Também em 6 semanas eu sabia com certeza, de um jeito que só uma pessoa com as cicatrizes da batalha contra a  depressão pode saber, que meus sentimentos de tristeza tinham ido embora para sempre. Alegria e a mais indescritível sensação de alívio e tranquilidade eram agora apenas um fato quando eu acordava pela manhã. E agora, após completar 2 meses de não-veganismo, posso dizer honestamente que renasci. Nem mesmo a palavra curada poderia descrever isso, porque foram ultrapassadas as minhas mais ardentes expectativas. Estou saudável, em forma e feliz, mais do que  me lembro de um dia ter sido. Meus dias estão abarrotados com horas de exercícios, além de  montar meu cavalo, passear com meus cachorros, rir com meus amigos, trabalhar, escrever e estou apenas levando uma vida simples. Eu me sinto mais saudável e forte (tão forte que nem tenho como descrever) do que me senti durante anos e isso não é algo que irei desistir novamente. Estou de volta!

Part 3 – Repensando minhas crenças

Três anos e meio de veganismo não somente me deixou exausta, depressiva e muito doente, mas também encheu minha mente de dúvidas e perguntas sobre a ética acerca do veganismo. Se realmente preciso comer animais para ser saudável, como isso pode ser tão errado? Isso tem sido uma jornada complicada e reveladora e agora eu me encontro numa situação muito diferente da que eu estava 3 anos atrás, um ano atrás, ou mesmo vários meses atrás. Talvez, se minha saúde não tivesse melhorado tão dramaticamente em consequência de eu ter voltado a comer carne, eu não estaria tão certa, mas acontece que ela melhorou extraordinariamente, e agora que eu tenho minha vida e felicidade de volta e que nunca mais desistirei disso. Resumindo: eu não posso mais pensar que é errado comer animais.

Vários anos atrás, eu acreditava que o veganismo combinava perfeitamente com minha determinação de remodelar drasticamente o mundo. Como feminista revolucionária e anti-imperialista, o veganismo parecia ser ainda uma nova maneira de lutar contra as injustiças que estamos enfrentando. Mas com o passar dos anos e com meu corpo devorando-se para conseguir o sustento que minha dieta vegan não podia fornecer, comecei a perder a vontade e a energia para fazer o trabalho vital que eu adorava tanto. Eu não tinha mais a clareza mental para escrever minhas famosas denúncias contundentes, ou energia física para ensinar, organizar e conseguir solidariedade. Eu estava perdendo as forças, aproximando-me de um colapso. Eu percebi que o veganismo e minha opção em comprar alimentos “livres de crueldade” estavam se tornando rapidamente meu único caminho para o ativismo. Era a única  coisa para a qual eu realmente não tinha mais energia. Como uma fanática radical, sempre fui contrária à ênfase do capitalismo nas soluções pessoais e me recuso a aceitar o mito dominante de que podemos comprar nossa saída da catástrofe. E ainda… com o declínio das minhas reservas de energia e meus problemas de saúde devastadores, percebi que era exatamente isso que eu estava fazendo. Quando tropecei nessas palavras de uma citação de Megan Mackin sobre veganismo: "Surge de uma maneira muito eficaz para fazer alguém se  associar a um movimento: pegam  o ativista mais compassivo, especialmente garotas, e fazem com que  o foco delas se mantenha direcionado para um  jeito de viver que drena energias e reforça a adesão de outros. Os rapazes continuam aderindo, mas agora mais livremente, sem muita interferência.

Finalmente, me forcei a aplicar a mesma ética que eu havia utilizado para analisar os alimentos vegetais a fim de analisar também os alimentos de origem animal, e tentei calcular o impacto global das escolhas dos meus alimentos. Logo percebi que eu tinha que fazer uma séria mudança. Como eu havia escrito anteriormente, os alimentos que eu estava comendo sendo vegan não salvaram mais vidas animais e não eram eticamente melhores do que os alimentos que estou comendo agora como onívora, com duas diferenças principais. Em primeiro lugar, agora não minto mais para mim mesma sobre o fato de que a vida requer a morte. Em segundo lugar, agora sou saudável. Assim como sempre foi, eu ainda me importo imensamente com o meio ambiente, o bem-estar dos animais e a política dos alimentos, mas meus conceitos de como fazer o meu melhor e efetuar a maioria das mudanças mudou drasticamente. Eu reexaminei a linha de partido do veganismo, que tem uma base moral, e admiti para mim mesma que eu nunca me senti confortável com a declaração arbitrária de que devemos desenhar uma linha na areia da ética. Na verdade, nos meus tempos de vegan, nunca deixei de procurar por uma solução ainda melhor e uma maneira mais ética de se viver. Acredito definitivamente que estou no caminho certo. Meus novos pensamentos não possuem mais os slogans apelativos do veganismo, tais como “Comer carne é assassinato”, mas eis aqui um rápido resumo:

Em uma daquelas estranhas coincidências que a vida está sempre colocando em nosso caminho, meus problemas de saúde causados pelo veganismo coincidiram com com um período intenso de ativismo pela justiça em relação aos alimentos em minha própria vida. Nessa época do meu trabalho como defensora dos direitos à alimentação eu tive muitas, muitas discussões com agrônomos, fazendeiros, agroecologistas e defensores dos países do hemisfério sul e aprendi como eu estava errada em minha convicção anterior de que o veganismo poderia salvar o mundo. Enquanto o veganismo apresenta uma solução para os problemas do mundo muito simples e fácil de entender, e além disso tem se tornado uma tentativa de estratégia politicamente correta, é no máximo um band-aid para a ecologia e para as crises de fome mundial que estamos enfrentando. A necessidade de fazer o mundo inteiro ser vegan com o objetivo de bloquear o aquecimento global ou prevenir a fome crônica é simples e indiscutivelmente falsa.

Como aprendi enquanto estava sentada aos pés dos principais ecologistas revolucionários do mundo e de defensores dos direitos da alimentação, a única maneira de a humanidade sobreviver de um modo sustentável e significativo é vivermos inteiramente dentro dos nossos sistemas alimentares locais, comendo plantas e animais que vivem naturalmente  em terras próximas. E isso não inclui, logicamente, milhões de acres de grãos, cujo cultivo é compreensível somente para lugares muito pequenos no globo. Para produzir a comida vegan que eu costumava considerar tão livre de crueldade, a agricultura moderna e industrializada força o crescimento das plantações na terra que são incompatíveis e antinaturais, priva o planeta de seus recursos, destrói ecossistemas inteiros, extermina espécies inteiras de plantas e animais e cria um caos de morte e destruição conforme mais e mais terras não cultivadas são necessárias para substituir as terras cultivadas.

Esta devastação planetária (e as implicações sócio-culturais resultantes) vem acontecendo muito mais do que o advento da exploração agrícola das fazendas industriais, que foram introduzidas somente nas últimas décadas. Claro que, como qualquer ser humano decente, eu abomino o mal que é a pecuária industrial, e me oponho à escravidão, tortura e abuso. Também reconheço que a produção em massa de grãos é o que leva à criação das fazendas industriais, em primeiro lugar; isto simplesmente não seria possível de outra maneira. Não produzimos tantos grãos porque queremos ter fazendas industriais; temos fazendas industriais porque estamos plantando uma avalanche de grãos. O veganismo, embora venha da premissa decente da compaixão, tem, em última análise, uma visão limitada e não resolve os nossos problemas. A única maneira de vivermos sem causar devastação a este planeta é através de alimentos genuinamente locais, de preferência não cultivados. E viver realmente de culturas locais, sem o consumo massivo de monoculturas industrializadas de grãos ou soja, em quase todas as partes do mundo, necessita o consumo de carne animal para sermos saudáveis.

Como vegan, não gosto de pensar sobre o fato de que sem os produtos dos resíduos animais, como ossos e sangue, a agricultura é, literalmente, um jogo perdido.

Partiu meu coração vegan saber o quanto é absolutamente essencial para os seres humanos abolir o uso de fertilizantes de combustíveis fósseis e reintegrar os animais de volta para a vida agrícola.

Sem matéria orgânica para alimentar as plantas e com solo empobrecido, a preciosa camada superior da terra irá morrer e nada poderá germinar, fato que estamos presenciando no mundo todo, onde milhões de fazendas dependentes de combustíveis fósseis estão entrando em colapso. Quando usamos recursos como água e comida para os animais, somos recompensados dez vezes. Não somente porque a água e a comida podem ser utilizadas novamente, como forma de adubo que alimenta o solo, de um jeito que a água sozinha não pode fazer, mas os animais são comidos por nós e os restos de seus corpos utilizados para alimentar a terra faminta. É chocante perceber que eu havia exposto a necessidade de transformar a agricultura e a produção sem mesmo conhecer o mínimo necessário daquilo que mantém um ecossistema saudável. Agora percebo que as estatísticas que usei para argumentar sobre devastação ambiental, consumo de água e grãos, poluição e doenças, eram todas baseadas em números provenientes das fazendas industriais e não da realidade da fazenda tradicional, local e específica, que é o único tipo de fazenda que pode curar o nosso planeta e a nós mesmos.

De agora em diante, irei escolher as mortes que mantêm a mim e ao planeta saudáveis.

Quando simplesmente deixei de defender um tipo de alimentação e comecei a ouvir as pessoas vivendo nas linhas de frente da luta global pela justiça dos alimentos, tive meus olhos  definitivamente abertos. Percebi que o veganismo nos remove do nosso lugar na ordem natural das coisas, nega nossa participação necessária na cadeia alimentar e faz com que o mundo natural entre num domínio alienígena que já não podemos entender totalmente. Veganos gostam de dizer que são nossas intenções  que importam, mas pergunto: “importam a quem?” Agora acredito que em vez de arbitrariamente decidir que as mortes causadas pelo veganismo são corretas, enquanto as mortes causadas por onívoros são imperdoáveis e que algumas mortes de animais poderiam ser evitadas a qualquer custo, enquanto outras são um mal necessário, sei que devemos abolir toda a hierarquia fabricada que construímos e chegar a um acordo em relação ao ciclo de vida e morte. Todos nós estamos conectados nesta terra e, afinal, a morte é uma parte necessária e inevitável da vida. Seja a morte de animais causadas por uma dieta vegan que impõe ao planeta um ciclo de produção antinatural e insustentável, enquanto falha em providenciar a muitos de nós os nutrientes necessários, seja pela morte de animais confinados, alimentados por fazendas integradas para fornecer sua alimentação da maneira tradicional, sempre haverá morte em nossos pratos. De agora em diante, escolherei mortes que mantêm saudáveis a mim e ao planeta.

Obviamente o planeta não pode sustentar 7 bilhões de pessoas de nenhuma maneira significativamente sustentável, vegan ou não vegan. Assim, para a nossa parte essencial, viver genuina e respeitosamente no meio ambiente não significa que todos nós devemos ser veganos, mas que se diminuirmos a taxa de natalidade e a população poderemos viver realmente da produção local. Em primeiro lugar e acima de tudo, isso exigirá um avanço nos direitos e poderes das mulheres no mundo (é realmente incrível quantas feministas têm poder para isso!). E, quanto à fome no mundo, todos vocês que têm lido meus artigos sobre este tema sabem que já existe comida mais do que suficiente sendo produzida para alimentar generosamente todas as pessoas no planeta. O capitalismo transformou a comida, especialmente os grãos, em mercadoria, em arma de guerra para dar lucro, em vez de um direito inalienável que deveria ser. Evitar a fome não é alimentar massas famintas com a mesma comida com que alimentamos os animais (a produção de comida em excesso e a comida que é jogada fora são as causas da fome, em primeiro lugar), mas as pessoas que estão constantemente famintas precisam se libertar das correntes do neo-imperialismo, para ganhar de volta o controle de seus sistemas alimentares locais.

A maioria dos ecossistemas neste planeta simplesmente não consegue suportar a agrigultura anual de grãos, e a insistência dos veganos para que os habitantes adotem um estilo de vida vegan está de qualquer forma prejudicando essas comunidades, porque eventualmente ocorrerá o esgotamento do solo e a fome será inevitável.

Na minha própria vida, minha decisão de voltar para a dieta onívora está reduzindo drasticamente minha emissão de carbono na atmosfera. A verdade que eu não gostava de enfrentar quando eu era vegan,  é a de que muitos lugares neste planeta não comportam a agricultura anual de grãos, mas sim um manejo misto de plantas e animais. A Arábia Saudita, onde vivo, é um desses lugares. Agora, em vez de eu me deleitar com grãos e feijão crescidos em países estrangeiros, cheios de pesticidas e cultivados através de métodos agrícolas insustentáveis para formar a maior parte da minha dieta, posso voltar meu foco para produtos animais locais, tais como cabras, carneiros ou frangos. Por exemplo, eu posso ir ao mercado local e comprar carne de cabra proveniente de rebanhos caprinos que pastam a poucas milhas daqui, em deserto aberto, pastoreados por beduínos, de oásis a oásis, numa tradição secular. Essas cabras fazem uso da terra seca e arenosa do deserto, que seria completamente impossível de ser usada para o cultivo agrícola, e bebem água de antigos poços artesianos. Se a terra que elas usam fosse transformada em grandes fileiras de campos cultivados, isso iria requerer quantidades impensáveis de fertilizantes sintéticos e água importada, e iria quebrar o delicado ecossistema que atualmente existe no deserto. Não somente me sinto melhor física e mentalmente como onívora, mas minhas escolhas estão mais consistentes com minha convicção de que nós devemos viver o mais ética e sustentavelmente possível dentro de nossa comunidade local.

Quer a destruição inaceitável seja causada pelas fazendas agrícolas, quer uma destruição ligeiramente mais aceitável - mas não menos devastadora - seja causada pela agricultura vegan, nosso planeta está sendo irremediavelmente aniquilado e devemos parar de tratar os sintomas da doença e abandonar soluções de curto prazo. Não podemos comprar nossa saída para esta crise, soluções pessoais não são suficientes. Apresentar o veganismo como uma panacéia que irá impedir o aquecimento global, salvar todos os animais e alimentar as massas famintas, é uma visão curta  e infundada. E me envergonho, como pessoa instruída, de que eu nunca me permiti acreditar nisso. Devemos, ao contrário, direcionar nossos esforços para uma completa reformulação sobre a maneira como vivemos neste planeta. Qualquer coisa menos que isso é suicídio.
 Parte 4 – Para onde irei daqui?

Mesmo que minha escolha em ser vegan tenha se originado através do sempre nobre impulso de fazer as coisas certas e ser o mais compassiva quanto possível, cometi um erro e foi uma escolha que eu nunca deveria ter feito. Se eu tivesse feito minha pesquisa e tivesse realmente me feito as perguntas difíceis desde o começo, em vez de me deixar levar pelos gráficos das fazendas agrícolas, eu teria me poupado 3 anos de esforços inúteis, além da minha saúde física e mental. Se eu tivesse aderido a padrões acadêmicos rigorosos, nos quais me baseio em todos os outros aspectos da minha vida, eu poderia ter passado esse tempo lutando efetivamente em busca de soluções reais, além de me sentir saudável e feliz. Queria que eu também tivesse olhado para mim mesma, para ver como eu me sentia ótima. Passei minha vida me sentindo bem comendo carne e eu era mais saudável do que ninguém. Preciso reconhecer que venho de uma longa linhagem de insensíveis comedores de carne pra lá de saudáveis, até onde alguém pode se lembrar. Meu corpo sempre soube do que preciso para ser saudável, mas mesmo assim ignorei isso e por muito tempo sacrifiquei minha saúde.

Muitas pessoas sugeriram que eu precisava somente comer produtos animais que eu detestava ou que me causassem nojo, assim eu teria certeza de que nunca sentiria prazer em comer carne. Me entristece agora saber que eu considerei aquilo por uns instantes. Após pensar sobre isso, eu me pergunto por que a constante repulsa e aflição a cada refeição precisa ser o preço que preciso pagar para ficar saudável? Por que não posso cozinhar as refeições mais deliciosas e me deleitar de prazer por estar comendo uma comida fabulosa, saudável e incrível? Finalmente percebi que não há nenhum problema em sentir alegria ao fritar um bife, ou ter prazer sonhando acordada com todas as maneiras de preparar meu salmão à noite. Eu me recuso a jogar o jogo que tantas mulheres (veganas ou não) são forçadas a jogar por nossa sociedade que odeia violentamente as mulheres; eu nunca sentiria vergonha ou culpa por comer aquilo que meu corpo quer e precisa para ser saudável. Sentirei alegria e não terei vergonha, além de sentir inegável prazer em cada gloriosa mordida. Eu serei sempre grata e comemorarei o tempo todo, sem nunca me esquecer da lição que aprendi sobre a necessidade de ouvir o meu corpo e respeitar o fato de que eu mereço ser saudável e feliz.

Tenho certeza de que muitos de vocês ficarão aborrecidos ou desapontados com minha declaração. Alguns de vocês podem até mesmo tentar racionalizar meu “fracasso” ou ignorar minha experiência, assim não terão que enfrentar a realidade de que o veganismo pode não ser o único jeito de se viver. Muitos de vocês podem mesmo estar zangados comigo, afinal vocês me tinham como uma aliada, alguns de vocês até se tornaram veganos, em parte,  por minha causa. Espero que vocês sejam capazes de perceber que eu preciso fazer aquilo que acredito ser o melhor e o certo para mim. E se acontecer de vocês serem saudáveis e felizes como veganos, então eu fico feliz por vocês! Continuem fazendo aquilo que funciona para suas vidas, mas talvez possam assimilar de minha estória que o veganismo nem sempre é a melhor coisa que podemos fazer para nossa saúde, pelo planeta, ou pelos animais. E se você é vegan e não se sente tão saudável como costumava ser ou como gostaria de ser, não perca mais tempo para perceber o que está errado e faça o que quer que precise ser feito para se sentir melhor. Você merece ser saudável e feliz também.

Os últimos meses têm sido humilhantes e dolorosos mas, ainda assim, felizes. Eu comecei nesse caminho quando estava nas profundezas do desespero, meus olhos estavam quase que permanentemente inchados de tanto chorar, imaginando para onde ir daqui, o que fazer. Com quem poderia contar e o que eles iriam dizer? Deveria manter segredo ou escrever sobre isso no blog, ou simplesmente desaparecer da face da terra e nunca atualizar meu blog novamente?  Pensei muito no meu blog, meu espaço pessoal precioso, onde eu compartilhava minhas mais tolas estórias, as fotos mais estúpidas e minhas receitas favoritas. Não queria deixar isso acabar, mas como eu poderia continuar? Assim que fiz esta declaração, eu já sabia que receberia mensagens de ódio. Na verdade, a partir de comentários no twitter e em outros blogs, vi que já tinha sido inundada com cartas furiosas, acusando-me de ser uma tirana anti-vegan e que eu havia conspirado isso durante anos, ou que eu estava a serviço da indústria da carne.

Então, eu sabia  que iria receber mensagens de ódio assim que fizesse esta declaração, mas eu não achei certo manter esse segredo por mais tempo. Sou por natureza uma pessoa extremamente honesta. Mas assim que  a declaração foi feita, me perguntei: o que eu faço agora? Mantenho o blog? Acabo com o blog? Tiro fotos de refeições contendo carne ou mostro somente minhas refeições veganas? Eu não quis esconder uma parte de minha vida, como se eu estivesse envergonhada disso. Eu não queria negar minha própria decisão, a qual havia restaurado minha saúde e felicidade, só porque nunca proferi uma só palavra de minhas escolhas alimentares com ninguém. Acima de tudo, eu queria manter o meu blog, porque adoro comida. Adoro pensar nisso, escrever sobre isso, cozinhar e, principalmente, comer. Adoro comida e adoro ser uma blogueira que fala sobre comida. Adoro a comunidade, os amigos, as risadas, as lembranças. Eu não quero desistir de nada disso. Então, eu vou continuar. Como vocês irão ver, eu renovei o blog, logicamente mudando o título e algumas das páginas, para refletir a minha mudança de vida. Estarei mudando permanentemente para um novo site (www.voraciouseats.com) dentro de uma semana. Mas, de qualquer forma, continuarei a postar as refeições e receitas que eu adoro. Minha vida é tão saborosa – eu quero compartilhar cada mordida!

Reportagem de capa na Revista Época

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O assunto dieta paleolítica parece estar ganhando momento no Brasil.

Está hoje nas bancas a Revista Época, cuja reportagem de capa é sobre dieta páleo:
m (Foto: Marcos Lopes)

A reportagem tem um viés bem favorável. Naturalmente contém algumas críticas e advertências, mas termina em tom conciliador, e terá com certeza a vantagem de difundir o assunto, o que é sempre positivo.

Na reportagem, que contém entrevista minha e referência a este blog, há ainda fotos e entrevistas com 2 grandes colaboradores: a May Ishii (moderadora de um dos grupos do Facebook):


E o Hilton Souza, que tantos artigos tem traduzido para o português em seu Blog http://paleodiario.blogspot.com.br/ :




A Época faz parte das Organizações Globo. Coincidentemente ou não, outros veículos da Globo também divulgaram o assunto hoje.

Veja, por exemplo, esta excelente matéria (vídeo) da RBS (afiliada da Rede Globo) de Santa Catarina sobre páleo, e que foi ao ar no dia de hojehttp://g1.globo.com/sc/santa-catarina/vida-e-saude/videos/t/edicoes/v/conheca-a-dieta-baseada-na-alimentacao-dos-ancestrais-que-evita-produtos-processados/3133779/

E na capa do portal globo.com pode ser vista a Cláudia Villaça, do blog http://claudiafitblog.blogspot.com.br/ (já recomendado na lista de blogs aí ao lado). A Cládia Villaça tem 51 anos e pratica fisiculturismo 100% natural e 100% low carb (um bom exemplo para ser citado para quem lhe disser que "com essa dieta se perde músculos").


Advogada de 51 anos vira referência no fisiculturismo natural

08/02/2014 13h00 - Atualizado em 08/02/2014 13h10
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Cladia Vilaça (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
Há seis anos, a advogada Claudia Vilaça decidiu acompanhar o filho sedentário a uma academia, em São Paulo, e nunca mais deixou o local. Acabou virando fisiculturista natural, como é chamado quem pratica o esporte, segue dieta 100% orgânica e não faz uso de anabolizantes ou esteroides. "Comecei porque vi meu corpo flácido, tudo balançava. Não ia à piscina nem praia porque minhas pernas e a bunda eram moles", conta ela, hoje com 51 anos. Claudia diz que, nessa época, se alimentava unicamente de pão e vinho. "Tomava uma garrafa por noite". Mas, agora, tamanha dedicação lhe rendeu o título de embaixadora de fisiculturismo natural no Brasil. Cansada de ficar em último lugar nos torneios locais, ela passou a competir nos Estados Unidos e venceu os dois últimos concursos de que participou. "O fisiculturismo aqui é sinônimo do uso de drogas. A ponto da mulher ter que usar cueca pela hipertrofia dos órgãos genitais e o homem, sutiã. Quero mudar isso", afirma ela, detentora do título de embaixadora de fisiculturismo natural no Brasil pela INBA - International Natural Bodybuilding Association.
O lema de Claudia é 'evolução lenta, mas constante' e, de tanto observar o treinamento dos malhadores inveterados, ela copiava algumas séries de exercícios e incluía em seus programas diários, até definir o que dava resultado - pasmem, ela é autodidata e sempre treinou sozinha. "Aos poucos fui aprendendo, lendo muito e pesquisando sobre treinos e dietas, fisiologia do exercício, fiz fóruns online e li livros de musculação nacionais e estrangeiros. Passei a montar os meus treinos sozinha", afirma. A rotina de seis dias intensos pegando peso a levou a querer mais. Foi então quando começou a competir no Brasil, mas era sempre a última colocada nos concursos repletos de corpos de músculos apoteóticos - e ela, inexpressivamente magra para o padrão. A decepção a levou a competir nos Estados Unidos, onde venceu os dois últimos concursos em primeiro lugar – o INBA Forevere Natural, em Las Vegas e o INBA World Cup, em Los Angeles, ambos no ano passado. Agora ela se prepara  para competir no All Women’s Championships, em Las Vegas, em abril, e no World Championship of Natural Bodybuilding and Fitness, na Eslováquia, em junho.
"Treino é 20% e o resto é alimentação. Tirei do cardápio todos os alimentos processados. Agora, só comidas orgânicas, sem adição de nada", afirma, contando que drogas são o caminho mais fácil para o ganho de massa muscular. "Você consegue qualquer coisa em academias e também em médicos que receitam GH (hormônio do crescimento) mesmo para quem não treina. É um perigo porque os anabolizantes promovem a hipertrofia muscular e também a dos órgãos internos", diz ela. Claudia conta que chegou a ser expulsa de uma academia por incomodar demais. "Os bombados me odeiam. Fui expulsa da academia do presidente da Associação Paulista de Fisiculturismo, que também é dono de um laboratório de drogas e diretor da maior empresa de suplementos do Brasil porque eu praticava sem usar nada", diz ela. "O fisiculturismo é a única modalidade esportiva que isenta os participantes do exame antidoping, diferentemente do fisiculturismo natural, em que o praticante tem que estar com o organismo livre de drogas nos últimos cinco anos", afirma.

Claudia Vilaça - o antes e o depois (Foto: Reprodução )


Claudia Vilaça em 2010 e 2012 (Foto: Reprodução )


Por fim, ainda em 2013, a revista Glamour (também da Globo) também publicava matéria sobre o assunto:

26/03/2013 19h08 - ATUALIZADA EM: 29/11/2013 19h03 - POR ANDREIA MENEGUETE/REVISTA GLAMOUR

Dieta Paleolítica: a volta aos hábitos alimentares das cavernas. Topa?

A “nova velha” dieta sugere uma pirâmide alimentar com base no consumo de proteínas magras, carboidratos de verduras, açúcares de frutas e gorduras de peixes e oleaginosas

Nos Estados Unidos não se fala em outra coisa. Quem testou diz que nunca viu nada igual. Polêmica, controversa, tema de documentário e alvo de muito zum-zum-zum entre especialistas, a Dieta Paleolítica propõe uma volta aos hábitos alimentares das cavernas e causa furor ao derrubar mitos da dita alimentação balanceada. Andréia Meneguete investiga.
famosos (Foto: Getty Images)

Esqueça tudo o que você já ouviu falar sobre alimentação correta e balanceada. Apresentamos um novo conceito nutricional que vem fazendo muito barulho nos quatro cantos do planeta: a Dieta Paleolítica. O assunto, que já havia gerado bochicho (e angariado inúmeros discípulos nos EUA e na Europa) volta às manchetes com força total graças ao documentário The Perfect Human Diet, lançado em fevereiro e já disponível para compra na web.

A obra coloca o dedo numa ferida aberta na nossa sociedade: afinal, quais são as causas da obesidade que já atinge 10% da população mundial? A resposta, resumidamente: o que se “vende” como alimentação ideal é na verdade uma máquina de produzir acúmulo de gordura. Isso mesmo, você leu direito. 

Nesse contexto, a Dieta Paleo (como chamam os iniciados) vira uma espécie de messias ao propor o resgate da forma como o homem se alimentava no tempo em que era nômade, antes do advento da agricultura, há cerca de dois milhões de anos. “O corpo humano evoluiu para digerir os alimentos do planeta Terra de então. Isso ficou gravado em nosso DNA. Introduzir na dieta comidas inexistentes naquela época sobrecarrega o organismo, provocando um tipo de pane. A obesidade é uma das consequências”, afirma o jornalista americano Charles Hunter, produtor do documentário.

Trocando em miúdos, a “nova velha” dieta sugere uma pirâmide alimentar com base no alto consumo de proteínas magras, seguida por carboidratos provenientes de verduras, açúcares fornecidos pelas frutas e gorduras que vêm de peixes e oleaginosas. E, claro, muita água! Até aqui nada de muito revolucionário, certo? O xis da questão está no que os especialistas apontam como os grandes inimigos da saúde: leite e derivados, grãos, cereais, carboidratos simples, alimentos processados e tubérculos como a batata, que tem alto índice glicêmico.


A explicação é simples: ao detectar algo desconhecido, o organismo trabalha para combatê-lo, mas o excesso de resíduos causa distúrbios, inflamações e doenças. O que seu pão integral e margarina têm a ver com isso? Tudo! O glúten, uma proteína do trigo (que não existia na Pré-História), presente em vários alimentos industrializados, não é 100% digerido quando bate no estômago, transformando-se numa goma que gruda na tireoide. Resultado? O corpo reconhece aquilo como um invasor e tenta eliminá-lo, deixando as funções tireoidianas (alô, metabolismo!) mais lentas. Isso significa uma boa dose de gordura a mais acumulada ao longo do tempo.

dieta paleolítica (Foto: Shutterstock)
Bebendo o inimigo

Para a nutricionista funcional Fernanda Granja, de São Paulo, a controversa proposta alimentar é coerente. “É fato: o organismo sofre agressão com o consumo de alimentos processados ou que foram transformados pelo homem”, diz, categórica. O leite que consumimos hoje, por exemplo, ao ser maturado e pasteurizado, perde a vitamina D, elemento essencial para se absorver o cálcio. “Sem essa vitamina, favorece-se o excesso de cálcio no intestino, o que gera um grande desequilíbrio interno. Alergias e inflamações são inevitáveis”, explica.

Vale o dado: o homem é a única espécie que consome leite (e ainda por cima de outro animal) na fase adulta. Como conseguir cálcio de forma genuína? em alimentos
frescos e verde-escuros, como espinafre, brócolis e couve.

Os paleolíticos não param por aí. Jogam pedra em dietas 100% vegetarianas por serem deficientes em vitamina B12, encontrada somente em carne animal e essencial para a formação do sangue; e fazem campanha para o consumo de gorduras boas. “Fala-se dos efeitos negativos da gordura, mas as gorduras ‘do mal’ são as fabricadas pelo homem, que vêm enlatadas. Gorduras como ômega 3, 6 e 9, encontradas nos peixes, são essenciais para o cérebro atuar bem”, salienta Fernanda. A nutricionista garante ainda que os benefícios da Dieta Paleolítica vão bem além de um corpo em forma. “Ela traz bom humor, disposição, intestino tinindo e pele reluzente.”

É a salvação? Hum, menos

Diante de um mal que mata cerca de três milhões de pessoas por ano, alguns especialistas se mostram reticentes sobre qualquer coisa apontada como milagrosa. “A obesidade é uma doença e deve ser tratada com seriedade, não pode ser encarada como um estilo de vida”, afirma o vice-presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), João Eduardo Salles.

O endocrinologista Filippo Pedrinola também é cauteloso: “A Dieta Paleolítica tem uma proposta interessante, mas não é a salvação. Como todas as dietas, não é solução definitiva se não houver bons hábitos e qualidade de vida.” É, não tem segredo: além da alimentação, vale imitar nossos ancestrais em outros quesitos. Que tal se mexer para alcançar frutas mais suculentas e fortalecer os músculos para ser mais forte que a caça? E comida, meu bem, só para matar a fome! 

2 milhões de acessos

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2 milhões de acessos... Efemérides como essa se prestam à reflexão. Fiz uma rápida pesquisa para colocar este número em perspectiva.



A primeira postagem deste blog foi criada em 17/12/2011, de forma completamente despretensiosa, na casa da praia. Nunca pensei que teria muitos leitores. Demorou muito tempo (várias semanas) para que surgisse um primeiro comentário, a primeira prova palpável de que essa garrafa com mensagem jogada no oceano cibernético havia, de fato, sido aberta por alguém!

Quando atingi 20 mil acessos, fiquei emocionado. Vinte mil! Hoje, atinjo esse número em DOIS dias...! Mas levou de 17/12/11 a 23/08/2012 - OITO meses para chegar a essa marca.

Um pouco mais de QUATRO meses foi o tempo necessário para chegar a 100 mil acessos (08/01/13). Metade do tempo necessário para os primeiros 20 mil. Incrível...

Um tempo semelhante (5 meses) nos levou a meio milhão de acessos, em 24/06/2013.

28/09/2013 - esta data marca o primeiro milhão. Um número de respeito (já pensou se fosse de dólares?). E foram apenas 3 meses dos 500 mil acessos para cá!

Hoje, menos de 5 meses após, chegamos aos 2 milhões. O blogger estima em 280 mil o número de visitas mensais. É assombroso. Que continue assim :-)

Só posso agradecer a vocês, leitores, que me prestigiam. Cada um de vocês que divulga entre familiares e vizinhos, para amigos reais e virtuais, é parte dessa explosão. Pudera que a mídia começa a repercutir esse fenômeno - são literalmente milhões de pessoas, não dá para ignorar.

O outro lado da moeda é que preciso compreensão para o fato de que não tenho condições de responder cada questionamento de forma pessoal, muito menos quando forem encaminhada ao meu email. Assim, peço que as perguntas sejam feitas aqui no blog, onde conto com o auxílio de vários colaboradores. E perguntas objetivas e curtas que possam ser respondidas por mim na tela do smartphone sempre terão prioridade.

Mais uma vez, muito obrigado!

Sucesso em Família

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Não são apenas as doenças que são contagiosas. A saúde também!

O que se segue é o incrível relato de uma leitora do blog, com 19 anos, que mudou não apenas a sua vida, mas a de muitas pessoas, para melhor - BEM melhor. O relato é rico em detalhes, e cobre muitos dos assuntos que já foram abordados aqui no blog. Entre eles:

  • Ovários policísticos melhoram com low carb (clique aqui);
  • A maior eficácia de restrição de carboidratos (LCHF) sem restrição calórica voluntária em relação a dietas de baixa gordura (low fat, high carb) com restrição calórica imposta (clique aqui, aqui e aqui);
  • A melhora dos fatores de risco cardiovascular com low carb (clique aqui e aqui);
  • A melhora a esteatose (gordura no fígado) com LCHF (clique aqui);
  • A melhora do diabetes com low carb (clique aqui);
  • A melhora de alergias e doenças inflamatórias (postagem a ser escrita, mas tema abordado com frequência nos comentários)
  • A prática de atividade física com restrição de carboidratos, acompanhado de ganho de massa muscular (clique aqui, aqui e aqui);
  • A diferente resposta das pessoas à dieta, com grandes perdas de peso em alguns casos, e não em outros - mas sempre com melhora da qualidade de vida (clique aqui);
  • A sustentabilidade do estilo de vida no longo prazo, pois não implica em fome e privação.
Vamos então, ao relato:

"Como prometido a um tempo atrás, vim dar 'meu testemunho' aqui... desde nova (12 anos) minha menstruação era desregulada. No início, me falavam que era normal e que regularia com o tempo. Bem... 3 anos depois, persistia o mesmo problema. Ficava semanas seguidas menstruada (meus pais tinham até medo de que eu ficasse anêmica), ou então, meses sem menstruar. Com 15 anos, o diagnóstico: SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS (SOP - leia aqui). Algo hereditário que melhoraria (mas jamais acabaria) com anti-concepcional e exercícios (e eu sempre fui bem ativa). Foi o que fiz. Quando ficava um tempo sem o anti-concepcional, os sintomas voltavam rápido. Enfim, encontrei o blog. Encontrei visões diferentes e alguém disposto a ajudar, argumentando com evidências científicas. E com paciência para responder perguntas!"

"Eu passei por muita restrição calórica e, sem anti-concepcional, simplesmente não menstruava. Comecei a LCHF (dieta Low Carb, High Fat: baixo carboidrato, e mais gordura). Com um mês de dieta larguei o anti-concepcional. No mês seguinte, exatos 26 dias, a menstruação desceu sozinha! Mais 26 dias depois e ela estava ali de novo. Durando 4 dias no máximo. Enfim... nenhum sintoma, me sinto melhor e sem medicamento. E é uma CURA, pois tratei a causa do problema (insulina elevada, resistência à insulina), e não as consequências! (veja aqui)."

"Os triglicerídeos do meu pai baixaram de 400~500 para 150. Perdeu 12Kg, e a gota nunca mais deu sinal (e ele tem comida bastante carne!)."

"Minha mãe, por sua vez, perdeu 5Kg e as dores lombares sumiram. Sem contar parentes e amigos que melhoraram... Minha avó baixou a glicose em 2 semanas (e não continuou apenas porque não quis...). Enfim, só tenho a agradecer e desejar tudo de bom. Que o blog prospere e se espalhe, junto com a paleo. Que sem dúvida é o caminho para a saúde e bem-estar. Obrigada Dr. Souto e todos colaboradores daqui e dos grupos do face. Fizeram mais uma família feliz e saudável!"

"A minha mãe sempre foi magra quando jovem. Mas quando eu estava com uns 10 anos (9 anos atrás) ela começou a engordar (subiu uns 10Kg). E há cerca de 3 anos descobriu que também tinha SOP. Com LCHF/paleo (e ela sempre dá umas escapadinhas em carbs paleo-compatíveis), ela voltou ao peso que tinha quando se casou (e o mesmo aconteceu o meu pai). E ela largou o anticoncepcional junto comigo, e a menstruação dela também normalizou em apenas um mês, e os sintomas de TPM diminuíram drasticamente."

"Meu pai tinha gordura no fígado (clique aqui), que no exame feito 2 meses após o início da dieta, já havia sumido. O colesterol total meu e da minha mãe está em 220~230 (o que é ótimo para mulheres, né?)(sim, clique aqui), onde o HDL é ~75. Todo tipo de dor (nas costas, pernas, etc...) sumiu.Alergias, sinusite e etc., não dão sinal a tempos. E minha mãe era MUITO alérgica (até desodorante e perfume faziam ela chorar, literalmente); a mão do meu pai antes sempre descascava. Não mais. Unhas mais fortes. Pele melhor. Disposição, lá no céu! Dor de cabeça? Não lembramos mais o que é."

"Meu pai vinha de 'dieta de nutricionista', como diz ele (ou seja, dieta de baixa gordura e alto carboidrato, rica em grãos). Estava estagnado há tempos... aliás, estava engordando (mesmo indo na academia, com muito sacrifício. pois não tinha força ou disposição. Ele praticamente se arrastava. E, se fazia esteira antes da musculação, no 1º exercício já desistia e ia embora por causa da fraqueza. E o humor dele... péssimo. Com o nutricionista ele perdeu 5 Kg (entre perder e ganhar... de 99Kg para 94Kg em uns 6 meses... chegou a 92, mas o peso subia de novo - dá pra ter uma ideia de como ele deve ter perdido massa magra né?). Com a LCHF, em 2 meses: 82Kg. Ultimamente, se mantem em 80, 81... mas a cintura continua diminuindo. E teve um ganho espetacular de massa magra (uns 4 ~5 Kg em 2 meses) e força. (clique aqui se você ainda acha que precisa muitos carboidratos para se exercitar)."

"Eu vinha de restrição calórica forte, e com a LCHF, apesar de não ter emagrecido, não preciso mais me privar, recuperei a auto-estima, o bom humor e minha compulsão alimentar simplesmente sumiu. Além disso, minha atenção, concentração e absorção de conteúdos, nos estudos, melhorou muito também"

Depois deste relato incrível, pedi à nossa leitora que solicitasse a seus pais um relato de próprio punho. Eis o relato do PAI:

"101?!?! Por que começar assim? Foi de onde comecei, com tentativas frustadas para perder peso; remédios, exercícios, nutricionistas - estratégias que, inicialmente, mostravam-se eficazes. Mas depois de um tempo, pouco tempo, o que eu tinha perdido voltava em dobro, além de não voltar sozinho. Pois, junto com os quilos de gordura, voltavam a frustração e tristeza de ser obeso, a vergonha e constrangimento de chegar em lojas e não conseguir uma camisa ou calça que servisse. Até que..."

"Bem, no dia 8 de setembro de 2013, comecei o que chamávamos (eu e minha filha) de teste ou oportunidade para as dicas do Dr. Souto. Estando com 96Kg, resolvi atender ao pedido de minha filha e aderi a este estilo de vida; talvez por estar saindo de uma dieta de baixa caloria (sentia fome e indisposição), o primeiro fato que me chamou atenção foi não sentir fome e nem preguiça. Achei ótimo. Só duvidei que perderia peso daquela forma. Sorte minha, eu estava enganado. Comprei uma balança e acompanhei minha trajetória de volta ao que eu não tinha mais esperança, nem sonhava. Pesar 80Kg. Mas, em pouco mais de 2 meses, estava eu, renovando meu guarda-roupa. Como me fez bem doar aquelas camisas XGG, calças 46, e sair pra comprar camisas M e calças 38/40 - uh-hu!!!"

"Espera ai!!! Claro que me preocupei com a nossa saúde (minha esposa e filha também estavam se alimentando como eu). Então disse a elas: "Ótimo, perdemos peso. E a saúde? Como está? Fomos os três, fazer um check up. E os resultados foram melhores que o primeiro resultado (o que é a regra, como o leitor pode conferir aqui). Eu já tinha percebido que minhas mãos tinham parado de descascar. Que os meus pés tinham parado de doer. Que a mancha na minha visão tinha sumido. Ácido úrico em níveis desejáveis. Triglicerídeos e colesterol em níveis aceitáveis. Eu tinha gordura no fígado. Tinha. Meus exames deram todos ótimos e em perfeita ordem. Ainda farei outro check-up dentro de mais uns meses, mas acredito que só tenha a melhorar."

"Prezado leitor, se dê uma oportunidade. Não somente para chegar ao seu peso ideal, mas para viver de forma saudável. Com uma boa auto-estima e sem abrir mão de uma vida social."

"Agradeço pois, a Deus em primeiro lugar, ao Dr. Souto por ter compartilhado esta "boa nova", à minha filha e esposa por terem se desdobrado em me apoiar até aqui. Que Deus nos abençoe, a todos nós. Obrigado e se dê uma chance!"
E eis o relato da MÃE:
"Aderi a este estilo de vido porque minha filha me pediu para ajudar meu marido, já obeso, a emagrecer. Pensei: "Vou me alimentar assim somente uma semana, porque desde quando comer gordura emagrece?" Depois de uma semana, adivinhem... tinha perdido 1 Kg e aumentado a disposição. Então, continuei."

"Venho me alimentando assim desde 08/09/13. Pesava 55 Kg nos meus 1,55 m de altura. Hoje, estou com 50 Kg. Minha barriguinha acabou. As vezes falo que fiz uma 'lipo' sem ir ao médico."

"Tinha ovários policísticos. Tinha. Pois acabou. Meu humor melhorou, a TPM também. Assim como a minha pele e cabelo. Minha auto estima aumentou."

"Para você que está questionando se tenta ou não esta dieta, dê uma chance a você mesmo. E acredite, você é capaz. E não vai morrer de fome. Pelo contrário, vai emagrecer comendo muito bem."

"Obrigada à Deus, ao Dr. Souto e a minha filha, por ter encontrado este estilo de vida. Hoje me sinto muito mais feliz."

Novos blogs

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Com muita satisfação, divulgo mais dois novos blogs:

1) Ciência da Nutrição (cienciadanutricao.blogspot.com.br/)
Escrito pelo nutricionista João Gabriel Marques, é um blog dedicado à Nutrição Baseada em Evidências. Altíssimo nível científico. Não deixem de ler!

2) Fitness By Nutrition (www.fitnessbynutrition.com.br), escrito pela Rafaela Peter, Health Coach brasileira que reside nos EUA. O blog tem receitas e tradução de artigos para o português. Confira.

FAQ

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Quem tem filhos tem (ou terá) a experiência de descobrir que um dia - parece que de forma repentina - eles crescem, ficam maiores do que a gente. Pois é isso que aconteceu com o blog. Embora eu me lembre de praticamente cada postagem que escrevi (inclusive daquelas com as quais já nem concordo tanto!), para quem chega agora, é difícil achar os assuntos. Ou seja, o blog estava precisando desesperadamente de um índice de perguntas freqüentes (FAQ - frequently asked questions). Felizmente, a leitora Teresa Cavalcanti fez justamente isso (obrigado!).

Sugestões para melhoria desta FAQ são bem-vindas.


DIETA PALEOLÍTICA/LOW CARB



SUMÁRIO





1 - O que é a dieta paleolítica/low carb?

Base:
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/01/dieta-paleolitica.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/01/introducao-dieta-paleolitica-mark-sisson.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/02/diferenca-entre-low-carb-e-paleo.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/04/paleo-ou-low-carb.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com/2014/01/reflexoes-sobre-postagem-anterior.htm

Literatura:
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/12/livros.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/01/livro-fat-chance-de-robert-lustig-o.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/01/livro-nova-dieta-da-evolucao.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/06/barriga-de-trigo-novo-livro-trraduzido.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/10/livro-em-protugues-sobre-dieta.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/12/livro-eletronico-gratuito-em-portugues.html


2 - O que devo comer?



http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/01/como-devo-comer-comida-de-verdade.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/06/prezado-dr-souto-como-comer-mais.html (como comer mais gordura do que proteína?)
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/01/o-que-comer-no-cafe-da-manha.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/01/quais-frutas-comer-e-em-que-quantidade.html



E a carne? Não faz mal?


Outras informações relevantes:


3 - Por que devo evitar o consumo de carboidratos?



http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/09/obrigado-ao-leitor-fabio-mossmann-por.html (Carboidratos viciam mais do que cocaína?)
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/06/se-voce-ainda-duvida-que-carboidratos.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/10/carboidratos-viciam-iii.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/11/dr-drauzio-varella-o-problema-sao-os.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/08/tratamentos-e-causas.html

4 - Por que devo evitar o consumo do trigo?



5 - Por que devo evitar o consumo do açúcar?




6 - O que a insulina tem a ver com tudo isso?


http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2011/12/chave-de-tudo-insulina.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/12/para-alem-da-insulina.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/10/camundongos-com-pouca-insulina.html

7 - Por que devo aumentar o consumo de gordura - e é seguro?
http://lowcarb-paleo.blogspot.com/2011/12/afinal-gordura-faz-mal-consideracoes.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com/2012/01/dieta-de-baixo-carboidrato-portanto.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com/2012/03/video-explica-dieta-de-baixo.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/06/colesterol-i.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/06/colesterol-ii.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/06/colesterol-iii.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com/2012/08/dr-drauzio-varella.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/08/restringir-gorduras-ou-carboidratos-o.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/09/novo-estudo-comprova-que-as-dietas-low.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com/2012/11/gordura-saturada-revista-mens-health.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com/2013/01/scientific-american-carboidratos-e-nao.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com/2013/03/dieta-pobre-em-gorduras-mais-derrames.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com/2013/03/gordura-vegetal-versus-gordura-animal.html
http://lowcarb-paleo.blogspot.com/2013/06/gordura-saturada-nao-merece-sua-ma.htmlhttp://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/10/a-midia-se-rende-iii-gordura-saturada.html

8 - O que a ciência diz a respeito?


http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/09/o-mais-alto-nivel-de-evidencia.html (entendendo os níveis de evidência científica – da opinião pessoal até a revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados)
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/01/os-estudos-cientificos-confirmam.html (18 estudos prospectivos randomizados)
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/01/dieta-de-baixo-carboidrato-portanto.html (8 estudos prospectivos randomizados)
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/08/restringir-gorduras-ou-carboidratos-o.html (14 ensaios clínicos randomizados)

9 - O que a mídia diz a respeito?



10 - Que atividade física se recomenda?


11 - E a atividade física sem carboidrato, é possível?

12 - E se a dieta não gerar mais perda de peso?



13 - E a saúde? Quais os benefícios dessa dieta?

Colesterol:
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/08/conflitos-de-interesse.html(ênfase no debate sobre o liptor - remédio para colesterol)


Resistência à insulina e diabetes
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/01/sindrome-metabolica-o-flagelo-moderno.html


Prejudica os rins? E o estômago? E o fígado? E a vesícula?
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/01/a-ulcera.html


Outros:


14 - Vídeos, podcasts e videocasts

O que é dieta low carb?
http://www.youtube.com/watch?v=FF1EX9LPUOw(Palestra do dr. Souto no Rio de Janeiro) (duração: 150mns)


Low carb e o colesterol, a diabetes, a obesidade e a doença cardíaca:
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/08/colesterol-iv-nao-ha-correlacao.html(duração: 01mn) (rápida análise sobre a -não- relação entre colesterol e doença cardíaca)
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/08/colesterol-iv-nao-ha-correlacao.html(duração: 02mns) (outra rápida análise sobre a -não- relação entre colesterol e doença cardíaca)
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/10/documentario-australiano-legendado.html(duração: 29mns) (aborda sobre gordura e doença cardiovascular – parte 1)
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/11/colesterol-ix-documentario-australiano.html(duração: 29mns) (aborda sobre gordura e doença cardiovascular – parte 2)
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/09/colesterol-vii-video-legendado-sobre.html(duração: 32mns) (análise detalhada sobre a -não- relação entre colesterol e doença cardíaca)
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/03/video-explica-dieta-de-baixo.html(duração: 65mns) (aborda colesterol e doença cardíaca)
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/01/livro-fat-chance-de-robert-lustig-o.html1° vídeo (duração: 89mns) (aborda sobre o açúcar e a obesidade); 2° vídeo (duração: 07mns) (mesmo tema)



Podcasts e videocasts com a participação do dr. Souto:
http://emagrecerdevez.com/podcast-005-tudo-esta-errado(duração: 49mns) (aborda alimentação, pirâmide alimentar, insulina etc)
http://emagrecerdevez.com/podcast-006-gorduras-de-menos-mata-mais(duração: 69mns) (aborda o papel das gorduras e das proteínas na nossa dieta)
http://emagrecerdevez.com/podcast-007-qual-e-a-verdade-sobre-os-carboidratos(duração: 68mns) (aborda o papel dos carboidratos na nossa dieta)
(duração: 59mns) (esclarece diversos mitos sobre alimentação)


Outros:
(duração: 02mns) (aborda as origens da pirâmide alimentar)
http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/06/herbivoros-e-desertificacao.html(duração: 22mns) (aborda sobre a sustentabilidade da dieta paleolítica)


15 – Receitas

Necessária nenhuma habilidade e quase nenhum tempo (;

Alguns sites de receitas:
http://gabakery.blogspot.com.br/
http://cozinhaprimitiva.com/
http://paleomg.com/
http://eatdrinkpaleo.com.au/


Veja também:
http://www.marksdailyapple.com/
http://eatingacademy.com/
http://garytaubes.com/
http://www.dietdoctor.com/
http://paleohacks.com/index.html

Flora intestinal 2

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Se ainda não leu, leia aqui a primeira postagem referente ao tema.

O excelente artigo da revista Mother Jones, que traduzo a seguir, será - juntamente com o anterior - uma necessária introdução ao tema do AMIDO RESISTENTE, sobre o qual pretendo escrever no carnaval (quando espero dispor do tempo necessário).

No artigo abaixo, os meus comentários constam em vermelho, em geral para corrigir o viés anti-gordura e pró-grãos do autor.


http://www.motherjones.com/environment/2013/04/gut-microbiome-bacteria-weight-loss





Seriam bactérias intestinais felizes a chave para a perda de peso?

Desequilíbrios no microbioma do seu intestino podem produzir síndrome metabólica, obesidade e diabetes. O que a ciência diz sobre como ressetar nossos corpos.


Alguns anos antes do filme Supersize Me chegar aos cinemas, o Dr. Paresh Dandona, um especialista em diabetes de Buffalo, New York, resolveu medir a resposta do corpo ao McDonald's - especificamente ao café da manhã. Por várias manhãs, ele deu a 9 voluntários de peso normal um sanduíche com ovo, queijo e presunto, um muffin com salsicha e dois hash brown patties (espécie de bolinhos de batata fritos).

Dandona é professor na Universidade Estadual de Nova Iorque em Buffalo, e também chefia o Centro de Diabetes e Endocrinologia de Western New York, e o que ele observou influenciou suas pesquisas desde então. Os níveis de Proteína C Reativa (PCR), um indicador de inflamação sistêmica, dispararam "em questão de minutos"."Fiquei chocado", ele lembra, que "uma simples refeição do McDonalds, que parece inofensiva" - o tipo de refeição de alto carboidrato e alta gordura que 1 em 4 americanos come regularmente - pudesse ter efeitos tão dramáticos. E perdurava por horas (eu não fico surpreso - montes de carboidratos refinados, glúten, gordura poliinsaturada ômega-6 de óleos de sementes e gordura trans - o high fat, neste caso, é com o tipo errado de gordura).

A inflamação vem em várias formas. O inchaço de um tornozelo torcido indica o mecanismo de reparo de um tendão ou músculo. A vermelhidão e dor ao redor de um corte infeccionado indica que o corpo está combatendo os germes. A febre e as dores que acompanham uma gripe representam uma missão de achar e destruir, em escala corporal, direcionada contra o vírus invasor. São todas reações essenciais à vida, a resposta do corpo à algo percebido como uma ameaça.  Mas a inflamação também pode causar danos colaterais, especialmente quando a resposta é excessiva - como no choque séptico - ou quando é muito prolongada.

Inflamação crônica, de baixa intensidade, há muito é reconhecida como uma das características da síndrome metabólica, um grupo de disfunções que costuma preceder o diabetes e que também aumenta o risco de doença cardíaca, derrame, certos tipos de câncer e mesmo demência (aproveite e compre o livro Grain Brain: The Surprising Truth about Wheat, Carbs, and Sugar--Your Brain's Silent Killers) - as principais causas de morte do mundo ocidental. A síndrome inclui uma combinação de glicose elevada, pressão alta, HDL baixo, gordura abdominal, frequentemente chamada de "barriga de cerveja"(ou barriga de trigo!). Mas, recentemente, os médicos têm questionado se a inflamação crônica é apenas mais um sintoma da síndrome metabólica: poderia a inflamação ser uma causa principal?

Para Dandona, que é dado a discursos grandiloquentes sobre os prazeres de uma cerveja na varanda de sua nativa Dehli, ou aos soberbos vinhos gelados da região de Buffalo, os resultados se constituíam em uma dilema: a comida é um grande prazer na vida. Por que a natureza seria tão cruel, ele pensava, e nos puniria apenas por comer? (o que a natureza tem a ver com aquele café da manhã do McDonald's? - NADA).

Durante a década seguinte, ele testou os efeitos de várias comidas no sistema imunológico. Um café da manhã de fast-food produzia inflamação, ele descobriu, mas um café da manhã com bastante fibras e frutas, não. Uma descoberta veio em 2007 quando ele descobriu que água com açúcar (um substituto para refrigerante) , provocava inflamação, mas que suco de laranja - embora também contenha muito açúcar - não. (o fato de o suco de laranja espremida - não de caixinha! - não ser tão ruim quanto água com açúcar ou Coca-Cola NÃO significa que seja a melhor opção para o café da manhã - pelo contrário, sucos de frutas estão associados à síndrome metabólica e diabetes (muito embora eu suspeite que muitos dos sucos citados no estudo do link sejam de caixinha). Claro, quando o parâmetro de comparação é o pior café da manhã possível, o suco passa a ser uma melhoria. O interessante é o fato de que, mesmo contendo a mesma quantidade de açúcar, o suco de laranja tenha produzido um efeito completamente diferente - continue lendo e verá porquê).

O Departamento de Frutas Cítricas da Flórida, uma agência estatal, ficou tão excitado que pagou pelo estudo subsequente, e forneceu suco de laranja espremido fresco para o estudo. Desta vez, juntamente com seu café da manhã de 910 calorias do McDonald's, um terço dos voluntários (10 ao todo) bebeu um copo de suco de laranja fresco. Os que não beberam suco, metade dos quais bebeu água com açúcar, e a outra metade água pura, tiveram a resposta esperada: inflamação e glicose elevada no sangue. Mas os bebedores de suco de laranja não tiveram nem elevação da glicose, nem inflamação. O suco parecia ter blindado os seus metabolismos. "O suco simplesmente desligou a coisa toda!", disse Dandona. Desde então, outros cientistas já confirmaram que o suco de laranja tem forte efeito anti-inflamatório.

Suco de laranja é rico em antioxidantes como vitamina C, flavonoides benéficos, e pequenas quantidades de fibra, e todos estes ingredientes podem ser diretamente anti-inflamatórios. Mas o que chamou a atenção de Dandona foi outra substância. Os voluntários que apenas comeram o café do McDonald's tiveram um amento na sangue de moléculas chamadas ENDOTOXINAS. Estas moléculas vêm das paredes celulares externas de certas bactérias. Quando os níveis de endotoxinas sobem, nosso sistema imunológico percebe isso como um risco e responde com inflamação.

Mas de onde vieram essas endotoxinas? Uma possibilidade é da própria comida (possibilidade errada). Mas há outra possibilidade. Todos nós carregamos quilos de bactérias em nosso intestino, um ecossistema complexo coletivamente denominado microbiota. As endotoxinas, Dandona suspeitou, eram originadas dessa colônia nativa de micróbios. De alguma forma, uma refeição gordurosa cheia de carboidratos refinados, transladava essas endotoxinas do intestino, onde não causam danos, para o sangue, onde causam danos (a primeira postagem sobre flora intestinal explica como). Mas o suco de laranja interrompia esta translocação.

Os experimentos atuais de Dandona - e outros similares - podem virar do avesso muito do que nós sabemos sobre as causas da obesidade, ou sobre aqueles últimos 5 quilos. Se o que os cientistas agora suspeitam sobre a relação entre a comida e a flora intestinal for confirmado, isso poderia revolucionar a indústria do emagrecimento de 66 bilhões de dólares - e ajudar a controlar os astronômicos 2,7 trilhões de dólares que gastamos com a saúde todos os anos nos EUA. "O que interessa não é o quanto você come", diz Dandona, "e sim o que você come"(concordo plenamente).

Desde que o comerciante de tecidos e cientista holandês Antonie van Leeuwenhoek olhou pela primeira vez a placa bacteriana de seus próprios dentes em um microscópio caseiro há mais de 300 anos e descobriu "pequenos animais minúsculos, que se mexem muito", nós sabemos que somos cobertos por micro-organismos. Mas à medida que métodos novos e mais baratos para o estudos destes micróbios têm recentemente se tornado disponíveis, a sua importância para a nossa saúde tem-se tornado cada vez mais evidente. Os cientistas agora suspeitam que nossas comunidades microbianas contribuem para um crescente número de doenças, de problemas alérgicos como asma e urticárias a doenças inflamatórias como a Doença de Crohn, além de câncer, doença cardiovascular e obesidade.

Como recém-nascidos, encontramos nossos primeiros micróbios ao passar pelo canal de parto. Até aquele momento, somos 100% humanos. Depois disso, nós somos, numericamente falando, 10% humanos e 90% micróbios. Nosso microbioma contém pelo menos 150 vezes mais mais genes, coletivamente, do que o nosso genoma humano. É como comparar um grosso manual de instruções a uma lista de tarefas de uma página.

À medida que amadurecemos, nós adquirimos novos micro-organismos a partir do leite materno, comida, água, animais, solo e de outras pessoas. Em algum momento na infância, uma vibrante comunidade de 500 a 1000 espécies se estabiliza. Algumas espécies são nativas apenas ao ser humano, e podem ter sido passadas de geração em geração como joias de família. Outros são generalistas - talvez tenham embarcado a partir de animais de estimação, gado, ou outros animais.


Enterobacter cloacae
Um grupo de bactérias da espécie Enterobacter cloacae

A maioria das nossas bactérias habita o cólon, a parte final do intestino, onde nos ajudam a digerir as fibras, captar calorias, e nos protegem de "micro-vândalos" (bactérias patogênicas). Mas também fazem muito, muito mais. Animais criados sem bactérias praticamente não têm um sistema imunológico. Repertórios inteiros de glóbulos brancos (leucócitos) permanecem dormentes; seus intestinos não desenvolvem as vilosidades características; seus corações ficam pequenos; genes em seus cérebros que deveria estar desligados, permanecem ligados. Sem seus micróbios, os animais não são realmente "normais". 

E o que nós fazemos por eles em troca? Alguns cientistas argumentam que os mamíferos são no fundo, câmaras digestivas ambulantes para as bactérias. Afinal, suas fezes são, em termos de peso, 50% bactérias vivas. Todos os dias, comida entra por uma lado, e bactérias saem do outro. O intestino humano mede cerca de 7,9 metros. Sua superfície é suficientemente grande para cobrir uma quadra de tênis. 70% de nossa atividade imunológica ocorre ali. O intestino tem o seu próprio sistema nervoso - que contém tantos neurônios quanto a sua medula espinhal. Cerca de 95% da serotonina do corpo, o neurotransmissor normalmente discutido no contexto da depressão, é produzida no intestino.

Assim, o intestino não é apenas o lugar onde absorvemos nutrientes. É também um local de confluência do sistema imunológico e um segundo cérebro. E está repleto de micróbios. Eles em geral não cruzam as paredes intestinais até a corrente sanguínea mas, não obstante, mudam a forma como os sistemas imune, endócrino,  e nervoso funcionam do outro lado da barreira.

A ciência não sabe exatamente o que sai errado com estes micróbios em situações de doença. Mas um tema recorrente é que a perda da diversidade se correlaciona com o surgimento de enfermidades. Crianças nos países em desenvolvimento têm muito mais tipos de micro-organismos do que seus pares na América do Norte ou na Europa, e no entanto desenvolvem asma e e alergias com frequência muito menor do que as das nações mais industrializadas. No mundo desenvolvido, as crianças criadas em ambiantes ricos em germes - com animais de estimação, em fazendas, ou em creches - têm um risco menor de desenvolver doenças alérgicas do que as criadas em ambientes mais esterilizados.

Quem estuda as comunidades microbianas humanas alega que elas estão sofrendo uma crise de extinção similar à que afeta nossa biosfera como um todo - e parte da culpa está na medicina moderna. Alguns estudos sugerem que bebês nascidos de cesariana, privados do contato com os micróbios vaginais da mãe no momento do nascimento, têm maior risco de doença celíaca, diabetes tipo 1 e obesidade. O uso de antibióticos no início da vida - que assola o ecossistema bacteriano como um incêndio em uma floresta - também foi associado a doenças alérgicas, doença inflamatória intestinal e obesidade.

O que nos traz à questão que mais e mais cientistas estão indagando: se nossa microbiota exerce um papel tão importante em manter-nos saudáveis, então que tal atacar doenças cuidando de nossa microbiota? Afinal, nossa comunidade microbiana é bastante plástica. Novos membros podem chegar e se estabelecer; membros antigos podem ser eliminados; a proporção entre grupos de germes pode mudar. Já o genoma humano, por sua vez, é comparativamente rígido e pouco responsivo. Assim, a microbiota representa uma imensa oportunidade para tratar - e prevenir - doenças crônicas. Em particular, o "órgão esquecido", como alguns chamam a microbiota, pode ser a chave para se lidar com nossa maior ameaça à saúde pública: a obesidade.

O Dr. Paresh Dandona deixou a índia em 1966 para uma bolsa de estudos em Oxford. Ele tornou-se o "primeiro sujeito 'de cor'", ele diz, a chefiar sua unidade no Hospital da Universidade de Londres. Sua postura - calcanhares justapostos, coluna reta, e um cuidado de orador com as palavras, proferidas em uma voz profunda e sonora - são lembranças de uma era passada. Ele mudou-se para Buffalo, New York, em 1991.

Durante essas décadas, o número de americanos considerados obesos triplicou. Um terço dos americanos agora tem sobrepeso, e outro terço é obeso. No mundo todo, um quarto da humanidade atualmente pesa demais, de acordo com a OMS. Em 2011, a ONU anunciou que, pela primeira vez na história da humanidade, as doenças crônicas, a maior parte das quais é ligada à obesidade, mataram mais pessoas do que as doenças infecciosas no mundo. Nos EUA, a obesidade é responsável por 20% de todo o custo do sistema de saúde, de acordo com economistas da Universidade de Cornell.

E os problemas não se limitam apenas aos obesos propriamente ditos: crianças nascidas de mães obesas já nascem com as artérias mais rígidas - um fator de risco cardiovascular. Têm maior risco de asma. Alguns estudos sugerem que possam ter maior risco de trastorno de déficit de atenção e autismo.

Por que estamos cada vez mais suscetíveis à obesidade? A explicação dominante há muito tempo tem sido a de que pouco exercício e muitas calorias é igual a acúmulo de gordura. A solução: mais exercício, e muito mais força de vontade. Mas há um problema com essa teoria: no mundo desenvolvido, a maior parte de nós consome mais calorias do que realmente precisa, mas ainda assim não ganhamos peso de forma proporcional(e o inverso também ocorre)

Uma libra de gordura (cerca de 450g) contém cerca de 3.500 calorias. Se você comer um excesso diário de 500 calorias - a quantidade presente num bagel com uma servida generosa de cream cheese - você deveria, a julgar pelo modelo calorias-é-só-o-que-importa, ganhar uma libra de gordura a cada semana. A maioria de nós come um excesso calórico nessa faixa, ou até mais, mas ou ganhamos peso de forma bem mais lenta, ou nem ganhamos! (vídeo com bela explicação desse fenômeno).

Enquanto isso, algumas pessoas corpulentas têm metabolismos que funcionam bem. Seus níveis de inulina e glicose são normais. Seus fígados são saudáveis, e não marmorizados com gordura. E algumas pessoas magras têm síndrome metabólica, frequentemente indicada por uma barriguinha de cerveja. Elas sofrem de fígado gorduroso, resistência à insulina, glicose elevada, pressão alta e inflamação sistêmica crônica de baixa intensidade. Do ponto de vista de saúde pública, estes sintomas são onde o problema real reside - não necessariamente se conseguimos entrar nos nossos jeans.

Eis a compreensão tradicional da Síndrome Metabólica: você comeu muita comida processada encharcada de graxa. As calorias inundaram o seu corpo. Normalmente, um hormônio chamado insulina ajudaria suas células a absorver estas calorias para uso. Mas o simples excesso de energia nesse caso sobrecarrega as células. E elas param de responder à insulina. Para compensar, o pâncreas começa a produzir ainda mais insulina. Quando o pâncreas finalmente chega à exaustão, você passa a ter diabetes. Além disso, você desenvolve resistência a outro hormônio chamado leptina, que deveria sinalizar a saciedade. Assim, você tende a comer demais. Enquanto isso, as células adiposas - que ficaram inchadas e estressadas no processo de estocar gordura excessiva - começam a emitir um sinal de alerta - inflamação crônica de baixa intensidade.

Mas agora os pesquisadores sugerem outro cenário: a inflamação pode não ser um sintoma, ela pode ser a causa. De acordo com essa teoria, seria a ativação imunológica causada por comida-lixo que desencadearia a resistência à insulina e à leptina. Então a glicose acumula-se no sangue. Seu pâncreas e fígado fazem força para compensar. Tudo porque este sinal de alarme alto e estridente - a inflamação - impede as células de responder normalmente aos sinais hormonais. Talvez as evidências mais dramáticas que dão suporte a essa ideia vêm de experimentos em animais nos quais os cientistas abolem a inflamação. Se você simplesmente aumenta o número de glóbulos brancos que aliviam a inflamação - as chamadas células T regulatórias - em camundongos obesos com síndrome metabólica, a síndrome inteira desaparece. Lide com a inflamação, ao que parece, e você aborta a disfunção.

Bem, num primeiro momento, parece bizarro que um pouco de inflamação pudesse ter tamanho impacto na regulação energética do corpo. Mas considere isso: trata-se de particionar um recurso limitado exatamente para onde ele é necessário, no momento em que é necessário. Quando não está sendo ameaçado, o corpo aloca a energia para manutenção e, se você tiver sorte, para procriação - uma atividade otimista e voltada para o futuro. Mas quando uma ameaça chega - o vírus do sarampo, digamos - você revê prioridades. Todas aquelas atividades mediadas por hormônios se reduz a um mínimo. Seu corpo institui uma versão do racionamento da segunda guerra mundial: as tropas (leucócitos) e os recursos (calorias) são redirecionadas para a ameaça. Tarefas não essenciais, incluindo a produção de testosterona, são reduzidas. Esqueça o amanhã - a prioridade é preservar a si mesmo hoje.

Isto, pensam alguns, é a razão evolutiva por trás da resistência à insulina. As células do corpo deixam de absorver a glicose pois este combustível é requerido - e é uma ordem! - pelos exércitos de leucócitos. Os problemas surgem quando essa resposta emergencial, crucial para afastar ameaças imediatas, arrasta-se indefinidamente. Imagine o seguinte: sua janta está no forno. Você está no computador, pagando as suas contas. Você sente cheiro de fumaça. Você sai correndo, e deixa as tarefas pela metade, procurando pelo fogo antes que a casa pegue fogo. Uma vez que o fogo esteja controlado, você retorna às suas tarefas, e depois come a sua janta.

Mas agora imagine que você nunca ache o fogo, mas que você continue sempre sentindo o cheiro de fumaça. Você permanece em estado perpétuo de alarme. Suas contas nunca são pagas. Você nunca come a sua janta. Sua casa queima aos poucos, e a vida vira um caos.

Isto é a síndrome metabólica. A função normal cessa. O envelhecimento se acelera. Vêm os ataques cardíacos. O cérebro degenera. A vida termina mais cedo. E tudo isso é produzido, segundo esse entendimento, por inflamação crônica de baixa intensidade.

E de onde viria esta ameaça percebida pelo corpo - essa inflamação toda? Algumas gorduras da dieta são diretamente inflamatórias (especialmente gorduras trans e óleos ômega-6 extraídos de sementes. A gordura saturada, na vigência de uma flora intestinal inflamatória, também facilita a passagem das endotoxinas do intestino para a corrente sanguínea, como já discutido nesta postagem). E despejar uma grande quantidade de calorias na corrente sanguínea, sejam elas de açúcar ou de gordura, pode sobrepujar e inflamar as células. Mas outra fonte de inflamação está escondida à vista de todos: os 100 trilhões de micróbios que habitam o seu intestino. Resulta que a comida-lixo (junk food) talvez não nos mate de forma inteiramente direta, e sim por desencadear o colapso de uma simbiose antiga e mutuamente benéfica, tornando uma relação previamente cooperativa em uma relação de adversários. 

Nós já estamos bem familiarizados com uma versão dessa dinâmica: as cáries. Cáries são tão antigas como os dentes, mas se intensificaram com o crescente consumo de carboidratos refinados, como o açúcar, logo antes e durante a revolução industrial. Antes que o açúcar barato se tornasse amplamente disponível, as bactérias das placas dentárias provavelmente ocupavam o morno e convidativo nicho de sua boca de forma mais pacífica. Mas despeje um monte de açúcar sobre elas, e certas espécies se expandem de forma exponencial. Seu subproduto - ácido - que, em quantidades normais, nos protege de bactérias invasoras, agora corrói os seus dentes. Uma relação outrora cooperativa tornou-se agora antagonística.

Algo similar pode ocorrer quando sua flora intestinal é exposta a uma dieta de comida-lixo altamente refinada, açucarada e gordurosa. Ela pode se voltar contra nós.

Uma década atrás, microbiologistas da Universidade de Washington em St. Louis observaram que camundongos criados sem nenhum germe, em bolhas plásticas com pressão positiva, podiam comer muito sem desenvolver síndrome metabólica ou obesidade. Mas, quando colonizados com sua flora normal, estes camundongos rapidamente tornavam-se resistentes à insulina e ficavam gordos, tudo isso comendo MENOS do que seus pares isentos de germes.

Os pesquisadores concluíram que os germes ajudavam os animais a a extrair a energia dos alimentos. Os camundongos, que passavam a dispor de mais calorias do que precisavam, armazenavam o excesso como gordura (que mentalidade difícil de eliminar, essa!). Mas do outro lado do Atlântico, Patrice Cani, na Universidade Católica de Louvain em Bruxelas, Bélgica, suspeitou que a inflamação pudesse estar por trás disso, e que esta inflamação poderia emanar dos germes da flora nativa destes animais.

Para testar esta ideia, ele deu aos camundongos uma dose baixa de endotoxinas, as moléculas que residem na parede externa de certas bactérias. Os fígados dos camundongos tornaram-se resistentes à insulina; os animais ficaram obesos e diabéticos. Uma dieta de alta gordura produziu os mesmos efeitos: endotoxinas vazaram do intestino para o sangue, a inflamação se instalou, e os camundongos tornaram-se gordos e diabéticos (a dieta de alta gordura dada aos animais é altamente inflamatória e deficiente em colina - eles não estão sendo alimentados com azeite de oliva, ovos de galinhas criadas soltas, gado alimentado com pasto ou salmão, e sim com os piores tipos de gordura - para uma revisão profunda do assunto, clique aqui - saliento novamente, os animais receberam 72% de óleo de milho misturado com banha - nada que pudesse fazer parte da dieta natural de um roedor - não confunda com um ser humano comendo vegetais na manteiga e salmão). Então, veio a bomba: a mera adição de fibras solúveis chamadas oligossacarídeos, encontrados em coisas como bananas, alho e aspargos, preveniu toda a cascata de eventos - sem endotoxina, sem inflamação, sem diabetes.

Oligossacarídeos são uma forma do que é conhecido como "pré-bióticos": fibras que, devido ao fato de chegarem intactas ao cólon, alimentam as bactérias que vivem lá. Afinal, um dos motivos pelos quais evoluímos para albergar essas bactérias é justamente porque as mesmas "digerem" essas fibras solúveis fermentando-as e permitindo que utilizemos seus subprodutos saudáveis, tais como acetato, butirato, vitaminas B e K.

Cani havia chegado à mesma conclusão que Dandona com seu suco de laranja recém espremido. A diferença é que seus experimentos controlados em animais permitiram uma compreensão mais clara do mecanismos. Comida-lixo faz com que micro-organismos danosos proliferem, e germes amigáveis declinem. A permeabilidade do intestino também aumenta, o que significa que os subprodutos bacterianos - como as endotoxinas - podem vazar com mais facilidade para a circulação, e desencadear inflamação.Simplesmente adicionar pre-bióticos apreciados por um grupo seleto de micróbios, as bifidobactérias neste caso, manteve o intestino bem "vedado" (impermeável), evitando toda a cascata de eventos. As bactérias fortificadas agiram como um batalhão de polícia de choque, evitando que o resto da massa bacteriana pudesse romper a barreira.

"Se nós cuidarmos de nossa microbiota intestinal, ela cuidará de nossa saúde", diz Cani. Eu gosto de terminar minhas palestras com uma frase: "confiamos no intestino"("In gut we trust", um trocadilho; em inglês, as cédulas de dólar têm escrito "In God we trust", confiamos em Deus.).

Assim, nossa dieta doce e gordurosa - certamente sem precedentes evolutivos - não nos mata apena diretamente: ela também altera a permeabilidade intestinal e a composição de nosso "órgão" microbiano.Nossa comunidade "amigável" de micróbios torna-se inimiga, até mesmo patogênica, vazando subprodutos nocivos para onde eles não deveriam ir(corrente sanguínea). H.G. Wells ficaria orgulhoso dessa história - o poderoso Homo sapiens derrotado por formas de vida microscópica transformadas em algo tóxico pela comida-lixo (junk food). Não é nada pessoal: os germes que florescem com esta dieta energeticamente densa podem estar agindo em seu próprio interesse - eles querem mais desta dieta doce e gordurosa na qual prosperam.

Mais ou menos na mesma época em que Paresh Dandona começava a investigar a resposta imune provocada pelo café da manhã de fast-food, um microbiologista chinês chamado Liping Zhao dava-se conta de que precisava mudar a sua alimentação, ou podia acabar morto. Ele estava 20 Kg acima do peso, com pressão alta e seu colesterol "ruim" estava elevado.

Ele se entusiasmou com os estudos da Universidade de Washington em Sr Louis que indicavam que os micróbios tinham papel central na obesidade. As pesquisas ressonavam com antigos preceitos da medicina chinesa que viam o intestino como sendo central para a saúde. Assim, Zhao decidiu por uma abordagem híbrida - um pouco de microbiologia do século 21 misturado com medicina tradicional chinesa.

Ele mudou sua dieta para grãos integrais (veja abaixo), ricos em nas fibras pré-bióticas importantes para as bactérias benéficas. E começou a consumir dois alimentos medicinais tradicionais que, acredita-se, tenham tais propriedades: melão amargo e inhame chinês. (correção: grãos integrais são uma péssima fonte de fibras como um todo. Quer fibra? Coma espinafre, couve, ou qualquer outra hortaliça - muito mais fibra, e sem grande quantidade de carboidratos facilmente digeríveis - isso sem falar no glúten. Além disso, é SABIDO que os grãos favorecem a permeabilidade intestinal, o que tende a aumentar dramaticamente a inflamação (clique aqui). Minha interpretação sobre o que houve com o Dr. Zhao: o amido resistente que ele consumiu na forma de melão amargo e inhame chinês ajudaram a protegê-lo dos efeitos danosos dos grãos. Além disso, ele provavelmente consumia carboidratos altamente processados e refinados antes. Grãos integrais não são bons - mas são um pouco menos ruins do que os refinados neste contexto).

A pressão sanguínea de Zhao começou a normalizar e seu colesterol "ruim" diminuiu. No decorrer de dois anos, ele perdeu 20 Kg. Ele amostrou sua flora intestinal durante o processo. À medida que seu metabolismo normalizava, a quantidade de uma bactéria chamadaFaecalibacterium prausnitzii aumentava em seu intestino. Seria isso causa ou consequência? Outros observaram que essa bactéria está ausente em pessoas que sofrem de doenças inflamatórias intestinais, tais como doença de Crohn, assim como no diabetes tipo 2. Cientistas da Universidade de Tokyo mostraram que colonizar camundongos com essa bactéria e suas parentes - os chamados "clusters de Clostridium" - os protege contra colite. Ainda assim, evidência de causa e efeito ainda não existia.

Então, um dia, em 2008, um homem morbidamente obeso entrou no laboratório de Zhao na china. Com 26 anos, ele era diabético, inflamado, tinha colesterol alto e glicemia elevada. Ninguém em sua família imediata era obeso, mas ele pesava 174 Kg.

Zhao percebeu algo estranho a respeito dos micróbios deste homem. 35% pertenciam a uma única espécie produtora de endotoxina, chamada Enterobacter chloacae. Então, ele colocou o homem em uma versão de sua dieta de grãos integrais suplementados com outros pré-bióticos. À medida que o tratamento progredia, a Enterobacter chloacae declinava, assim como as endotoxinas no sangue e os marcadores de inflamação. 

Depois de 23 semanas, o homem já havia perdido 51 Kg. A proliferação excessiva de Enterobacter chloacae havia regredido a ponto de tornar-se indetectável. A contagem de outras bactérias anti-inflamatórias - micróbios que se especializam em fermentar fibras não digeríveis - havia aumentado. Mas poderia Zhao provar que essas mudanças de micro-organismos eram a causa de alguma coisa? Afinal, a dieta poderia ter funcionando apenas por conter menos calorias do que a dieta prévia do paciente.

Então, Zhao introduziu o Enterobacter chloacae em camundongos. Eles desenvolveram endotoxemia, engordaram e ficaram diabéticos - mas apenas quando consumiam uma dieta rica em gordura (ver explicação abaixo). Enquanto isso, camundongos colonizados com bifidobacterias (germes benéficos) e alimentados com uma dieta de alta gordura permaneciam magros, o mesmo ocorrendo com animais livres de germes. Este Enterobacter era evidentemente especial, um germe oportunista. Auxiliado por uma dieta de alta gordura (que, como já expliquei na postagem anterior sobre flora intestinal, facilitam a passagem das endotoxinas do interior do intestino para a corrente sanguínea - mas para isso há que ter uma flora inflamatória! A gordura, em si, não é o problema, como visto nos animais com bifidobactérias, acima), o germe parecia capaz de sequestrar e comandar o metabolismo tanto de camundongos quanto de homens.


Zhao, que relatou sua própria história na revista Science ano passado, já repetiu sua dieta em pelo menos 90 pessoas, obtendo resultados similares, e tem mais de 1.000 pacientes em estudos em andamento. Ele não quis dar entrevista para este artigo, dizendo que a resposta à sua pesquisa, tanto na imprensa quanto de parte de indivíduos pedindo conselhos, tem sido grande demais. "Eu recebo emails demais pedindo ajuda, e não posso fazer muito", ele escreveu em um email. "Eu fico muito chateado com isso, e prefiro me concentrar em minhas pesquisas".

Outros pesquisadores tentaram uma abordagem ainda mais radical no tratamento do microbioma: o transplante de fezes. Foi originalmente desenvolvido para tratar uma infecção intestinal potencialmente letal causada pela bactéria Clostridium difficile. Os estudos até agora têm demonstrado que trata-se de uma alternativa com eficácia de 95% e não tem maiores efeitos colaterais. O "enxerto fecal" está agora sendo considerado como um método para "reiniciar" ("reboot") a microbiota como um todo. Cientistas no Centro Médico Acadêmico em Amsterdã misturaram fezes de doadores magros com soro fisiológico e, através de uma sonda naso-enteral (que entra pelo nariz, desce pela garganta, passa pelo estômago e vai até o intestino), introduziram a mistura no intestino delgado de nove pacientes com síndrome metabólica. O grupo controle recebeu uma infusão de suas próprias fezes.

Aqueles que receberam os "germes da magreza" demonstraram melhoras na sensibilidade à insulina, embora não tenham perdido peso e embora os benefícios tenham desaparecido em um ano (o problema é que continuaram a comer uma dieta de comida-lixo, que favorece o crescimento de uma flora inflamatória e obesogênica, e impede o estabelecimento de uma colônia de germes saudáveis). Mas Max Nieuwdorp, autor principal do estudo, planeja conduzir o experimento repetidas vezes para ver se os germes da magreza se estabelecem (sem mudar a dieta, acho difícil - para que uma planta transplantada "pegue", é necessário um solo fértil). E quando ele tiver identificado quais germes são realmente importantes, ele espera poder criar um probiótico anti-obesidade para ser tomado oralmente (o sedutivo e enganador canto da sereia: uma pílula que permita emagrecer sem mudar de estilo de vida - DUVIDO!).

Probióticos são apenas bactérias que se acredita que sejam benéficas, como lactobacilos e outras bactérias de certos iogurtes. No futuro, os probióticos poderão vir a ser bactérias encontradas em índios da Amazônia, nativos africanos, até mesmo nos Amish - pessoas, em outras palavras, que ainda mantém a biodiversidade microbiana que o resto de nós provavelmente já perdeu. A literatura científica sugere que uma "corrida do ouro" já começou: grande quantidade de "fecoprospectors"(pessoas que fazem prospecção de fezes!) procurando catalogar e preservar a diversidade e riqueza da microbiota ancestral antes que ela seja perdida na onda de extinção que varre o globo.

Por fim, a maior evidência que dá suporte ao envolvimento microbiano na obesidade pode vir de um procedimento que, num primeiro momento, não tem nada a ver com micróbios: cirurgia de bypass gástrico (cirurgia bariátrica). A cirurgia, que envolve a criação de um atalho, pulando o estômago, é a intervenção mais eficaz para a obesidade mórbida - bem mais eficaz que dieta.

Originalmente os cientistas achavam que a cirurgia funcionava por limitar o consumo de comida. Mas está cada vez mais óbvio que este NÃO é o mecanismo. A cirurgia, de alguma forma, muda a expressão de milhares de genes em órgãos espalhados por todo o corpo, ressetando todo o metabolismo. Em março, Lee Kaplan, diretor do Centro de Obesidade do Massachusetts General Hospital em Boston, publicou um estudo na revista Science Translational Medicine mostrando que há uma contribuição microbiana substancial para este "reset" do metabolismo.

Ele começou com 3 grupos de camundongos obesos, todos recebendo uma dieta de alta gordura (saliento novamente que as dietas obesogênicas em roedores são de alta gordura E de alto carboidrato, e que os tipos de gordura são muito diferentes das que se apregoa para uma dieta LCHF em humanos). O primeiro grupo recebeu uma cirurgia falsa - uma incisão no intestino que era apenas aberta e fechada - para controlar a possibilidade de que o trauma cirúrgico sozinho pudesse ser o responsável pelo emagrecimento. Estes camundongos então voltaram para suas dietas de alta gordura. Um segundo grupo também sofreu cirurgia falsa, mas foi então colocado em uma dieta de restrição calórica. O terceiro grupo foi submetido a cirurgia de bypass gástrico, e liberado para comer à vontade.

Como esperado, tanto o grupo do bypass como o grupo da dieta hipocalórica perderam peso. Mas apenas o grupo do bypass normalizou os níveis de insulina e de glicose. Sem esta normalização, diz Kaplan, tanto camundongos quanto pessoas inevitavelmente ganham novamente o peso perdido (por isso uma dieta páleo/low carb, ao normalizar estes parâmetros, é sustentável no longo prazo, diferentemente das dietas de fome).

Para testar o quanto a flora microbiana intestinal contribuía para esse processo, Kaplan transplantou a microbiota de cada grupo de animais para um grupo de camundongos desprovidos de germes. Somente os camundongos colonizados com a microbiota dos animais submetidos ao bypass perderam peso, muito embora comessem MAIS do que os camundongos colonizados com micróbios dos outros grupos.

Em humanos, alguns estudos mostram um grande aumento no número de bactérias anti-inflamatórias após cirurgia de bypass gástrico. O Dr. Dandona também observou uma declínio na quantidade de endotoxinas circulantes após o procedimento. "Eu jamais argumentaria, e não vou argumentar aqui, que TODOS os efeitos de uma cirurgia de bypass gástrico possam ser transferidos pelo transplante de microbiota", diz Kaplan. "O que nós descobrimos é a primeira evidência de alguns benefícios podem ser transferidos. E que esses 'alguns benefícios' são bem impressionantes". Se conseguirmos entender os mecanismos pelos quais a microbiota se modifica, ele diz, talvez possamos induzir tais mudanças sem a necessidade da cirurgia.

Bem, nem todo mundo aceita a ideia de que a inflamação seja a causa da obesidade e da síndrome metabólica. Mesmo entre os proponentes da ideia, ninguém afirma que toda e qualquer inflamação emana da microbiota. Além disso, se você aceita que a inflamação contribui para a obesidade, então você obrigatoriamente deverá considerar todas as outras formas de se produzir inflamação. E o interessante é: muitas delas estão de fato implicadas na obesidade!

Poluição particulada dos canos de descarga e de fábricas, ligada à asma, doença cardíaca e obesidade, é uma causa conhecida de inflamação. Assim como o stress crônico. E fatores de risco podem interagir entre si: em grupos de macacos em cativeiro, as fêmeas hierarquicamente superiores, e que sofrem menos stress, podem comer mais junk-food sem desenvolver síndrome metabólica quando comparadas às fêmeas hierarquicamente inferiores (e mais estressadas). Os epidemiologistas fizeram observações semelhantes em humanos. Pessoas mais pobres sofrem mais com as consequências de dietas péssimas do que pessoas mais ricas com as mesmas dietas. Os cientistas que estudam este fenômeno o chamam de "síndrome do status".

O exercício, por sua vez, é anti-inflamatório, o que pode explicar porque uma caminhada acelerada pode melhorar imediatamente a sensibilidade à insulina.O exercício também fortalece a saudável gordura marrom, um tecido que queima calorias ao invés de estocá-las, como o faz a gordura normal. Esta relação pode explicar como a atividade física ajuda a perder peso. Sim, exercício queima calorias, mas a quantidade em geral é trivial. Para compensar um mísero bagel a mais no café da manhã - cerca de 290 calorias - seria necessário correr por 20 minutos. E isso é sem contar um eventual cream cheese. A privação de sono pode ter o efeito contrário, favorecendo a gordura branca em detrimento da marrom, e alterando o metabolismo (uma única noite mal dormida pode lhe deixar tão resistente à insulina no dia seguinte como um diabético tipo 2).

E há o cérebro. Michael Schwartz, diretor do Centro de Excelência em Diabetes e Obesidade da Universidade de Washington em Seattle, descobriu que o centro regulador do apetite no cérebro - o hipotálamo - está frequentemente inflamado e danificado em pessoas obesas. Ele consegue reproduzir este dano ao alimentar camundongos com uma dieta de alta gordura (gordura ruim, inflamatória, deficiente em colina, etc...); o consumo crônico de junk food (comida-lixo), ao que parece, danifica essa parte do cérebro. E, o que é crucial, a inflamação cerebral precede o ganho de peso, sugerindo que este dano possa causar, ou ao menos contribuir para, a obesidade. Em outras palavras, ao destruir nossos centros de controle do apetite, a junk food pode acelerar o seu próprio consumo excessivo, produzindo um ciclo vicioso no qual consumimos mais ainda do veneno que desestrutura toda a nossa fisiologia.

E claro, há a contribuição genética à obesidade. Mas mesmo aqui, a inflamação está presente. Alguns estudos sugerem que variantes genéticas que aumentam determinados aspectos da resposta imune estão mais presentes em indivíduos obesos. Em eras passadas, estes genes provavelmente ajudavam a combater infecções. No contexto atual, contudo, podem aumentar o risco de síndrome metabólica.

Se a inflamação produz obesidade ou se apenas contribui para mesma, o quanto dessa inflamação emana da nossa microbiota, ou mesmo se ela causa ganho de peso ou se é consequência do mesmo - estas são todas questões ainda em aberto. Mas está claro que inflamação crônica de baixa intensidade, de onde quer que venha, faz mal saúde. E como Dandona descobriu há tantos anos, a comida pode ser pró- ou anti-inflamatória. O que nos traz de volta a questão: o que devemos comer?

Cinquenta anos atrás, devido à percepção de que pudesse haver uma associação com doença cardíaca, os nutricionistas alertaram contra o consumo de gorduras animais e recomendaram óleos vegetais hidrogenados, tais como margarina. Bem, resulta que estas gorduras vegetais encorajam a formação de placas nas artérias, enquanto algumas gorduras que as pessoas passaram a comer menos (como as dos peixes e o azeite de oliva, por exemplo), parecem prevenir doença cardiovascular e obesidade.

À medida em que as pessoas passaram a cortar gorduras saudáveis da dieta, elas compensaram comendo mais açúcar e carboidratos refinados. Mas uma dieta rica em açúcar tende a causar endotoxemia, fígado gorduroso e síndrome metabólica em animais. Então, está aí mais uma razão para evitar alimentos açucarados e refinados.

E que dizer de dietas populares para perda de peso como a dieta Atkins, que enfatizam proteína? (não é verdade, Atkins é uma dieta low carb high fat que enfatiza alta gordura e baixo carboidrato, e não proteína - veja aqui). Em um estudo de 2011 cientistas da Universidade de Aberdeen, na Escócia, submeteram 17 homens obesos a uma dieta low carb de alta proteína. Houve um declínio nos germes anti-inflamatórios, cujos produtos de fermentação são críticos para a saúde colônica, e produziram um perfil microbiano associado com câncer de cólon. Assim, embora possa produzir rápida perda de peso, uma dieta de alta proteína e baixo carboidrato poderia predispor as pessoas a câncer de cólon (obviamente essa é uma afirmação sem fundamento - associação não é causa e efeito, e nas populações de estilo de vida tradicional que seguem dietas cetogênicas - os Esquimós e os Masai - o câncer de cólon é uma doença INEXISTENTE. Mas o motivo desta postagem é justamente propor uma solução para a questão da flora intestinal dentro do contexto de uma dieta de baixo carboidrato - continue lendo esta matéria, e aguarde a próxima postagem). Na versão em roedores deste experimento, a adição de amido prebiótico (amido resistente) eliminou o efeito carcinogênico. Novamente, não é apenas o que está presente na sua dieta que importa, mas também o que que está ausente.

Então, deveríamos colocar um pacote de fibra em nosso cheeseburger? Dandona estudou essa possibilidade e diz que, embora esse estudo ainda não tenha sido publicado, e descobriu que estas fibras empacotadas, quando consumidas juntamente com fast-food, amenizam os seus efeitos inflamatórios. As empresas de fast food poderiam, em tese, encher seus pães de pré-bióticos, protegendo um pouco os seus clientes da síndrome metabólica (seria como colocar remédio para asma misturado com cigarro, mas tudo bem...).

Mas isso não é o que Dandona e outros estão defendendo. A abordagem da pílula - a ideia de que nós pudéssemos capturar a cura dentro de um comprimido - pode ser parte do que nos levou ao problema que temos hoje. Variedades naturais e complexidade têm seu próprio valor, tanto para nós como para nossos micróbios. Isso pode explicar porque o suco de laranja, que contém um monte de açúcar, não tem efeitos inflamatórios enquanto uma quantidade caloricamente equivalente de água com açúcar tem. Flavonoides, outros fitoquímicos, vitaminas, a pequena quantidade de fibra e outras coisas que ainda precisam ser quantificadas podem todas ser protetoras.

Com este objetivo, considere um estudo de Jens Walter, um cientista da Universidade de Nebraska-Lincoln.  Ele suplementou a dieta de 24 voluntários com arroz integral, cevada ou ambos. Fora isso, eles continuaram a comer sua dieta habitual. Após 4 semanas, aqueles que consumiram ambos tiveram um aumento das contagens de bactérias anti-inflamatórias, melhora da sensibilidade à insulina e redução da inflamação - mais do que aqueles que suplementaram com apenas um tipo de grão. Walter não acredita que seja uma coincidência que aqueles que comeram ambos grãos tenham observado uma maior melhora. A combinação provavelmente ofereceu aos micro-organismos um leque maior de opções de fibras fermentáveis. (Concordo. Um alerta, porém: consumir açúcar e glúten com fibras - grão integral - é melhor do que açúcar e glúten sem fibras - grão refinado. Como de hábito, não há um grupo páleo que consuma muito mais fibra, zero glúten e pouco açúcar, para comparação - quando essa comparação é feita, o grupo sem grãos e com mais fibraé melhor - veja aqui e aqui. Só porque comer grãos integrais é melhor do que a dieta americana padrão, não significa seja algo bom.QUALQUER alternativa à dieta americana padrão está fadada a parecer boa na comparação).

Os cientistas também estão muito interessados em criar "simbióticos", uma mistura de probióticos e das fibras pré-bióticas que os alimentam. Estas combinações podem já existir em pratos tradicionais como chucrute e kefir. Em tese, estas comidas fermentadas e não-pasteurizadas que retém suas comunidades bacterianas contém 3 vantagens em um pacote único: contém fibras pré-bióticas, bactérias probióticas e subprodutos saudáveis da fermentação como vitaminas B e K. Vários estudos têm sugerido que adotar este tipo de alimento pode proteger contra síndrome metabólica. Em um estudo de um mês de duração com 22 sul-coreanos com sobrepeso, Kimchi fermentado e não-pasteurizado (feito com repolho) melhorou os marcadores de inflamação e produziu uma dimiuta queda no percentual de gordura. Kimchi fresco, não fermentado, também ajudou, mas não tanto. Em outro estudo duplo-cego controlado com placebo em 30 coreanos, uma pílula de pasta de soja fermentada consumida diariamente por 12 semanas diminuiu a temida gordura visceral em 5%. Triglicerídeos, um fator de risco para ataques cardíacos, também declinaram. Enquanto isso, um estudo epidemiológico indicou que o consumo de arroz e Kimchi reduziu as chances de síndrome metabólica. Tudo isso dá pistas de que, no futuro, chucrute, Kimchi, picles em conserva e outros alimentos fermentados que contenham culturas microbianas vivas possam vir a fazer parte dos tratamentos anti-obesidade.

Então, o que mais comer? Cebola e alho são especialmente ricos na fibra prebiótica inulina, que alimenta seletivamente bactérias boas. Batatas, bananas e inhames têm montes deamido resistente. Maçãs e laranjas têm uma boa quantidade de polissacarídeos (outro tipo de pré-biótico). Nozes e grãos também (mas estes últimos contém glúten e amido altamente digerível, então fique com as outras opções). Não esqueça de seus vegetais crucíferos (couve, brócolis e couve flor) e legumes. Não há vegetal mágico. Sim, algumas plantas são especialmente ricas em pré-bióticos (alcachofra de Jerusalém, por exemplo), mas o fato é que as fibras são abudantes em vegetais em geral, e por um motivo simples: as plantas armazenam energia nelas. E é por isso que são resistentes à digestão - elas são "desenhadas" para durar.

As mesma "qualidades" que melhoram o apelo ao paladar e prolongam a validade - mais açúcar, gorduras que não ficam rançosas e falta de complexidade orgânica - tornam os alimentos refinados tóxicos para as suas bactérias essenciais. Alimentos processados biologicamente simples podem cultivar uma comunidade microbiana tóxica, que lembra as proliferações excessivas de algas que resultam em zonas mortas no oceano.

De fato, os cientistas realmente observam uma zona morta quando olham a microbiota de uma pessoa obesa. Os micróbios naturalmente formam comunidades. Em pessoas obesas, não apenas os germes anti-inflamatórios são escassos, mas a diversidade geral está reduzida, e a estrutura das comunidades resulta degradada. Micro-organismos que, numa analogia ecológica, poderíamos chamar de pestes - os ratos e baratas do seu mundo interior - circulam desimpedidos. Qual a lição? Comida-lixo pode causar uma espécie de anarquia microbiana. Espécies oportunistas florescem enquanto a a estrutura maior entra em colapso. Membros cooperativos são escanteados. E você, que ao mesmo tempo contém e depende desse ecossistema, paga o preço.

Páleo no programa Ana Maria Braga

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Mais uma bem-vinda peça de divulgação.

Me parece que ficou muito bom, em termos de mídia nacional. Bem verdade que evitaram-se temas polêmicos (Não restringir gordura, eventual restrição maior de carboidratos para pessoas que precisam perder mais peso ou são diabéticas). Em contrapartida, não houve o tradicional médico/nutricionista dando o contra no final.

Confira:

http://gshow.globo.com/programas/mais-voce/O-programa/noticia/2014/02/disposicao-e-qualidade-de-vida-saiba-tudo-sobre-crossfit-e-dieta-paleolitica.html


(não consegui fazer os vídeos funcionarem aqui - clique no link acima e assista os vídeos diretamente no site da Globo)
Dieta Paleolítica e CrossFit: receita de disposição e melhor qualidade de vida
Nesta alimentação, a ingestão de carboidratos é baixa e é proibido o consumo de industrializados, laticínios e cereais; confira explicação de nutricionista
28/02/2014 às 09h52
Atualizado em 28/02/2014 às 10h59
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Frutas, verduras e limite de gordura! Especialista dá dicas para evitar o câncer (Foto: Banco de Imagens Stock.xcng)Frutas, verduras e legumes são liberados na Dieta Paleolítica (Foto: Banco de Imagens)
Você já ouviu falar em CrossFit e Dieta Paleolítica? O Mais Você desta sexta-feira (28) explicou tudo sobre estas novidades que prometem melhorar a qualidade de vida e aumentar a disposição. O CrossFit é uma combinação de movimentos feitos de maneira muito intensa, com pequenas pausas e em pouco tempo. Os exercícios movimentam o corpo todo e utilizam grandes grupos musculares, o que aumenta a queima de calorias e acelera o metabolismo. Além disso, melhora a resistência cardiorrespiratória, a resistência muscular, a força, flexibilidade, agilidade e até o equilíbrio. Já a dieta é baseada na ingestão de poucos carboidratos, e é proibido o consumo de industrializados, laticínios e cereais.
Desafio Crossfit X Academia Convencional
Para saber se essa técnica tem mesmo um "diferencial", o Mais Você montou um circuito de sete exercícios e propôs um desafio entre praticantes do CrossFit e outros da musculação convencional para ver quem se sairia melhor. Robert Hernique, Abraão Rodrigues e Cristiane Evangelista representaram a academia tradicional, enquanto Francisco Javier (Chiquinho), Fernando Serek e Vivian Sakamoto, o CrossFit.
Depois de muito suor, o ranking dos homens ficou assim: Chiquinho em primeiro lugar com um minuto e 40 segundos, Robert com dois minutos e sete segundos, Fernando com dois minutos e quinze segundos, e Abraão terminou o circuito em dois minutos e cinquenta segundos. Já no desafio das mulheres, Vivian completou o circuito em dois minutos e cinquenta e dois segundos e Cris não conseguiu finalizar a sequência. “O tempo de recuperação é curto, tem que ter muito pique”, disse ela.
O preparador físico Joel Fridman explicou a diferença: “O pessoal da musculação está mais acostumado a trabalhar isolamento, segmentação, não estão acostumados com o corpo inteiro trabalhando junto. Abraão é campeão de fisiculturismo, mas quando tem que trabalhar maior amplitude, ele já está encurtado pelo trabalho de hipertrofia."
Dieta Paleolítica
Há alguns anos, os americanos começaram um movimento que propõe a volta à alimentação dos nossos ancestrais por meio da Dieta Paleolítica, em referência ao período pré-histórico. A ideia é resgatar o paladar e os benefícios dos alimentos que os homens das cavernas consumiam, ou seja, nada de produtos industrializados!
A nutricionista Andreia Naves montou uma mesa com os alimentos que entram no cardápio. “A premissa principal é não ter nenhum alimento industrializado. Temos as fontes de carboidratos (inhame, mandioca, cará e batata-doce), as especiarias (açafrão, manjericão seco, alecrim e cravo); as oleaginosas como fonte de gordura do bem, as proteínas (frango, peixe e carne), e frutas, legumes e verduras, que podem ser consumidos à vontade”, explicou. O que não deve ser consumido: farinhas, cereais, açúcar e todos os vegetais que crescem dentro de vagens, como o feijão e a soja.
A repórter Nadia Bochi conversou com alguns adeptos desta dieta. Muitos praticantes do CrossFit também estão aderindo a este tipo de alimentação. O empresário Márcio Atalla é um deles. “Comecei o CrossFit em um mês e a paleolítica, no outro. O primeiro benefício foi a disposição. O primeiro mês foi difícil, mas no segundo foi bem mais fácil, inclusive a recuperação do pós-treino. A recuperação muscular é muito mais rápida”, disse.
O empresário Marcelo Blumenfeld explicou que é importante diferenciar a Dieta Paleolítica da Dieta Proteica. Enquanto na primeira boa parte das calorias vem dos carboidratos ‘do bem’, na segunda, ele não é permitido. Aproveitando os ingredientes na mesa, os convidados montaram opções de café da manhã, almoço, jantar e até sobremesa na Dieta Paleolítica. Confira no vídeo acima!

Flora intestinal 3 - Amido Resistente - parte 1, os fatos

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PARTE 1 - a ciência e os fatos (a parte 2 será apenas a parte prática de como fazer)

Se ainda não leu, leia antes as postagens sobre FLORA INTESTINAL 1 e 2 (aqui e aqui)

Na "blogosfera páleo" internacional, não se fala de outra coisa. Mark Sisson anda escrevendo sobre isso; Robb Wolf anda relatando suas experiências com isso; Chris Kresser tem falado sobre isso nos podcasts, e aborda o assunto em seu novo livro; Jimmy Moore também escreveu sobre o assunto. Finalmente, Angelo Coppola, uma das pessoas que mais admiro, não tem falado de outra coisa.

Estou falando de amido resistente. AMIDO? O nome deste blog não começa com "low carb"? OK, vamos começar do início.

O assunto não é novo, mas confesso que estava fora do meu radar até o ano passado. E duas pessoas merecem todo o crédito por ter trazido este assunto à luz do dia: Richard Nikoley e Tim Steele. Outros já haviam escrito sobre isso, mas essa dupla fez aquilo que é capaz de chamar a minha atenção: citou uma penca de estudos científicos originais. Contra fatos não há argumentos.

Richard Nikoley é autor de um (controverso) blog chamado freetheanimal.com. Deve haver umas 50 postagens sobre amido resistente por lá, e uma extensa revisão bibliográfica (ver aqui e aqui). Não há como ser mais completo do que isso. De modo que deixo esses links originais para quem desejar ir a fundo, e vou tentar simplificar o tema nos parágrafos que se seguem.

1) Amido resistente é um amido que resiste à digestão. Não quer dizer que é um pouco mais difícil de digerir. Nem que é absorvido mais lentamente. Nem que é um "carboidrato complexo". Quer dizer que RESISTE à digestão. Simplesmente não é digerido, seu impacto na glicemia é zero. Não conta como carboidrato para todos os efeitos. Seu comportamento é o mesmo de uma fibra alimentar.

2) Amido resistente não é o mesmo que "amidos seguros" ("safe starches"). Amidos seguros é um conceito criado por Paul Jaminet, autor do excelente Perfect Health Diet, e significa amidos que não são tóxicos (exemplo de um amido tóxico é a farinha de trigo). Exemplo de um amido "seguro" seria a batata doce, ou o arroz branco. Amidos seguros não são tóxicos, mas elevam a glicose no sangue e elevam a insulina. Amido resistente NÃO eleva em NADA a insulina.
do blog freetheanimal.com (esse amido é RESISTENTE, idiota!)

3) Amido resistente (em sua forma pura) não afeta em NADA a glicemia. Como vocês sabem, amido nada mais é do que um polímero de glicose. Na sua forma mais comum (o amido dos grãos cereais, por exemplo), é uma forma altamente eficaz de elevar o açúcar no sangue (mais do que comer açúcar diretamente de um açucareiro). Mas o fato de ser feito de açúcar não quer dizer muita coisa. Madeira é feita de celulose. Celulose é um polímero de açúcar, da mesma forma que o amido. A diferença é a estrutura química desse polímero. Se você comer serragem (celulose), isso não irá afetar sua glicemia. Pense no amido resistente das mesma forma: amido em uma forma química que o torna não digerível.

4) O amido resistente não interfere com dietas cetogênicas. De acordo com os relatos de várias pessoas na blogosfera (inclusive a Patrícia Ayres, nossa colaboradora), o consumo de amido resistente puro não interfere de forma significativa com a cetose, nas pessoas que precisam ou desejam fazer uma dieta cetogênica. Mais uma prova de que realmente não é digerido, visto que só olhar para um quindim é capaz de retirar alguém do estado de cetose nutricional.

5) Amido resistente é facilmente digerível pelas bactérias do cólon. Embora nós não tenhamos enzimas capazes de digerir o amido resistente, as bactérias colônicas têm. O amido resistente funciona literalmente como uma "ração" para a flora intestinal.

6) O amido resistente alimenta seletivamente a flora intestinal saudável, anti-inflamatória e anti-obesogênica. Ao contrário do que acontece com os carboidratos densos acelulares (açúcar e farinha), que estimulam uma flora altamente inflamatória, indutora de síndrome metabólica e obesidade.


Há 4 tipos de amido resistente:

  • Tipo 1 - presente e sementes, grãos integrais e leguminosas, resiste à digestão por estar fisicamente protegido por paredes celulares fibrosas. Menos útil devido à toxicidade de suas fontes principais;
  • Tipo 2 - Encontrado em alguns alimentos tais como batata crua ou banana verde;
  • Tipo 3 - chamado amido retrógrado, forma-se quando o amido é aquecido e depois resfriado (acontece com batatas e arroz, por exemplo)
  • Tipo 4 - são amidos resistentes artificiais (industriais).
O tipo 2 é a principal fonte para suplementação.



-> Low carb versus flora intestinal
Como já comentamos na primeira postagem da série, uma dieta low carb é muito eficaz na reversão da síndrome metabólica ao remover os principais culpados - açúcar e farinha - da dieta. Porém, a remoção indiscriminada de quase todos os carboidratos deixa a flora intestinal à míngua. Como visto na segunda postagem sobre o assunto, o equilíbrio das populações bacterianas é essencial na manutenção de uma flora não-inflamatória e de um intestino menos permeável. Havendo uma flora intestinal inflamatória e um aumento da permeabilidade intestinal, haverá a passagem de moléculas presentes na parede externa dessas bactérias, chamadas "endotoxinas", da luz intestinal para a corrente sanguínea, e a inflamação crônica resultante é capaz de induzir resistência insulina, fígado gorduroso e resistência à leptina INDEPENDENTEMENTE de quão low carb for a dieta. Pior ainda: na vigência de uma flora intestinal inflamatória, a gordura saturada facilita o "vazamento" dessas endotoxinas da luz intestinal para o sangue. A mesma gordura que não traz nenhum malefício na dieta de alguns, pode piorar as coisas na dieta de outros, na dependência exclusiva do estado da flora intestinal. Cada um de nós carrega 10 vezes mais bactérias do que células humanas, mas o balanço ecológico exato entre as 500 a 1000 espécies que habitam o nosso corpo é único para cada um de nós, uma espécie de impressão digital microbiológica. Possivelmente, isso explique em parte a grande variabilidade das respostas observadas em diferentes indivíduos quando submetidos à uma dieta low carb, desde completa e fácil adaptação até alguns desastres, com constipação severa e dislipidemia descontrolada (esta última frequentemente como resultado de inflamação crônica, por sua vez secundária a disbiose, "leaky gut" e endotoxemia).

Isso nos coloca em uma situação complexa.
1) A obesidade e síndrome metabólica estão associadas a uma flora intestinal inflamatória, cujo desequilíbrio foi gerado pelo consumo crônico de carboidratos refinados e comida processada em geral;
2) Por definição, esta população apresenta resistência à insulina e baixa flexibilidade metabólica;
3) Muitos dos alimentos ricos em pré-bióticos e em amido resistente são também ricos em açúcar (frutas) e em amido comum (raízes), provocando grandes elevações de glicemia e de insulina, o que impediria o seu consumo por esta população específica;
4) Uma dieta low carb é incrivelmente benéfica nestes casos ao eliminar boa parte da glicose da dieta, permitindo níveis mais baixos de insulina, o que ajuda a diminuir a resistência à insulina bem como facilita a perda de peso;
5) Contudo, como já dissemos, a eliminação quase total dos carboidratos frequentemente leva a um microbioma de perfil altamente inflamatório, o que nos leva novamente ao item 1 dessa lista.

Como sair desse ciclo vicioso?

Imagine que houvesse uma substância capaz de alimentar a flora intestinal. Não apenas isso, mas alimentar seletivamente as espécies associadas com baixa inflamação, normalidade metabólica e peso normal. Imagine ainda que essa substância não seja digerida em nem absorvida pelo ser humano, e tenha impacto zero sobre a glicemia e sobre a insulina. Por fim, imagine que seja barata, natural e fácil de se obter. Parece bom demais para ser verdade?

Como já disse, não vou dissecar toda a literatura sobre o assunto, visto que Richard Nikoley e Tim Steele já o fizeram aqui e aqui. Vou citar alguns dos estudos apenas para dar uma dimensão dos benefícios potenciais do Amido Resistente, bem como salientar que não se trata de pura especulação.

Robertson, M.D. et al., 2005. Insulin-sensitizing effects of dietary resistant starch and effects on skeletal muscle and adipose tissue metabolism.The American Journal of Clinical Nutrition, 82(3), pp.559–567. Available at: http://ajcn.nutrition.org/content/82/3/559 [Accessed March 1, 2014].
Neste estudo em humanos, a suplementação com 30g de amido resistente por dia reduziu a resistência à insulina e reduziu a resposta insulínica ao consumo de carboidratos (ou seja, menos insulina foi necessária para metabolizar a mesma quantidade de carbs).

Higgins, J.A. et al., 2004. Resistant starch consumption promotes lipid oxidation. Nutrition & Metabolism, 1(1), p.8. Available at:http://www.nutritionandmetabolism.com/content/1/1/8/abstract[Accessed March 1, 2014]. 
Neste estudo em humanos o amido resistente levou a um aumento de 23% na oxidação de gorduras após uma refeição. Em outras palavras, queimou-se mais gordura.

Nesta interessante tese de PhD, o autor demonstrou que o amido resistente fez com que ratas castradas perdessem gordura quando comparadas com o grupo controle, mesmo comendo mais calorias. O mecanismo parece envolver a produção de ácidos graxos de cadeia curta (butirato, propionato, acetato) pela flora intestinal, e essas substâncias por sua vez induzem a produção de outros mediadores que interferem na resistência à insulina (GLP-1) e no apetite (peptídeo YY).

Topping, D.L. & Clifton, P.M., 2001. Short-Chain Fatty Acids and Human Colonic Function: Roles of Resistant Starch and Nonstarch Polysaccharides.Physiological Reviews, 81(3), pp.1031–1064. Available at:http://physrev.physiology.org/content/81/3/1031[Accessed March 1, 2014].
Excelente revisão, explicando os mecanismos de ação do amido resistente:
1) O amido resistente passa intacto pelo intestino delgado até chegar ao cólon;
2) No cólon, é fermentado pela comunidade bacteriana, produzindo ácidos graxos de cadeia curta (AGCC - butirato, propionato e acetato), sendo o butirato mais importante;
3) A quantidade de butirato produzida é bem maior com amido resistente do que com qualquer outro tipo de fibra;
4) Os AGCC nutrem as células intestinais - enterócitos - aumentando a saúde destas células e reduzindo o risco de câncer.

Walker, A.W. et al., 2011. Dominant and diet-responsive groups of bacteria within the human colonic microbiotaThe ISME Journal, 5(2), pp.220–230. Available at:http://www.nature.com/ismej/journal/v5/n2/full/ismej2010118a.html[Accessed March 1, 2014].
Esse estudo ilustra o que eu disse mais acima: voluntários obesos foram submetidos a uma dieta com amido resistente, ou com fibras polissacarídeas (os pré-bióticos tradicionais) e a uma dieta low carb.
1) Low carb afetou negativamente a flora intestinal;
2) Pré-bióticos polissacarídeos não tiveram grande influência;
3) Apenas o amido resistente alterou significativamente a flora intestinal, e no sentido favorável;
4) A reposta variou muito de indivíduo para indivíduo.

Ok, isto é apenas uma minúscula amostra da literatura disponível - como já disse, não há porque eu repetir um trabalho exaustivo que já foi feito com maestria por outrem (aqui e aqui). Talvez mais fascinante sejam os resultados que algumas pessoas vêm relatando com seus experimentos n=1 (ou seja, auto-experimentação).

Alguns casos relatados:

1) Caso de diabetes tipo 2 de difícil controle (original descrito aqui): paciente que foi diagnosticada com DM tipo 2 com glicose de 680. Com very low carb (cetogênica), baixou até 140; mas depois de um tempo começou a piorar o controle da glicose, mesmo mantendo-se com dieta cetogênica (provavelmente pela deterioração da flora intestinal). Vinha acordando com valores na casa de 180. Começou a suplementar com Amido Resistente em novembro de 2013; agora em fevereiro, glicemia de jejum 95; 110 após comer um filé com bastante arroz (mostrando normalização da sensibilidade à insulina). Duas horas após, de volta a 90.
2) Steve Cooksey, do blog www.diabetes-warrior.net, um diabético tipo 2 que entrou em remissão com low carb, relata seu experimento n=1 com amido resistente. Sua glicemia de jejum caiu sensivelmente durante a suplementação. Isso me faz pensar que os níveis mais elevados de glicose em jejum observados em algumas pessoas que fazem low carb cetogênico possam ser não apenas uma fenômeno fisiológico, como escrevi nesta postagem, mas talvez reflitam alterações reversíveis da flora intestinal. Sua tolerância aos carboidratos aumentou dramaticamente: antes, comer uma batata assada levava sua glicemia a níveis muito elevados (264 mg/dl); agora, suplementando com amido resistente, os níveis ficam em 160!
3) Caso de diabetes tipo 2 há anos controlado com low carb (original descrito aqui). Trata-de de Diana, que durante anos ganhava e perdia os mesmos 10 Kg. Passou a suplementar amido resistente nos últimos 6 meses. Perdeu 27 Kg, e tem a impressão de maior saciedade. A glicemia de jejum está 20-30 mg/dl mais baixa do que era antes, a resposta glicêmica a carboidratos (batata) normalizou, e deixou de apresentar algumas queixas que tinha antes (queda de cabelo, dificuldade para dormir, etc.);
4)  Diabético tipo 2 que continua comendo a dieta ocidental padrão e apenas aumentou o amido resistente (original aqui): melhora do controle glicêmico (esta não é uma estratégia que eu defendo, mas ilustra o efeito da flora intestinal sobre a resistência à insulina);
 5) Pŕe-diabético cuja glicemia de jejum está 15 a 20 pontos mais baixa após iniciar a suplementação (relato original aqui).
Em resumo, eis o que sabemos sobre os benefícios da suplementação com amido resistente:


  1. Melhora a resistência à insulina;
  2. Reduz a glicemia de jejum;
  3. Reduz a resposta glicêmica após a ingestão de carboidratos, tanto quando consumido junto com a refeição, como quando consumido na refeição anterior (o chamado "second meal effect");
  4. Reduz os picos de insulina após a refeições;
  5. Regulariza a função intestinal (algo importante, visto que a constipação é uma queixa frequente entre "low carbers", mesmo os que comsomem bastante salada, pois a mesma contém apenas fibra insolúvel);
  6. Aumenta a oxidação de ácidos graxos (queima de gordura);
  7. Aumenta seletivamente a presença de espécies benéficas na flora intestinal (como bifidobactérias).
  8. Aumenta a produção de ácidos graxos de cadeia curta no intestino, em especial o butirato, cujos efeitos metabólicos são quase milagrosos (veja essa revisão).
E quanto aos efeitos colaterais?

Há um efeito colateral universal - gases. E não são poucos. O que faz sentido, uma vez que estamos, literalmente, adubando nosso jardim colônico. A quantidade de gases pode ser realmente incômoda, e sugere-se que o consumo seja aumentado aos poucos, em quem tem dificuldades com esse aspecto. Mas, como testemunho da significativa mudança da composição do microbioma, em cerca de 14 dias há grande redução - basta ter paciência.

Interessado? Gostaria de adicionar amido resistente à sua dieta? Aguarde a parte 2 dessa postagem, dedicada ao aspecto prático da suplementação.

Já está suplementando? Relate suas experiências (especialmente os diabéticos!).

Flora intestinal 3 - Amido Resistente - parte 2, como fazer

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Se ainda não leu, leia antes as postagens sobre FLORA INTESTINAL 1 e 2, bem como a parte 1 da postagem atual.

Na postagem anterior, descrevemos como o amido resistente é capaz de induzir uma flora intestinal anti-inflamatória, reduzir a resistência à insulina, reduzir significativamente a elevação da glicemia e de insulina que ocorre após a ingestão de carboidratos e melhorar a constipação. Nesta postagem, vamos explicar como fazer isso.

O amido resistente está presente naturalmente em vários alimentos. Nem todos fazem parte daquilo que recomendamos em uma dieta páleo (de que adianta algumas gramas de amido resistente, mas com glúten e montes de amido comum junto?).

Richard Nikoley e Tim Steele, no blog freetheanimal.com, popularizaram a técnica de suplementar amido resistente com o emprego de Unmodified Raw Potato Starch, ou seja, Fécula de batata crua e não modificada. A marca testada e aprovada pode ser encontrada na Amazon, mas é vendida apenas na América do Norte (mais abaixo, descreverei as alternativas nacionais):

Este produto, tirando a umidade, é quase 100% amido resistente. É, digamos assim, o padrão-ouro. Os estudos em humanos foram feitos com cerca de 30g de amido resistente por dia, o que equivale a cerca de 4 colheres de sopa de fécula de batata crua.

Pessoas magras, saudáveis, e com flexibilidade metabólica toleram bem o consumo de 150-200g de carboidratos páleo. Para estas pessoas, o amido resistente pode ser obtido na própria dieta (veremos como, abaixo).

Mas há uma categoria de pessoas para as quais a suplementação é fundamental: os diabéticos, os portadores de síndrome metabólica e as pessoas que estão empregando uma dieta cetogênica (menos de 50g de carboidratos por dia) como instrumento terapêutico ou para perda de peso. Nestes casos, consumir alimentos que contenham amido resistente mas que também elevem o açúcar no sangue não é uma alternativa viável ou desejável.

Após muitas semanas e muitas picadas nos dedos, além da colaboração de outros leitores e membros dos fóruns do facebook, descobri algumas alternativas disponíveis no Brasil (e alguns problemas também). Mas primeiro, um alerta: para preservar o amido resistente, há uma regra absolutamente fundamental:
  • Tem que ser consumido CRU.
É, desculpa pessoal, mas isso não é uma autorização para começar a fazer receitas de guloseimas no forno. Páleo continua sendo uma proposta de comida de verdade, baseada em comer plantas e bichos - se alguém lhe passar receitas de forno e fogão que envolvam banana verde, polvilho doce, etc, alegando que trata-se de uma forma de comer amido resistente, fuja! Vou repetir devido à importância desse fato: o aquecimento do amido resistente o transforma em amido comum, de rápida absorção. Aquecer a fécula de batata e comer equivaleria a comer glicose em pó, ok? Não dá pra fazer tortas e bolos, ok? Bem entendido? Vamos adiante.

Se a fécula/farinha tiver sido aquecida ou submetida a pressões extremas durante a sua fabricação, isso modifica as características dos grânulos de amido, podendo fazer com que o produto aumente a glicemia, ao contrário do que ocorre com o Bob's Red Mill Unmodified Raw Potato Starch, da foto acima.

Como saber se o que dispomos no Brasil atende a esses requisitos? Só há um jeito - testando!

Eu fiz vários testes de vários produtos, e todos os testes foram padronizados da seguinte forma: glicemia de jejum, consumo de 4 colheres de sopa do produto diluídos em um copo d'água, e glicemia 30, 60, 90 e 120 minutos após.
Qual seria o resultado esperado? Um produto como a Raw Potato Starch da Amazon não eleva em nada a glicemia, e frequentemente a REDUZ devido ao efeitos já referidos do amido resistente. Produtos que tenham amido resistente e algum amido comum ou açúcar, podem elevar um pouco a glicemia, o que não é problema para a maioria das pessoas, salvo os diabéticos de mais difícil controle. Produtos que elevem significativamente a glicemia não são adequados. 
-> Polvilho doce. O nome doce é apenas para diferenciar de polvilho azedo, que é fermentado e tem mais amido comum. Trata-se do amido da mandioca. Testei a marca Yoki. Minha glicemia foi de 85 no jejum para 100, e permaneceu em torno de 100 por 2 horas, baixando em 150 minutos. Impressão: alternativa bem razoável, barata em com gosto aceitável. 
-> Fécula de batata Yoki: basicamente, tive o mesmo resultado do polvilho doce. Impressão: pode haver calor/pressão envolvido no seu preparo, pois o resultado, no meu teste, foi inferior ao relatado com a fécula americana. O leitor Arthur Gumz testou, e chegou à conclusão de que baixa a glicemia após 1h. Parece ser uma alternativa boa, visto que se encontra mais facilmente em supermercados. Não posso colocar minha mão no fogo no que diz respeito à possibilidade de contaminação por glúten, mas não tenho evidências nesse sentido.
-> Fécula marca X (não vou divulgar publicamente, pois teria que mandar analisar para confirmar minhas suspeitas, e não quero me incomodar na justiça): glicemia de jejum 92, glicemia 1 horas depois 88 - ou seja, BAIXOU. Testei novamente, e de fato a glicemia baixava - da mesma forma que o observado nos relatos com a fécula americana. Passei a suplementar diariamente, e minha dermatite herpetiforme voltou com toda a força. Dermatite herpetiforme é uma doença causada pelo glúten. Neste meio tempo, outro paciente meu com sensibilidade ao glúten passou a apresentar sintomas. O problema desapareceu em mim e no paciente após cessar o uso. Embora o rótulo diga "não contém glúten", é obvio que estava contaminada. 
-> Farinha de banana verde. Elevou a glicemia de 83 para 113 em 30 minutos e 109 em 60 minutos. Tenho suspeitas de que tenha sido aquecida no preparo ou que não seja pura (ao menos a marca que testei) -> e era a mesma marca X, acima! Esta marca específica não me agradou. Não testei outras. Mas o leitor Flávio Melo testou (marca Germina), e o resultado foi bem melhor, com glicemia saindo de 92 em jejum e indo para 97 em 60 minutos. Ou seja, vai depender da marca. Mas o gosto é medonho. De tudo o que testei, foi a única coisa que me deu ânsia de vômito. Com água, é verdade.
-> Banana verde (duas) - a fruta propriamente dita -> BAIXOU  a glicemia de 98 para 82. 
-> Dirlene D'Aggio, autora do blog Deli Art Creations (um blog de confeitaria sem glúten), ensina a fazer a sua própria fécula de batata aqui. É dela a dica de uma fécula de batata segura, no que diz respeito a não conter glúten: marca Aminna. Não sei se é fácil de achar, nem tive oportunidade de testar o efeito glicêmico (mas se alguém testar, me avise!).

Em resumo, para quem quiser suplementar, dadas as informações de que disponho no momento (e que poderei atualizar à medida que as pessoas me enviarem seus testes com diferentes marcas), eis a sugestão:

1) Polvilho doce: 4 colheres de sopa misturadas em alguma coisa fria (iogurte, água, batida com abacate ou em algum smoothie). Isso pode ser consumido em uma tomada ou dividida em 2 ou mais tomadas. A dose pode ser aumentada aos poucos, para que o intestino se acostume.

2) Banana verde: Verde no sentido de não-madura. Verde como essa banana, devidamente decorada pela minha filha:
Duas bananas verdes têm aproximadamente a mesma quantidade de amido resistente do que 4 colheres de sopa de fécula de batata (além de não correr o risco de contaminação com glúten). E o preço? Bem... é vendido a preço de banana :-)

Elas não são fáceis de descascar. A melhor forma é cortas as pontas, cortar ao comprido em duas metades e aí sim, tirar a casca.

Bananas verdes amadurecem rápido! Se você tem apenas um cacho, deixe na geladeira. Se tem uma penca, congele uma parte, para que permaneçam verdes.

O problema é como comer isso. Comer puro é, digamos, um gosto aprendido (eufemismo para dizer que gruda na boca e é bem ruim). Mas pode ficar bem disfarçada quando batida no liquidificador juntamente com outras coisas tais como um pouco de leite e canela (ou água com gelo e nata, para quem faz dieta cetogênica). Fica bem com abacate também. E se você faz páleo com mais carbs, como é o meu caso, há uma solução simples: bater uma banana verde junto com uma madura - pra mim, fica com gosto de vitamina de banana - uma bela sobremesa.

3) Fécula de batata: Dirlene D'Aggio, autora do blog Deli Art Creations, me deu a dica da fécula de batata segura no que diz respeito a não conter contaminação cruzada com glúten: Aminna. Não testei quanto ao efeito glicêmico (e fico aguardando os testes de vocês, leitores). Por hora, posso dizer que testei a marca Yoki sem problemas, mas a Dirlene alerta que já houve queixas nos grupos de celíacos, de que a qualidade varia de acordo com o lote. Misturar a frio com o que quiser (iogurte, água, etc), até 4 colheres de sopa.

Amido resistente na alimentação.
Conforme aludido na postagem anterior, existe um tipo de amido resistente que forma-se retrogradamente quando o amido comum é aquecido e depois resfriado.

Por exemplo: batatas cruas contém grande quantidade de amido resistente tipo 2. Uma vez assada, o valor cai a zero. Mas uma vez resfriadas, forma-se um novo tipo de amido resistente (tipo 3); não é muito, ainda resta bastante amido comum, mas o fato é que batatas frias (como as de uma salada de maionese) contêm amido resistente. O mesmo ocorre com o arroz - comer arroz requentado é melhor. Um caso que chama especial atenção é o do arroz parboilizado. O método pelo qual este arroz é produzido, inclui sua fervura seguida de resfriamento, o que produz amido resistente tipo 3. A maioria dos tipos de arroz tem um índice glicêmico muito elevado, bem maior do que o do açúcar de mesa. Mas o arroz parboilizado (Uncle Ben's cozido por 20 minutos, no caso deste estudo) tem um índice glicêmico de 38. Para se ter uma ideia, 40 é o índice glicêmico dos morangos, uma fruta que pode ser consumida até em dietas cetogênicas (bem verdade que a carga glicêmica dos morangos é muito menor).

E se você prepará-lo, resfriá-lo e depois reaquecer, o conteúdo de amido resistente aumenta ainda mais.

Sabendo-se que o consumo de amido resistente faz com que a pessoa tenha respostas insulínicas e glicêmicas muito menores, o uso dessa estratégia pode facilitar a transição de pessoas que estão em dietas cetogênicas para uma dieta páleo mais rica em carbs (com frutas e raízes), sem que haja ganho de peso.

Ainda pretendo escrever sobre o livro Perfect Health Diet, de Paul Jaminet, cujas ideias me seduzem mais a cada dia. Basicamente, uma dieta páleo high fat com um pouco mais de carboidratos na forma de amidos seguros - incluindo um pouco de arroz. Se vc for seguir a PHD, faça-o com arroz parboilizado!

Já escrevi de forma tangencial sobre outro autor, Tim Ferriss, autor de 4 horas para o corpo. Ferriss defende uma dieta "SLOW CARB", na qual emprega uma dieta low carb com feijões, muitos feijões. E eu conheço pessoas que tiveram muito sucesso com essa abordagem. Sabendo agora que os feijões são ricos em amido resistente, começo a ver o trabalho de Ferriss com outros olhos. Nada como um dia depois do outro. Mas não esqueçam - leguminosas (coisas que crescem em vagem) podem ser problemáticas para quem tem doenças auto-imunes e "leaky gut" (intestino com permeabilidade aumentada). Prometo escrever sobre leguminosas adiante, talvez no próximo feriado prolongado.

Mais uma vez, tenho interesse nas experiências de vocês, leitores, especialmente de diabéticos tipo 2, mas também de pessoas com dislipidemia. Aguardo seus comentários.

Manchete ridícula da semana No.1 - carne e queijo são tão ruins quanto fumar

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A semana foi pródiga em manchetes ridículas, em que resultados de estudos observacionais (cheios de fatores de confusão) são relatados como se fossem certezas.

A campeã é a notícia abaixo, copiada (sem nenhuma crítica, como sempre) por todos os meios de comunicação:
 Consumo exagerado de carne e queijo pode ser tão ruim quanto fumar; Segundo estudo, proteína em excesso na meia idade quadruplica risco de morte por câncer

 O Hilton Sousa, do http://www.paleodiario.com, traduziu a meu pedido resposta em tempo recorde (Obrigado, Hilton!):

Proteína animal tão ruim quanto fumar ?!

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
por Zoë Harcombe
Em 04 de março de 2014, começaram a aparecer alguns artigos online. “Dietas ricas em proteína animal podem ser tão danosas à saúde quanto fumar”, disse o Guardian. O Daily Mail capturou a dimensão idade mais acuradamente com “Comer muita carne e queijo na meia idade é tão mortal quanto FUMAR”.
A origem dessas manchetes é esse artigo. O artigo completo está disponível gratuitamente.

O estudo

O estudo revisou dados de 6381 adultos com idades a partir de 50 anos (média de 65), usando os dados da saúde pública americana (NHANES III). Os participantes foram acompanhados por até 18 anos, resultando em dados de 83308 pessoas-ano.
A ingesta calórica média foi reportada como 1823 por dia (o que já sugere subestimativas), sendo 51% proveniente de carboidratos, 33% de gorduras e 16% de proteínas. A maior parte dessa ingesta de proteínas (11 dos 16%) foi reportada como proteína de origem animal.
Ao invés de dividir as pessoas em três grupos distintos, o percentual de ingesta calórica sob forma de proteína foi usado para alocar os sujeitos em um dos três grupos:
  • Alta ingesta de proteína, categorizado como mais de 20% das calorias diárias oriundas de proteínas (1146 pessoas)
  • Ingesta moderada de proteína, categorizada como 10-19% das calorias diárias oriundas de proteínas (4798 pessoas)
  • Baixa ingesta de proteína, categorizada como menos de 10% das calorias diárias oriundas de proteínas (437 pessoas)
Isso por si, já é interessante. Normalmente os grupos são divididos de maneira que grupos iguais de pessoas fiquem em cada grupo. O agrupamento mais comumente usado é o de tercis (3 grupos), quartis (4 grupos) ou quintis (5 grupos). Se os sujeitos foram divididos em tercis, 2127 pessoas deveriam estar em cada um dos 3 grupos e a percentagem de proteína deveria ter sido o resultado - e não a entrada (ex: nós podemos descobrir que 1/3 das pessoas que tiveram ingesta protéica menor que 14% das calorias; 1/3 teve ingesta entre 14-18% e o tercil final ter ingesta acima de 18%). O método usado aqui não é errado, mas não estamos comparando grupos iguais e isso vai resultar numa diferença quando o risco relativo entrar em discussão - como vai entrar.

Associação entre proteína e mortalidade

Essa é uma citação direta do artigo (ênfase minha): "Usando os Modelos de Cox para Ameaças Proporcionais, descobrimos que consumo alto e moderado de proteínas estavam positivamente associados com mortalidade ligada à diabetes, mas não associada à mortalidade por todas as causas, doenças cardiovasculares ou câncer quando os sujeitos em todas as idades acima de 50 anos foram considerados".
Isto é, quando olhamos para as 6381 pessoas acima de 50, não havia sequer uma associação entre ingesta de proteína e mortalidade por qualquer causa, ou por doença cardiovascular, ou por câncer.
Havia uma relação entre mortalidade por diabetes e ingesta protéica, mas os números foram tão pequenos (1 morte por diabetes em 1 grupo) que isto não foi considerado importante.
E essa poderia ter sido a manchete - "Não há associação entre ingesta de proteína e mortalidade" - mas então não haveria manchete.
Após descobrir nenhuma associação geral, os pesquisadores apontaram um padrão com a idade e dividiram a informação entre participantes com idades entre 50-65 e participantes acima de 65. Eles então descobriram (citação direta, novamente): "Entre aqueles com idade entre 50 e 65, níveis mais altos de ingesta de proteína estavam ligados a riscos significantemente aumentados de mortalidade por qualquer causa e por câncer. Nessa faixa etária, sujeitos no grupo de alta ingesta protéica tiveram um aumento de 74% no seu risco relativo de mortalidade por qualquer causa (HR: 1.74; 95% CI: 1.02–2.97) e tinham mais de quatro vezes mais chances de morrer de câncer (HR: 4.33; 95% CI: 1.96–9.56) quando comparados aos do grupo com baixa ingesta de proteína.”
Isso significa que havia um resultado igual e oposto para o grupo acima de 65. Se todos os participantes juntos não mostraram associação e uma seção do grupo é então separada para mostrar associação positiva, a seção remanescente precisa ter uma associação negativa. Essa é a lei das médias.É claro então que as 3342 pessoas acima de 65 anos eram muito menos propensas a morrerem de qualquer causa se estivessem nos grupos de alta ou média proteína. Mortalidade por câncer para o grupo de baixa proteína também foi 2,5 vezes maior que a mortalidade por câncer no grupo de alta proteína.
Mortalidade por doença cardiovascular (DCV) foi aproximadamente a mesma para os grupos de alta e baixa proteína, considerando a faixa etária 50-65 anos. A mortalidade por DCV foi então muito menor para os grupos de média proteína do que para o grupo de baixa proteína, nessa faixa etária.Para os acima de 65 anos, o grupo de alta ingesta protéica foi o melhor no que diz respeito a mortalidade por qualquer causa, câncer e DCV.
O fato de que as manchetes escolhem alardear "proteína vai te matar na meia-idade" ao invés de "proteína vai te salvar na velhice" apenas destaca a falta de coerência e as tendências.

Os erros de sempre

Há dois fatos que cada estudo falha em esclarecer:
1) Associação não implica causalidade (só porque observamos que as pessoas cantam no banho, não significa que o banho cause mais vontade de cantar do que cantar cause banhos); e
2) Risco relativo é uma medida pobre quando o risco absoluto pode ser avaliado. (Você pode dobrar a sua chance de vencer a loteria comprando 2 bilhetes. Sua chance relativa é duas vezes maior que antes. A sua chance absoluta era 1 em 14 milhões e agora é 1 em 7 milhões. Você não vai ganhar na loteria!)
O estudo tem números de risco absoluto e devia compartilhá-los. Pode haver 4 mortes em 1000 pessoas por câncer no grupo de alta proteína e 1 morte por câncer no grupo de baixa proteína. Isso descreve a manchete "quatro vezes mais chances de morrer de câncer", mas é enormemente diferente de ter 1 chance em 1000 de morrer, versus 1 chance em 250 - nenhuma das quais vai te fazer perder sono à noite. Eu mandei um email para o Dr. Longo, pedindo pelos dados crus nas taxas de mortalidade para ver qual é o risco absoluto. (E lembre-se - isso diz respeito apenas ao grupo de 50-65 anos, e vai ser o oposto no grupo acima de 65).

Proteína x Proteína animal

O estudo afirma ter ajustado para proteína em geral versus proteína animal, para concluir que a proteína animal é o fator danoso, e não a proteína em si. Me chamem de desconfiada, mas eu sempre procuro conflitos de interesse e o pesquisador-chefe, Dr. Longo, já declarou seus interesses na L-Nutra (na verdade, ele é o fundador) - uma empresa que fabrica o ProLon™ – um produto inteiramente baseado em plantas, projetado para substituir refeições.
Então o estudo quer nos fazer acreditar que a proteína animal aumenta a mortalidade por câncer em pessoas entre 50 e 65 anos, mas que magicamente reverte essa relação aos 65 de maneira que é melhor que você esteja comendo muita proteína nessa idade, ou morrer feito mosca. Isso simplesmente não faz sentido.
Eu poderia entrar numa discussão de qualidade da proteína animal (carne, ovos e laticínios de animais alimentados com pasto) versus proteína animal processada (hamburgueres de fast food, com pães de trigo branco e ketchup, frangos produzidos em massa, iogurtes desnatados adoçados) e por aí vai, mas isso não pode explicar o motivo de a proteína animal ser alegadamente nociva antes dos 65 e benéfica depois. E falando nisso, coma produtos animais de qualidade e não coma nada processado (carne ou não), mas isso é apenas uma regra dourada de saúde. Ela não pode explicar esse estudo.

De ratos, não de homens

Os pesquisadores afastam-se do Zé e da Maria e aproximam-se do Mickey e da Minnie para tentar explicar os resultados. O Dr. Longo é bem conhecido por seus experimentos com ratos (ele era um daqueles caras que o Michael Mosley entrevistou quando fez o seu programa sobre Jejum Intermitente).
Os pesquisadores de fato experimentaram em ratos. Eles deram a ratos machos de 18 semanas uma dieta com pouca (4-7%) ou alta (18%) ingesta de proteína. (Nós não sabemos se gorduras ou carboidratos inteiraram a diferença da ingesta protéica). Eles implantaram células de melanoma nos ratos (lhes deram câncer, de fato) e então observaram para ver como o câncer progredia nos 39 dias seguintes, enquanto os ratos eram alimentados com alta ou baixa proteína. A inciência de tumores foi reportada como 100% no grupo de muita proteína e 90% no grupo de baixa proteína após 25 dias. A discussão que se seguiu centrou-se em torno de um termo que você pode se lembrar do tal programa - IGF-1 - Fator de Crescimento Similar à Insulina.
Isso poderia ter levado à manchete - "Ratos machos que recebem células cancerosas, desenvolvem câncer", mas está sendo usado como uma explicação para as observações do estudo em humanos. A hipótese divulgada é que a ingesta de proteína aumenta a IGF-1, que a IGF-1 ajuda nossos corpos a crescer e que portanto ajuda o câncer a crescer. Nós nem sequer provamos que ingesta de proteínas determina a IGF-1 em humanos, e então a hipótese cai no primeiro obstáculo. A teoria então sugere que a IGF-1 diminui com a idade. Então eles estão dizendo que a proteína após os 65 anos não impacta a IGF-1 e por conseguinte não impacta o crescimento ou o câncer ? Simplesmente ainda não faz sentido.
A reviravolta final foi que os pesquisadores não encontraram diferença significativa quando eles deram aos ratos proteína animal ou vegetal. então isso não pode justificar as manchetes condenando carne e queijo. Adicionalmente - as relações públicas da ProLon™ vão para o buraco!

O que devemos aprender disso tudo ?

  • Humanos não precisam de tanta proteína assim. Como regra geral, precisamos de aproximadamente 1g de proteína por cada kg de massa corporal. Fisiculturistas e mulheres grávidas podem se beneficiar de mais, mas não precisamos de tanto. Tendo dito isso, proteínas tem uma vantagem metabólica substancial sobre carboidratos e gorduras e podem ajudar com a perda de peso como resultado [i]. Então mais de 1g/kg de massa corporal não é um problema - desde que a ingesta venha de comida de verdade e não de shakes de mentira.
  • Proteína está virtualmente em toda comida provida pela natureza (óleos e sacarose sendo as únicas exceções e eles não são realmente comida). A natureza provê combinações de gordura/proteína - carne, peixe, ovos, laticínios - e combinações de carboidrato/proteína - grãos, leguminosas, frutas, verduras. Raramente as comidas tem gordura/proteína e carboidaratos em boa media (oleaginosas e sementes sendo as exceções). Por que a natureza colocaria proteína em tudo, se o objetivo da proteína é nos matar ?
  • Este estudo fez uma observação interessante e é só. Ele não apresentou uma explicação plausível. Em relação à comparação com o tabagismo - é uma jogada editorial para ganhar as manchetes - não  é apropriada a pesquisadores que querem ser levados a sério. Fumar apresenta um risco absoluto - providencie os mesmos números para o meu jantar de carne alimentada com pasto, assada, se é isso que você está afirmando.
  • Você deveria abandonar a carne e os laticínios como resultado disso ? Não, a menos que você queira se privar de gorduras essenciais, proteínas e quantidades inestimáveis de vitaminas e minerais. A regra de ouro da dieta permanece inalterada: coma comida de verdade! Isso significa carne, ovos e laticínios provenientes de animais criados com pasto; peixes; oleaginosas e sementes; verduras e frutas da estação. Só aprecie grãos integrais e vegetais ricos em amido se você tiver peso normal - limite essas comidas engordativas caso contrário. Vinho tinto e chocolate amargo, e o que mais pode um homem querer ? Ou rato!
PS: acabei de pensar numa coisa, poucas horas depois de ter postado o artigo. Onde estará a vasta maioria de mortes entre as 6381 pessoas que tinham mais de 50 anos quando o estudo começou ? No grupo 50-65 ou no grupo 65+ ? No segundo, é claro. Então, independente de não termos um mecanismo plausível, a "vantagem" da proteína animal estará agradecidamente no grupo que mais se beneficiará! Continuo esperando os dados crus...
[i] Eric Jequier, do Instituto de Fisiologia da Universidade de Lausanne, Suíça, descobriu que o efeito térmico dos nutrientes (termogênese) é aproxiamdamente 6-8% para os carboidratos, 2-3% para as gorduras e 25-30% para as proteínas. Isso é, aproximadametne 6-8% das calorias consumidas sob forma de carboidratos são usadas na digestão do próprio carboidrato e em torná-lo combustível disponível para ser usado pelo corpo. Em contraste, 25-30% das calorias consumidas sob forma de proteína são usados na digestão das próprias proteínas e em torná-las combustível para o corpo. (Eric Jequier, “Caminhos para a obesidade”, Jornal Internacional da Obesidade, (2002).)

Manchete ridícula da semana No.2 - Proteínas aumentam risco de câncer

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Esta é outra versão das manchetes do estudo referido na postagem anterior:

Segundo 'Cell Metabolism', perigo de morte pela doença quadruplicaria e seria comparável ao do fumo. Recomendação de ingestão é de 0,8 a 1g/kg de peso

Como já foi salientado, o artigo é observacional, usou um único questionário aplicado há 18 anos perguntando às pessoas o que elas comeram na véspera, e NÃO achou impacto na mortalidade e nem em câncer no grupo como um todo, e foi apenas depois que os pesquisadores massagearam os dados que surgiu a associação estatística no pacientes com menos de 65 anos (e a proteção contra doenças acima dessa idade).

Como de hábito, Hilton Sousa, do http://www.paleodiario.com/, foi rápido no gatilho, traduzindo o artigo de Andreas Eeenfeldt:

É perigoso comer carne antes dos 65 anos ?

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

Carne à americana. Não mostrado na foto: o refrigerante.

É perigoso comer carne se você tem entre 55 e 65 ? Comer grandes quantidades de carne torna-se repentinamente saudável depois que você completa 65 ?
É essa conclusão - um tanto quanto confusa - que alguns pesquisadores tiram de um novo estudo americano baseado num questionário.

Associação incerta

Como os leitores regulares sabem, não se pode provar causalidade correlacionando estatísticas de estudos tipo questionário. Somente jornalistas ignorantes ou sensacionalistas acreditam que sim. Infelizmente, esses dois grupos parecem constituir a vasta maioria dos jornalistas.

Em exame subsequente, mostrou-se que no mínimo 80% de descobertas similares por questionários incertos estão incorretas - veja a tabela 4 do excelente artigo Porque a maioria das descobertas publicadas é falsa.

Então, uma manchete mais cientificamente correta seria "Há uma chance de 20% de que a carne quadruplique o risco de câncer para pessoas com menos de 65 anos e que reduza o risco para pessoas mais velhas". Não é tão instigante.

A correlação estatística entre comer carne e doença em pessoas com menos de 65 nos EUA pode muito ber ser devida ao fato de que o consumo de carne lá está associado com a ingesta de junk food, tabagismo, falta de exercício e falta de vegetais - e o mesmo vale para qualquer estilo de vida insalubre que você possa imaginar.

O que, em todos esses estilos pouco saudáveis, é a causa da doença ? Estatísticas não conseguem provar isso.

IGF-1 e câncer


Portanto, há boas razões para ignorar o estudo. Mas eu acho que ainda há alguma verdade por trás dele. Cientistar reportam que proteína (proteína animal de boa qualidade, em particular) pode elevar os níveis do hormônio IGF-1, que estimula a divisão celular. Altos níveis de IGF-1 podem, no longo prazo, aumentar o risco de câncer.

O que eles não mencionam é que os carboidratos também aumentam os níveis de IGF-1, no mínimo o mesmo tanto. Particularmente, os carboidratos ruins em grandes quantidades elevam radicalmente os níveis de IGF-1. A única coisa que você pode comer que não eleva significantemente os níveis de IGF-1 é gordura.

A conclusão lógica é que qualquer variação de uma dieta de baixo carboidrato com quantidades moderadas de proteína (e gordura suficiente) é a mais saudável no longo prazo - ao menos para manter o IGF-1 baixo e ao mesmo  tempo se sentir bem. Quanto de proteína ? A quantidade suficiente para que você se sinta bem, satisfeito e permaneça forte e saudável. Como é que chamamos esse conceito ? LCHF.

Um caso a ser elogiado - postura do Jornal Zero Hora.
Poucas horas após a minha postagem, fui entrevistado pela jornalista da Zero Hora, pois queriam um contraponto a respeito dessa notícia. E o que foi publicado na edição impressa do jornal foi uma notícia com muito mais nuances do que o que vi no resto da imprensa:

07 de março de 2014 | N° 17725AlertaVoltar para a edição de hoje

DIETA

Complicaram sua refeição

Dois componentes básicos da dieta humana entraram em discussão nesta semana. Enquanto uma pesquisa internacional coloca o alto consumo de proteína no mesmo patamar do tabagismo para risco de morte por câncer, a Organização Mundial da Saúde abre consulta pública para rever a dose diária de açúcar atualmente recomendada. A maior polêmica está instalada em torno do estudo sobre proteína, que desperta questionamentos de especialistas quanto à metodologia utilizada e à interpretação dos dados.

O alto consumo de proteína animal – incluindo carne, leite e queijo – representaria risco quatro vezes maior de morte por câncer em relação a uma dieta com baixo consumo proteico. Esse risco seria comparável ao prejuízo do tabagismo à saúde. Quem consome grande quantidade de proteína animal (ao menos 20% do total de calorias diárias) também estaria mais suscetível à morte precoce e, ainda, a morrer de diabetes. As conclusões são de uma pesquisa publicada no Cell Metabolism, um periódico científico americano que acompanhou 6.381 pessoas por 18 anos.

Os malefícios da proteína, entretanto, só valeriam para quem tem entre 50 e 65 anos. Para os mais velhos, ela teria efeito protetor. A explicação estaria no hormônio do crescimento IGF-1, que tem sido relacionado à morte por câncer. Necessário para equilibrar o organismo após os 65 anos, quando os níveis de IGF-1 caem drasticamente, antes disso, o excesso de proteína poderia deixar os índices desse hormônio altos demais.

Urologista e autor de um blog sobre dieta paleolítica (à base de proteína - isso não é verdade, como já discuti em outras postagens do blog - clique aqui), José Carlos Souto questiona essa relação, pois outros estudos demonstraram que o IGF-1 estimula o crescimento de tumores já existentes, mas não é causador de câncer. Além disso, os carboidratos também são responsáveis por aumentar os índices do hormônio.
Outro ponto fraco da pesquisa, para Souto, é a ausência de dados sobre hábitos dos participantes:

– Pessoas que consomem muita carne vermelha tendem a fumar mais, consumir mais álcool e ser sedentárias. Não há como saber, com base nesse estudo, se é a proteína a culpada pelo câncer.

Para o nutrólogo Paulo Henkin, diretor da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) na Região Sul, a comparação com os riscos do tabagismo é absurda. O tipo de cozimento deveria ser levado em conta:

– Só há uma circunstância em que a carne pode conter uma substância cancerígena chamada nitrosamina, que é quando fica aquele queimadinho. Enquanto isso, há dezenas de elementos químicos identificados na fumaça do cigarro que são sabidamente cancerígenos.

Metodologia é questionada

A pesquisa também perderia credibilidade por não cruzar a quantidade de carne consumida pelos entrevistados com os demais componentes da dieta. Segundo Henkin, já foram identificados 24 mil micronutrientes em hortaliças que teriam efeito protetor contra o câncer. Uma alimentação balanceada poderia neutralizar as substâncias cancerígenas.

O nutricionista e bioquímico Gabriel de Carvalho destaca que os dados utilizados registram um único dia da alimentação dos participantes, sem discriminar se a proteína veio de carne vermelha, peixe, frango ou queijo e leite. A diferença entre os hábitos alimentares dos americanos, nacionalidade dos participantes da pesquisa, e dos brasileiros deve ser considerada.

– O nosso gado é criado livre no pasto. A carne consumida pelos participantes do estudo, muito provavelmente, tem origem em um gado confinado, tratado com hormônios para ganhar peso rapidamente, o que muda as características desse alimento – explica.

Por trás das ressalvas feitas pelos especialistas ouvidos por ZH está a questão metodológica: por ser um estudo baseado na observação, não permitiria chegar a conclusões de causa, nem a números absolutos.

Apesar de alardear o risco de morte por câncer, Valter Longo, um dos coautores do estudo, recomenda seguir os padrões de consumo das principais agências de saúde: 0,8 grama de proteína por quilo de seu peso total por dia, o que representaria em torno de 55 gramas para uma pessoa de 70 quilos.

OMS recomenda menos doce no dia a dia

Na mesma semana em que a divulgação do estudo de Valter Longo lançou alerta para a quantidade de “carne no espeto”, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que irá divulgar um documento enfatizando os benefícios de se reduzir o doce da sobremesa.

O documento deve manter a quantidade diária de açúcar recomendada a um adulto em 10% do valor total de energia, mas irá mostrar os benefícios de se consumir menos da metade dessa porção para evitar problemas como obesidade e cáries.

Segundo a organização, 5% do valor energético diário consumido por uma pessoa corresponde a 25 gramas de açúcar, ou seis colheres de chá. Só que boa parte do consumo desse ingrediente está escondida em alimentos processados. Uma colher de ketchup, por exemplo, tem o equivalente a uma colher de chá de açúcar, e uma lata de refrigerante comum tem até 40 gramas de açúcar, ou 10 colheres de chá.

A proposta da OMS é reduzir limites para produtos com glicose e frutose, açúcar de mesa, mel, xaropes, sucos de frutas e concentrados.

– O consumo de açúcar está ligado à obesidade. Como a maioria das pessoas tem feito cada vez menos atividades físicas, é bom reduzir a ingestão desse ingrediente na alimentação – observa o nutrólogo Paulo Henkin, diretor da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) na Região Sul.

O médico salienta que reduzir o consumo de açúcar não significa trocá-lo por adoçante. O adoçante contém aspartame, substância que pode conter agentes cancerígenos.

O esboço da nova proposta está aberto para consultas públicas até o final deste mês. Para participar, é preciso acessar o site oficial da OMS: www.who.int.

candida.hansen@zerohora.com.br tais.seibt@zerohora.com.br
CÂNDIDA HANSEN E TAÍS SEIBT

A semana das manchetes positiva - 1 - Alimentos de baixa gordura estão cheios de açúcar

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A semana passada foi dominada pelas manchetes sensacionalistas envolvendo um estudo epidemiológico sobre o consumo de proteínas. Mas nos últimos dias tem havido uma profusão de notícias favoráveis, especialmente na Inglaterra, que parece estar em meio a uma revolução, possivelmente capitaneada pelo cardiologista Dr. Aseem Malhotra (sobre quem já falei nesta outra postagem) - mais um de meus ídolos.

Segue sensacional artigo publicado no jornal britânico The Telegraph, que deixa claro a questão dos efeitos desastrosos da promoção de alimentos de baixa gordura:

Low fat foods stuffed with 'harmful’ levels of sugar


Como de hábito, contei com o Hilton Sousa (www.paleodiario.com) para traduzir o artigo:

Comidas "low fat" estão cheias de níveis "danosos" de açúcar

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Edward Malnick, Jasper Copping e Matthew Payton. Gráfico por Jack Kempster e Mark Oliver 

Muitas comidas com pouca gordura, promovidas como alimentação saudável, contém mais açúcar que a sua versão "com gordura" - em alguns casos, mais de 5 vezes mais - conforme a análise pelo Telegraph mostra.

Dúzias dos cereais mais populares, iogurtes, salgadinhos tipo chips e refeições prontas, vendidas às pessoas que querem comer uma refeição com pouca gordura, contém níveis de açúcar que cientistas e ativistas agora avisam serem perigosos.

As divulgações chegam após a Organização Mundial de Saúde (OMS) dizer que a recomendação diária para a ingesta de açúcar adicionado deveria ser cortada pela metade, para seis colheres de chá, para ajudar a evitar problemas de saúde crescentes como obesidade e cáries.

Um estudo com 100 produtos populares com pouca ou zero gordura, de grandes redes de supermercado, descobriu que dúzias deles contém ao menos duas colheres de chá em uma simples porção. Um em cada quatro dos produtos contém mais de 3 colheres de chá do ingrediente.

Enquanto um pouco do açúcar ocorre naturalmente, muito é adicionado - de acordo com os ativistas low carb - simplesmente para melhorar o sabor.

Experts dizem que as descobertas do Telegraph mostram como os produtos "com pouca gordura" e "com pouca caloria" podem frequentemente ter mais efeitos nocivos à saúde do que os seus equivalentes "com gordura". Eles acreditam que níveis altos de açúcar estão contribuindo não apenas para elevar os níveis de obesidade, mas também de outras condições de saúde tais como diabetes, doença cardíaca, cáries e câncer.

A análise também disparou petições para mudanças nas diretrizes sobre a quantidade de açúcar que pode ser adicionada à comida no Reino Unido, bem como para ter rótulos mais claros, evitando que os consumidores sejam enganados  por itens vendidos como alternativas saudáveis a produtos que contém níveis normais de gordura.

A pesquisa descobriu:

  • Uma refeição pronta "com pouca gordura" contém quase 6 vezes o açúcar da sua versão "com gordura"
  • Um iogurte "zero gordura" contém quase tanto açúcar quanto uma barra de chocolate "Mars"
  • Uma única porção de sobremesa "saudável" de maçã e amoras contém 5 colheres e meia de açúcar
  • Um litro de leite achocolatado "com pouca gordura" contém mais de 30 colheres de chá de açúcar, dos quais cerca de 2/3 são adicionados artificialmente
Aseem Malhotra, um cardiologista e diretor de ciências da "Ação sobre o Açúcar", um grupo de campanha, diz que as descobertas mostram que alguns produtos com pouca gordura estavam "entupidos de açúcar", apesar de propagandearem ser saudáveis. Ele disse que  os fabricantes aumentam os riscos de doenças crônicas ao "enganar" os consumidores a respeito dos ingredientes de tais produtos.

"Há evidência acumulada sobre o efeito nocivo do açúcar na saúde independente das calorias, com um estudo recente revelando que o consumo excessivo triplica o risco de doença cardíaca mesmo em não-obesos", ele disse.

"O governo tem o dever e a responsabilidade de proteger seus cidadãos das manipulações e excessos da indústria alimentícia, que só está interessada no lucro e não na saúde.

O acordo de responsabilidade permite às gigantes do ramo terem uma palavra na definição das políticas de saúde pública, falhou. É hora dele ser jogado fora."

Tam Fry, do Fórum Nacional de Obesidade e presidente da Fundação para o Crescimento da Criança, disse: "Apesar de a indústria nos dizer que o açúcar não deveria ser demonizado, ele é totalmente desnecessário nos volumes em que tem sido adicionado".

Ian Marber, um nutricionista, complementa: "Qualquer um que pense que comer comida com pouca gordura é tomar uma decisão saudável, está enganado. Há frases como 'baixa gordura' que gritam saúde e que tem sido uma feliz distração que a indústria alimentícia não parece ver qualquer razão para mudar".

Ativistas afirma que os volumes de açúcar na comida explodiram em anos recentes, em meio ao foco de reduzir os níveis de gordura, que tem sido tradicionalmente a culpada pelas doenças relacionadas à dieta. Eles dizem que produtos com pouca gordura contém açúcar como substituto à gordura, de maneira a compensar a perda de sabor.

A indústria nega as afirmações sobre o efeito do açúcar na saúde, dizendo que "o balanço das evidências" exonera a substância de contribuir para "doenças do estilo de vida". Fabricantes insistem que apenas incluem ingredientes em produtos low-fat quando as receitas requerem, e apontam o fato de que muitos produtos contém açúcar que ocorre naturalmente.

A OMS publicou novas propostas na quarta-feira, que retém as suas recomendações formais atuais de que não mais que 10% das calorias de um indivíduo venham do açúcar adicionado - o equivalente a 12 colheres de chá rasas para o adulto médio.

Entretanto, as diretrizes propostas afirma que uma redução para 5% - por volta de 6 colheres de chá - "iria ter benefícios adicionais".

Os limites aplicam-se ao açúcar "livre", que é qualquer açúcar que tenha sido adicionado à comida pelo fabricante, mais aquele presente no mel, xaropes e sucos de frutas. Ele não inclui o açúcar naturalmente presente no leite, frutas, legumes e verduras.

O anúncio da OMS veio após os seus especialistas considerarem um relato feito pelos cientistas da Universidade de Newcastle que disseram que o limiar mais baixo é necessário para reduzir o decaimento dentário.

Paula Moynihan, professora de nutrição da universidade, que liderou o estudo, disse: "Há uma necessidade de rótulos mais claros sobre a quantidade de açúcar que é adicionada a comidas e bebidas.

Uma dieta balanceada saudável, com frutas, legumes e verduras suficientes e poucas comidas e bebidas adoçadas não precisa conter mais que 5% das calorias sob forma de açúcares livres".

Ativistas querem que as novas diretrizes sejam adotadas no Reino Unido, onde o sistema de saúde pública está atualmente em concordância com as recomendações vigentes da OMS. Eles também querem que os rótulos dos produtos informem quanto do açúcar total é açúcar "livre".

O estudo envolveu a análise de níveis de açúcar em 100 produtos vendidos como "saudáveis", "baixa caloria", "pouca gordura", "zero gordura", "sem gordura hidrogenada" ou "gorduras reduzidas".

Dos analisados, quase metade tinha duas ou mais colheres rasas de açúcar, enquanto 26 continham 3 ou mais.

Em 20 casos, comparamos os itens com o equivalente "integral". Desses, nove continham mais a açúcar que o item "com gordura". Esses incluem uma refeição pronta de salsicha e purê de batata com 6 gramas de açúcar - mais de 5 vezes o contido no produto "normal".

Os produtos com os níveis mais altos foram um pudim de chocolate e um iogurte de amoras, ambos com 6.5 colheres de açúcar.

O açúcar contido naturalmente no leite  no leite é responsável por cerca de 60% do 16g de açúcar contidos em um pote de 125g de iogurte de morango low-fat da Tesco, e os demais 40% vem de açúcares adicionados, de acordo com estimativas feitas por nutricionistas.

Os representantes das marcas Marks & Spencer, Tesco, Sainsbury's e Waitrose, cujos produtos tiveram avaliação ruim, disseram que esses produtos estavam rotulados claramente, para permitir aos consumidores fazer escolhas bem-informadas. O porta-voz da Tesco ainda comentou sobre a sua sobremesa de maçã e amoras: "Não é um produto com pouco açúcar, e nem está rotulado assim".

O representante da Sainsbury's disse que apenas dois dos seis produtos na pesquisa continnham açúcar adicionado.

Barbara Gallani, diretora de ciência regulatória e saúde na Federação de Comida e Bebida, um órgão industrial, disse: "Onde os açúcares são incluídos em produtos, as diferentes fontes são claramente rotuladas na lista de ingredientes e a quantidade total de açúcares é provida na tabela nutricional".

Um porta-voz do Departamento de Saúde disse: "Ajudar as pessoas a comer menos calorias, incluindo açúcar, é um ponto-chave do Acordo de Responsabilidade e dos nossos esforços para reduzir a obesidade. A indústria alimentícia também concordou com um rótulo frontal para os produtos que vai ajudar as pessoas a manter o controle do que elas estão comendo e a fazer escolhas mais saudáveis".

Ainda acha que a gordura vai entupir as suas artérias? Leia aqui,aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui,aqui,aqui, aqui,aqui, aqui e aqui)
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